Quantas pessoas você conhece que atuam em uma área diferente da que
escolheram? Muitas, não? Hoje em dia, é muito comum estudar e formar-se em uma
área, mas, por necessidade, acabar dedicando algum tempo da sua vida a uma
ocupação totalmente diferente - mas nem por isso, menos importante.
Foi mais ou menos isso que aconteceu com o paulista Edevaldo Tadeu. Com
formação em Publicidade e Propaganda, Edevaldo atuou por nove anos na área
financeira de um banco. "Tinha um salário muito bom, o que me fazia continuar
lá. Mas chegou uma hora que estava meio cansado de tudo, e surgiu uma proposta
para trabalhar como suporte na área de telemarketing em um portal da Internet. O
salário também era atraente, e eu fui. Mas acabei odiando o trabalho, que era
muito cansativo e desgastante. Foi aí que resolvi voltar para minha antiga área
de atuação, a Publicidade".
Sem nunca ter trabalhado na área, Edevaldo teve que suar a camisa,
literalmente, para ganhar experiência e poder colocar seu nome no mercado.
"Quando tentei voltar que percebi o quanto estava defasado", conta. Ele mandou
vários currículos, fez alguns cursos na área, até que conseguiu uma vaga em uma
empresa pequena de Internet, do ramo B2B (business-to-business). "Ganhava muito
pouco, mas encarei como um investimento, porque o que eu precisava mesmo era
trabalhar", explica.
Depois Edevaldo foi para uma multinacional, onde já ocupava o cargo de
webmaster. Ficou lá por dois anos e meio, até surgir uma oportunidade em uma
agência de publicidade. "Eu era o famoso garoto Bom Bril: fazia de tudo um
pouco, tinha 1001 utilidades". Telemarketing, venda e pós-venda dos produtos e
confecção dos sites dos clientes; tudo era responsabilidade de Edevaldo. "Era
muito cansativo, mas sem dúvida foi uma experiência incrível, pois pude passar
por todas as áreas da Publicidade em uma única empresa".
Com todo conhecimento já adquirido nessas empresas, Edevaldo resolveu dar o
que ele chama de "xeque-mate": montou uma empresa sua, especializada em
fotografia - outra de suas paixões - e na confecção de sites e propaganda pela
Internet - banners, CDROMs, e-mails e mala direta. O profissional conta que
montou seu negócio há dois anos, e desde então vem conseguindo se manter apenas
com os clientes.
Dependendo da área, voltar para a antiga carreira implica muito empenho e
dedicação. É o caso de setores mais técnicos e que mudam com muita rapidez, como
Informática e Internet. "O ideal é nunca ficar totalmente distante, mesmo fora
da área estar sempre a par das novidades, fazer cursos, conhecer quais as
empresas e produtos de destaque. Além disso, é fundamental investir pesado no
networking e procurar estar sempre em contato com pessoas da área", afirma Lúcia
Dermengi, gerente de Transição de Carreira da unidade de Curitiba da
Right-Saad-Fellipelli.
Ficar três meses fora do mercado já compromete um pouco a recolocação do
profissional. Por mais de seis meses, a situação se complica e a retomada
torna-se ainda mais difícil. "Quando isso acontece, seja por doença, falta de
posição no mercado ou qualquer outra necessidade, o ideal é ter muita calma e
desprender-se dos preconceitos. Você dá um passo para trás para dar dois lá na
frente. É um esforço que precisa ser feito e será recompensado", analisa Denise
H. Kamel, sócia da Selectus, consultoria especializada em aconselhamento de
carreira, headhunting e outplacement. O mercado entende como se você tivesse
parado de trabalhar, então é comum ter que começar de baixo, inclusive ganhando
menos do que no cargo anterior, para então ser reconhecido e galgar posições
melhores, como fez Edevaldo Tadeu.
Lúcia acrescenta que, no caso de alguém que ficou fora da área por muito
tempo e agora quer voltar, é aconselhável incluir uma carta junto ao currículo,
explicando as razões do afastamento. "Nesse caso, a honestidade é o melhor
argumento. Se o profissional não deixar nada claro, o selecionador pode ficar
fantasiando o que pode ter acontecido. Pode imaginar que a pessoa saiu da área
por incompetência, problemas com a empresa, enfim, é melhor abrir logo o jogo e
evitar especulações", alerta a profissional.
Será que valeu a pena? Edevaldo não titubeia na resposta: "Cheguei a ganhar
300 reais por mês, passei por muitas dificuldades pois estava acostumado a um
outro padrão de vida. Mas faria o que fosse preciso para voltar a minha área e
hoje poder fazer o que gosto", conclui ele.