Salário e negociação na carreira - Profissional: quando e como recusar uma proposta de promoção?
"Em geral, as promoções são sugeridas a pessoas que, no dia-a-dia, se mostram
boas no que fazem e, por isso, têm um bom desempenho, sendo avaliadas
positivamente. Porém, as empresas costumam levar em conta apenas a parte técnica
e esquecem o lado psico-comportamental, igualmente importante", analisa o
consultor do IDORT para empresas em transformação organizacional, Carlos Alberto
Pescada.
Isso quer dizer que as empresas não avaliam a capacidade de o profissional
encarar o desafio, conduzir uma boa liderança, lidar com o ser humano e agüentar
a pressão. "Há profissionais ótimos, que parecem estar sempre preparados, mas,
quando estão diante de uma nova oportunidade, são enfraquecidos. Como dizem,
'amarelam'. E, na hora de recusar, o discurso mais usado é o do salário, quando,
na realidade, a pessoa está perdendo uma oportunidade única de aprendizado e
crescimento profissional. O salário, nesse caso, não pode importar tanto",
recomenda.
Quando é melhor dizer não
Há casos, no entanto, em que o melhor é recusar. Mas essa decisão envolve uma
análise muito profunda e responsável. O conselho de Pescada é elaborar um plano
de ação, que nada mais é do que um relatório com a auto-avaliação honesta do
profissional: tenho todas as competências requeridas para o cargo? Tenho os
conhecimentos técnicos e o perfil comportamental para ser um bom líder? Tenho
tudo a ver com os negócios da empresa? Conheço a concorrência?
"O profissional que recebeu a proposta de promoção deve elaborar um inventário
de seus ativos, questionar se o que ele tem hoje é o que é requerido para o novo
cargo. Se for um cargo de liderança, ele deve, principalmente, avaliar sua
capacidade de tomar decisões, administrar conflitos, dar feedback e cobrar as
pessoas de maneira adequada", explica o consultor.
Como dizer não
Com o plano de ação pronto, o profissional deve abrir o jogo e dizer que não
está preparado para realizar determinada tarefa ou para ser um líder. Isso
implica conversar por uma hora ou mais, dar uma explicação detalhada e
fundamentada, em vez de simplesmente dizer não.
"Mostrar o comprometimento nesse momento é fundamental. Dizer que o motivo é o
salário é o mais palpável, pois é uma desculpa mensurável e menos
constrangedora, mas recomendo admitir a verdade. Dependendo do 'timing', a
empresa irá esperar, investir na capacitação do profissional ou promovê-lo, mas
ciente de suas fraquezas", garante Pescada.
A honestidade é vital na hora da promoção e o motivo está escancarado nas
organizações: "Não é comum que profissionais recusem promoções, porém são comuns
as promoções que não dão certo. A empresa se equivoca, não analisa aquele lado
psicológico do profissional do qual falei, e se arrepende. Como ele assume o
novo cargo sem antes montar o plano de ação e sem ser sincero quanto às suas
deficiências, acaba sendo cobrado por resultados que não consegue atingir. Há
muita gente despreparada ocupando cargos de liderança. Não adianta aceitar a
promoção levianamente."
Retaliação
Caso o profissional não queira aceitar a promoção pelo fato de estar
insatisfeito com a empresa e seu estilo de liderança, a demissão voluntária deve
ser levada em conta, mas, antes, as hipóteses do medo e do despreparo devem ser
descartadas.
Além disso, se não forem explicados muito bem os motivos da recusa da promoção,
ele pode sofrer retaliações. O motivo é que a empresa irá entender que o
funcionário simplesmente não quer crescer e uma provável conseqüência é o
esquecimento. "Normalmente, as pessoas não irão tratá-lo mal, porém poderão
esquecê-lo. Além disso, nesse caso, o desligamento pode ser sugerido pelo
empregador."
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