Juros mais altos, que encarecem os financiamentos, não devem mexer com o
comportamento do consumidor brasileiro de baixa renda de comprar a prazo.
"Ele não deixa de comprar a prazo por causa do aumento de juros, porque ele
pensa no valor da parcela", explicou a psicóloga e pesquisadora Olga Tessari. De
acordo com ela, o que os consumidores das classes sociais mais baixas querem
saber é se "a prestação cabe no bolso".
A pesquisadora afirmou que o rendimento destas classes sociais têm melhorado nos
últimos anos, mas não o suficiente para que elas comprem à vista bens de maior
valor agregado.
Comportamento disseminado
Mas, de acordo com a pesquisadora, não são apenas os consumidores de baixa renda
que agem dessa maneira. "As camadas da sociedade mais esclarecidas sabem do
aumento de juros, mas o raciocínio é o mesmo", afirmou Olga, se referindo ao
fato de o consumidor analisar se a prestação cabe no bolso.
Um dos motivos que impulsa as compras a prazo, de acordo com ela, é o fato de o
comércio não dar tantas vantagens na compra à vista. "Se a pessoa consegue um
desconto, é pequeno, então força a pessoa a comprar a prazo. Dificilmente o
desconto chega a 10%", explicou.
O aumento da taxa básica de juros para 13%, promovido pelo Copom (Comitê de
Política Monetária) na semana passada, pode fazer os juros nas operações de
crédito ao consumidor passarem dos 7,33% para 7,39% ao mês, o que não deve
diminuir o consumo, de acordo com a pesquisadora.
Filosofia do imediatismo
Ainda segundo Olga, a filosofia brasileira do imediatismo acaba por fazer que o
consumidor se renda às vendas a prazo. "A pessoa pensa no agora, na satisfação
do desejo e se não tiver dinheiro para comprar à vista, vai comprar a prazo".
O brasileiro pensa que é melhor comprar a prazo e pagar três vezes o valor do
produto, do que não ter o bem, finaliza a pesquisadora.