Carreira / Emprego - Atenção, vagalumes: cuidado com as serpentes!
A ação do profissional “serpente” é mais perigosa que a do invejoso porque,
como diz a lenda, busca a destruição do brilho alheio. É aqui que podem entrar a
falta de ética, a deslealdade, a mentira e a conspiração destrutiva.
Conta a lenda que uma serpente começou a perseguir um vagalume. Este fugia
rápido, com medo, mas a serpente nem pensava em desistir. Essa perseguição já
durava dois dias. No terceiro dia, já sem forças, o vagalume parou e dirigiu-se
à serpente:
- Posso te fazer três perguntas?
- Não costumo abrir esse precedente pra ninguém, mas já que vou te devorar
mesmo, podes perguntar.
- Pertenço à tua cadeia alimentar ?
- Não.
- Te fiz algum mal?
- Não.
- Então, por que queres acabar comigo?
- Porque não suporto te ver brilhar!
Em toda empresa, em determinado momento, há pessoas que brilham. Podem não
brilhar sempre, podem nunca ter brilhado, mas um dia, por qualquer razão, são
inspiradas e apresentam aquela idéia salvadora, aquela performance imbatível,
aquela atuação irrepreensível. E ficam na “mídia” interna da empresa por algum
tempo, ouvindo elogios, sendo parabenizadas, recebendo taças ou bônus, com foto
nos quadros de aviso e entrevista no jornal interno, etc..
Sempre considerei que o brilho profissional não é exclusivo nem permanente. Não
é privilégio de uns poucos iluminados, nem se apresenta a toda hora. Inclusive,
há talentos fantásticos que resolvem “hibernar” e ficam por algum tempo “fora do
ar”., sem nenhuma brilhante “sacação” ou nenhum incrível resultado. Claro que
talentos nunca chegam à mediocridade, mas também nunca se mantêm permanentemente
geniais.
Conclusão: todo profissional terá seu momento e sua oportunidade de
brilhar – desde que (e esta condição é absolutamente indispensável) esteja
sempre atento e receptivo às oportunidades de superar dificuldades, vencer
obstáculos e aceitar desafios. É assim que as pessoas podem gerar, desenvolver e
mostrar brilho no trabalho, tornando-se “vagalumes”.
No entanto, como nada é perfeito, há os “serpentes”. Ou seja, há aqueles que
desperdiçam sua energia procurando minar ou extinguir o brilho dos colegas
“vagalumes”. Esse sentimento negativo, que leva alguns profissionais a
desqualificar o mérito alheio e às vezes, mais do que isso, a dificultar ou
boicotar o sucesso de outros, é algo mais danoso que a própria inveja – também
destrutiva e já alvo de um artigo anterior meu. Porque a inveja nem sempre é
extravasada e convertida em ação destruidora. Quase sempre a inveja fica
incubada, enrustida, alimentando-se de pensamentos negativos – e, na maior parte
das vezes, prejudica mais o próprio invejoso, porque mina sua auto-estima e seu
estoque de energia, que poderia ser canalizada de forma mais produtiva e
positiva.
A ação do “serpente” é mais perigosa que a do invejoso porque, como diz a lenda,
busca a destruição do brilho alheio. É aqui que podem entrar a falta de ética, a
deslealdade, a mentira e a conspiração destrutiva.
Quando uma empresa consegue criar e alimentar um verdadeiro sentimento de equipe
entre seus colaboradores, o brilho de um passa a ser motivo de alegria e orgulho
dos demais. É como num time de futebol entrosado: não importa quem faça o gol,
todos vibram porque é o time que está vencendo. Da mesma maneira, no trabalho os
profissionais “vagalumes” devem ser incentivados, e não perseguidos. Ou você,
sendo um jogador de talento, gostaria de fazer parte de uma turma de
“pernas-de-pau”?
É utopia supor que um dia a competitividade interna deixará de existir nas
empresas. Todos os profissionais que ali estão almejam fazer parte do pico da
pirâmide hierárquica, mas o espaço do seu pico é muito menor que o da sua base,
onde se concentra a maioria dos colaboradores. Portanto, já que a ciência
determina que dois corpos não pode ocupar o mesmo espaço, é claro que nem todos
que estão na base chegarão ao topo.
Fica a questão: quem chegará lá? Para responder a essa dúvida existem os
programas de desenvolvimento pessoal e profissional, os programas de avaliação
de desempenho, os planos de carreira, a busca e retenção de talentos, o estímulo
ao auto-desenvolvimento das competências e tantos outros instrumentos de
gerenciamento de pessoas e processos.
O brilho da competência é democrático: está ao alcance de todos aqueles que vêem
no trabalho um meio de realização e satisfação. Lugar de serpente faminta e
rancorosa é na selva – onde poderá curtir, sem machucar ninguém, a frustração de
não ter seu próprio brilho.
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