Na década de 90, muitas companhias de grande porte passaram a adotar a
"política de portas abertas", pela qual os subordinados tinham acesso direto aos
chefes sem formalismos nem burocracia. Deu tão certo que as empresas partiram
para uma tática ainda mais arrojada: derrubar as portas, as paredes, as
divisórias e quaisquer outros obstáculos à livre circulação interna dos
funcionários.
Os antigos escritórios compartimentados estão dando lugar a salões enormes,
capazes de abrigar centenas de profissionais, onde a hierarquia deixou de se
confundir com a geografia. Um gerente pode dividir a mesa com um dos comandados,
por exemplo. Todos se vêem e compartilham equipamentos comuns, das impressoras
às máquinas de café.
"No princípio, enfrentamos a resistência dos funcionários, especialmente
daqueles com mais tempo de casa, mas depois todo mundo passou a achar muito
bom", conta Eduardo Cunha, gerente industrial da Bayer. A farmacêutica alemã
está gastando 2,5 milhões de reais para reformar os treze andares da sede em São
Paulo, transformando-os em escritórios abertos. Uma conseqüência clara nos sete
andares que já passaram pela modificação pode ser constatada diariamente na hora
do almoço. "Hoje as pessoas saem para comer em grandes grupos, o que antes não
acontecia", descreve Cunha.
A Unilever, ex-Gessy Lever, gigante do setor de higiene e limpeza, aboliu as
tradicionais divisórias até do presidente e dos diretores. O resultado já
apareceu na pesquisa de clima organizacional, feita com todos os funcionários.
Um dos itens que receberam nota mais alta foi o do relacionamento com o chefe
(média 4,3, num máximo de 5). O período de adaptação na Unilever incluiu a
reeducação daqueles empregados que falavam alto demais. Para telefonemas
particulares ou assuntos que exijam discrição profissional, há salas privativas.
"Descobrir os limites da privacidade alheia foi um desafio para cada um de nós",
diz a gerente de recursos humanos, Maria Lúcia Ginde.
Entre os profissionais submetidos à mudança, o relato é sempre parecido. No
começo, o barulho atrapalha. Depois, aprende-se a ficar atento ao que realmente
interessa e a não se distrair com motivos banais.
Para obter sucesso numa empreitada dessas, no entanto, não basta sair por aí
derrubando as paredes. Um projeto de escritório aberto exige cuidadoso
planejamento, para identificar os departamentos que devem ficar próximos uns dos
outros. Na Bayer, essa fase consumiu três meses, com participação de todos os
funcionários. "Não é fácil encontrar uma fórmula que promova a integração e ao
mesmo tempo preserve a privacidade individual", conta o arquiteto Marcel
Monacelli, especialista em projetos de escritórios abertos. "Mas o resultado é
uma relação de trabalho muito mais direta, integrada e produtiva."
O que parece ser o último grito da modernidade é, na verdade, um retorno à
primeira metade do século XX, quando alguns escritórios tinham características
semelhantes: salas amplas, com mesas colocadas lado a lado. Da década de 50 em
diante é que começaram a surgir as divisórias e as salas privativas, símbolos do
poder de cada um dentro da empresa. Criaram-se tantos entraves que passou a ser
comum um funcionário dedicar a vida à empresa sem jamais trocar palavra com os
diretores - certamente uma péssima estratégia para quem precisa manter a equipe
sempre motivada.
Longe de ser um modismo, as grandes companhias estão descobrindo que o
desempenho dos funcionários pode melhorar bastante. Além de aumentar a
cooperação entre eles, a medida também é eficaz no combate ao desperdício de
tempo, um dos grandes males das corporações modernas. Sem a proteção de um
cubículo, os profissionais tendem a ser menos dispersivos - diminuem a
freqüência e a duração das conversas pessoais ao telefone e o tempo de navegação
inútil na Internet.
A soma desses fatores traz um significativo ganho de produtividade, como
demonstra um estudo recém-concluído pela Universidade de Michigan, nos Estados
Unidos. Os pesquisadores acompanharam durante dois meses o desempenho de seis
equipes de programadores de computador de uma indústria automobilística que
havia acabado de adotar os escritórios abertos. Esses grupos alcançaram, em
média, o dobro da eficiência daqueles mantidos no arranjo convencional. "Eles
criaram programas bem mais complexos que os desenvolvidos pelas equipes cujos
integrantes permaneceram isolados uns dos outros", descreve a professora
Stephanie Teasley, coordenadora da pesquisa. A diferença foi tamanha que os
resultados obtidos por uns só seriam alcançados pelos outros depois de mais dois
meses de trabalho.
A explicação, de acordo com a professora, é simples. Da mesma forma que a
maioria das categorias profissionais, programadores gastam boa parte do tempo em
atividades que incluem outras pessoas - e, quanto menos obstáculos houver para
isso, melhor será o resultado. "O grande segredo do escritório sem divisórias é
a intensa colaboração entre os profissionais. Quando surge um problema, todos
buscam juntos a solução e aprendem com esse processo", diz Stephanie.