Carreira / Emprego - Você é dependente?
Certo dia, uma cliente me disse que estava gostando muito do seu processo de
autoconhecimento através da psicoterapia, mas que tinha medo de ficar
dependente. Acredito que, assim como ela, muitas pessoas também possam pensar
assim. Lamentavelmente, esta confusão impede que muitos iniciem um trabalho de
autoconhecimento que poderia ser muito gratificante para suas vidas.
Então, vamos esclarecer o que é dependência. Eu entendo que existem dois tipos
de dependência: a saudável e a patológica.
Quando nascemos, somos cem por cento dependentes da mãe ou sua substituta. Esta
é a dependência saudável, normal. Não fosse assim, não estaríamos vivos. Alguém
nos alimentou, cuidou da nossa higiene, pensou por nós, nos agasalhou, nos deu
carinho, nos acompanhou no berço ou fora dele.
Por volta dos quatro anos de idade, a criança começa a emitir sinais mais
evidentes de busca da autonomia. É chegada a hora de romper os laços simbióticos
saudáveis. A escolha da roupa, mesmo que sem combinar, é o exemplo típico.
Cada decisão em prol da autonomia é uma conquista que vai repercutir para o
resto da vida. Fico triste quando ouço depoimentos de mães que se declaram
cuidando de seus filhos já bem crescidos, como se fossem bebês. Isso ocorre por
dificuldade da mãe em sair da dependência saudável, quando os filhos crescem.
Ela não sabe o que fazer com o tempo livre e sente medo de não ser mais
importante na dinâmica familiar, principalmente, se ela não trabalha fora.
Então, a dependência deixa de ser saudável e passa a ser patológica. Esta
relação entre mãe e filho provavelmente será reproduzida nas demais relações
interpessoais ao longo da vida deste ser. A tendência é a pessoa buscar um
cônjuge que reproduza esta relação patológica, pois isso é confundido com amor.
Cuidar do outro está implícito na relação amorosa, mas sem a simbiose. E se for
falar de amor, vamos ver que a maior parte dos relacionamentos amorosos é
simbiótica, nas várias nuances ou graus. Uma recente novela global retratou
muito bem este tipo de patologia através de dois personagens, um casal
co-dependente, onde o ciúme e o controle atingiam tamanhos desproporcionais. O
resultado disso geralmente é o não crescimento ou o crescimento limitado de
ambos, que se sufocam dentro da gaiola dourada, onde um tranca o outro e fica
com a chave, nunca da própria gaiola, é claro! Tudo em nome do amor, ou da forma
como aprenderam a amar!
Quando alguém procura uma psicoterapia, geralmente quer realizar mudanças
internas e ou externas. O terapeuta entra numa simbiose saudável com o cliente,
como a mãe no início da vida. Ele dá informação para o cliente adquirir
autonomia emocional e proporciona o espaço seguro de reflexão, sem interferir
nas suas decisões. Isso não é dependência negativa ou patológica, pois o
cliente, sempre o cliente, é quem decide o que pensa e o que faz...
O tempo cronológico também é questionado como fator de dependência. O cliente
pode ficar a vida toda num processo terapêutico, sem depender dele. Trata-se de
uma outra etapa do processo, quando o cliente já adquiriu autonomia, pode
caminhar sozinho, mas decide ter o terapeuta como referencial para encurtar o
caminho de suas decisões conscientes e assim, promover seu crescimento de forma
preventiva. Afinal, o preço que pagamos pelos nossos erros e decisões hoje, é
muito alto. Muitas vezes, irreversível.
Geralmente, a preocupação com a questão da dependência no processo terapêutico
vem de algum membro da família incomodado com este intruso que está adquirindo
espaço na vida do cliente. Temos aí, um caso de dependência patológica familiar,
onde a presença do terapeuta ameaça e desestabiliza a patologia. O terapeuta, ao
perceber esta dinâmica, continua incentivando o crescimento do cliente, mas
ensina-o a dar proteção a quem está participando indiretamente do processo,
sofrendo com esta ameaça. Este é um ponto crítico, onde o cliente pode desistir
de crescer. Cabe ao terapeuta aceitar e respeitar os limites de cada um, sem
desistir de promover o crescimento naqueles que não desistem. Este é um dos
grandes desafios da nossa profissão.
Referência:
curriculum.com.br
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