Os ganhos acumulados pelo mercado de ações nos últimos anos têm atraído
muitas pessoas a viver dessa fonte de renda, abrindo mão, até mesmo, do próprio
emprego. Por meio do Home Broker, ferramenta que permite envio de ordens de
compra e venda de ações e outros ativos pela internet, eles negociam diariamente
para conseguir uma renda mensal.
A atitude de largar o emprego, que garante um salário no final do mês, para
viver dos rendimentos dos papéis, por sua vez, pode representar um risco alto e
não compensar. "A independência financeira é a primeira coisa a ser alcançada
para fazer a escolha de viver com os ganhos de ações", afirma o especialista em
planejamento financeiro Gustavo Cerbasi.
Independência financeira significa, neste caso, ter um grande patrimônio. "Tem
que ter dinheiro guardado para que, se tudo der errado, conseguir se manter bem
durante alguns anos. Aí sim pode deixar de trabalhar para investir". Porque,
segundo ele, o ciclo financeiro da vida começa com o acúmulo de capital, que vem
por meio do trabalho.
Administração de riscos
Como em qualquer outra carreira, quem garante renda com o mercado de ações
também precisa pensar no futuro, já que o mercado é "de risco", como denomina
Cerbasi. Daquele dinheiro acumulado para começar a investir, é importante tirar
uma parte para aplicação em outras formas de ganhar dinheiro.
"Não concordo que o mercado seja arriscado, é um termo que parece que está
sujeito à perda a todo o momento. É um mercado de risco, que pode ser
administrado. O cuidado que a pessoa tem que ter é de tirar uma parte para um
plano mais seguro, para que perceba a acumulação".
Por isso, ele disse que o interessado em viver de ações tem que proteger o
próprio patrimônio, colocando 50% do que possui em outro investimento, uma parte
em renda fixa e, no máximo, 30% sendo trabalhado no mercado de ações. "Imagina
um colapso: perde tudo, a carreira, o ganha-pão e o pé-de-meia".
Como se vive de ação?
Segundo Cerbasi, existem duas maneiras de "viver da Bolsa". A primeira é a
descrita acima, em que a pessoa acompanha o mercado negociando diariamente. A
segunda é juntar ações por parte da vida e formar um grande patrimônio. "Neste
caso, a pessoa não vive do rendimento dos papéis, mas dos dividendos das
empresas e tem que investir naquelas que não são caracterizadas pelo que podem
crescer, mas nas já consolidadas".
Nessa segunda maneira, é preciso acumular bastante em ações, num total de mais
de um milhão. "É um tipo de renda que se encontra em pessoas aposentadas e são
poucos os que vivem assim". O risco, neste caso, é o de a empresa quebrar e ter
abalos. "Por isso, tem que diversificar com cinco ou seis empresas".
Nas negociações diárias, por sua vez, os riscos apontados por Cerbasi foram a
limitação do conhecimento e a ganância. "Pessoas conscientes e disciplinadas são
melhores do que as que ficam neuróticas. O trader tem que entender que, por mais
que tenha conhecimento, há mudanças que causam perdas".
Largar o trabalho
Quando questionado sobre os pontos positivos e negativos de lagar o emprego para
viver dos ganhos do mercado de ações, Cerbasi contou um pouco sobre sua própria
história: trabalhava em finanças corporativas e, depois de acumulada grande
quantidade de dinheiro, resolveu largar a rotina do escritório e viver de
palestras e do investimento em papéis.
Atualmente, Cerbasi disse que tira 60 dias de férias por ano, o que só é
possível porque é muito disciplinado. "Existem pessoas que não conseguem ficar
longe do mercado, são os neuróticos".
O principal ponto positivo em largar a carreira para viver do mercado, de acordo
com ele, é a liberdade. "Vale a pena porque resgata o que a sociedade vem
tirando das pessoas". No entanto, também existe o lado negativo. "No começo,
sentia muito falta do amparo que uma empresa pode dar a um funcionário. Não
tinha bônus, décimo terceiro salário e outros benefícios", finalizou.