Introdução
Em outubro de 2005, o deputado americano Tom DeLay foi acusado de lavagem de
dinheiro, o que o obrigou a renunciar ao cargo de presidente da câmara. Lavagem
de dinheiro é uma acusação séria. Em 2001, promotores americanos conseguiram
quase 900 condenações, com sentenças, em média, de 6 anos de prisão. No Brasil,
somente em 2005, a Polícia Federal abriu 919 inquéritos policiais contra
suspeitos de lavagem de dinheiro. O crescimento dos mercados financeiros
mundiais torna a lavagem de dinheiro mais fácil do que nunca, países com leis de
sigilo bancário são diretamente ligados a países cujas leis obrigam a
declaração, tornando possível depositar dinheiro "sujo" anonimamente em um país
e então transferi-lo para ser usado em outro país.
A lavagem de dinheiro acontece em praticamente todos os países do mundo e um
esquema simples geralmente envolve transferir dinheiro entre vários países para
esconder sua origem. Neste artigo, aprenderemos o que exatamente é a lavagem de
dinheiro e porque é necessária, quem lava dinheiro e como o fazem, e quais
medidas as autoridades estão tomando para tentar prevenir operações desta
natureza.
Tom DeLayEm outubro de 2005, um município do Texas
acusou o deputado Tom DeLay de lavagem de dinheiro e de conspiração para
violar leis eleitorais. A acusação de conspiração foi arquivada mais
tarde, e desde maio de 2006 o caso aguarda a data para o julgamento. No
Texas, candidatos a deputado não podem receber doações de empresas para
a campanha, proposta que tem sido discutido pelo Congresso Nacional no
Brasil. A promotoria alega que DeLay participou de um suposto esquema
para violar esta lei e esconder as origens corporativas do dinheiro que
acabou nas mãos de candidatos republicanos no Texas. O suposto esquema
de lavagem envolvia o envio de doações de empresas do Texas para a sede
do Comitê Nacional Republicano em Washington, que mandava o dinheiro de
volta para o Texas para ser usado na campanha. Dois assessores de DeLay
e seu principal contribuinte de campanha já confessaram serem culpados
em dois inquéritos separados para crimes de conspiração; de fraude
fiscal, de correspondência, de transferência bancária e de corrupção de
funcionários públicos.
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Princípios básicos da lavagem de dinheiro
Lavagem de dinheiro, em termos simples, é o ato de fazer o dinheiro que sai da
"Origem A" parecer que vem da "Origem B". Na prática, criminosos estão tentando
camuflar a origem do dinheiro proveniente de atividades ilegais para que pareça
que foi obtido de fontes legais. Do contrário, não podem usar o dinheiro porque
ele seria vinculado a atividades criminais e a polícia iria bloqueá-lo.
Os criminosos que mais precisam lavar dinheiro são traficantes de drogas,
estelionatários, políticos corruptos, funcionários públicos, membros de
quadrilhas, terroristas e golpistas. Traficantes de drogas precisam de bons
sistemas de lavagem porque lidam quase que exclusivamente com dinheiro vivo, o
que causa todo tipo de problemas logísticos. O dinheiro vivo não só chama a
atenção da polícia, como também é pesado. Um milhão de dólares em cocaína pesa
cerca de 20kg, enquanto um milhão de dólares em notas pesa cerca de 110kg.
O processo básico de lavagem de dinheiro tem três etapas:
- Colocação - nesta etapa, o criminoso coloca o dinheiro
sujo em uma instituição financeira legítima. Isto geralmente acontece na
forma de depósitos bancários em dinheiro. É a etapa mais arriscada do
processo de lavagem porque grandes quantias de dinheiro chamam muito a
atenção, e os bancos são obrigados a declarar transações de valor alto.
Assim, muitos fazem pequenos depósitos para despistar.
- Ocultação - é o envio do dinheiro através de várias
transações financeiras para mudar seu formato e dificultar o rastreamento. A
ocultação pode ser feita através de várias transferências de um banco para
outro; transferências eletrônicas entre várias contas de pessoas diferentes
em países diversos; realização de depósitos e saques a fim de alterar os
saldos das contas; mudança de moeda e compra de artigos caros (barcos,
casas, carros, diamantes) para mudar a forma do dinheiro. É a fase mais
complexa do esquema de lavagem, e seu objetivo é dificultar ao máximo o
rastreamento da origem do dinheiro sujo.
- Integração - nesta fase, o dinheiro é reincorporado ao
sistema econômico de forma legítima - parece que é proveniente de uma
transação legal. Isto pode ser feito através de uma transferência bancária
para a conta de uma empresa local na qual o criminoso "investe" em troca de
participação nos lucros; da venda de um iate comprado durante a fase de
ocultação; ou da compra de uma chave de fenda de US$ 10 milhões de uma
empresa da qual o criminoso seja proprietário. Neste estágio, o criminoso
pode usar o dinheiro sem ser pego em flagrante. É muito difícil pegar um
criminoso durante a fase de integração se não houver documentação durante as
fases anteriores.
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A lavagem de dinheiro é um passo crucial no sucesso de atividades terroristas
e de tráfico de drogas, para não falar em crimes de colarinho branco, e há
várias organizações tentando lidar com o problema. Nos Estados Unidos, o
Departamento de Justiça, o Departamento de Estado, o FBI, a Receita Federal e a
Agência de Combate às Drogas (DEA) têm divisões de investigação de lavagem de
dinheiro e das estruturas financeiras que sustentam esta prática. No Brasil, o
Ministério da Justiça cordena o Departamento de Recuperação de Ativos e
Cooperação Jurídica Internacional reúne cerca de 50 órgãos federais, estaduais e
municipais para alinhavar uma política comum de combate ao tráfico. Além disso,
o Brasil tem acordos bilaterais com vários países entre eles, Estados Unidos,
Argentina, Uruguai, Paraguai, Colômbia, França, Itália, Peru, Coréia do Sul e
Portugal.
Como os sistemas financeiros globais têm um papel importante na maioria dos
altos esquemas de lavagem, a comunidade internacional está combatendo a lavagem
de dinheiro de várias maneiras, como a Força-Tarefa de Ação Financeira para
Lavagem de Dinheiro (FATF), que em 2005 tinha 33 membros incluindo estados e
organizações. As Nações Unidas, o Banco Mundial e o Fundo Monetário
Internacional também têm divisões contra lavagem de dinheiro.
Métodos de lavagem de dinheiro
Em 1996, o economista Franklin Jurado, formado em Harvard, foi preso por
"limpar" US$ 36 milhões (cerca de R$ 86 milhões) para o traficante colombiano
Jose Santacruz-Londono. Pessoas com uma quantia muito grande de dinheiro sujo
contratam profissionais para cuidar do processo de lavagem. É um processo
complexo por necessidade: a idéia é tornar impossível para as autoridades o
rastreamento do dinheiro sujo durante a limpeza.
Há várias técnicas de lavagem de dinheiro que as autoridades conhecem e
provavelmente outras tantas que são desconhecidas. Aqui vão as mais populares:
- mercado negro de câmbio colombiano
Este sistema, que a DEA chama de "o maior mecanismo de lavagem de dinheiro
de drogas do hemisfério oeste" [ref - em inglês], surgiu nos anos 90. Um
oficial colombiano se reuniu com o Departamento do Tesouro americano para
discutir o problema dos produtos americanos que estavam sendo importados
ilegalmente para a Colômbia usando o mercado negro. Quando pensaram na
questão considerando o problema de lavagem de dinheiro de drogas, os
oficiais americanos e colombianos analisaram os fatos e descobriram que o
mesmo mecanismo servia aos dois propósitos.
Este complexo arranjo conta com o fato de que há empresários na Colômbia
- geralmente importadores de produtos internacionais - que precisam de
dólares para conduzir seus negócios. Para burlar os impostos do governo
americano para a conversão de pesos para dólares e as tarifas de importação,
estes empresários podem recorrer aos corretores de pesos do mercado negro
que cobram uma pequena taxa para conduzir a transação sem a intervenção do
governo.
Este é o lado da importação ilegal do esquema. Na lavagem de dinheiro
acontece assim: um traficante de drogas entrega dólares sujos para um
corretor de pesos na Colômbia. O corretor então usa dólares de drogas para
comprar produtos nos Estados Unidos para importadores colombianos. Quando os
importadores recebem os produtos (sem passar pelo radar do governo) e os
vendem em pesos na Colômbia, pagam o corretor usando os rendimentos. O
corretor então devolve ao traficante o equivalente ao original em pesos
(descontada a comissão), os dólares sujos do início do processo.
- depósitos estruturados
Também conhecido como smurfing, este método consiste na
quebra de grandes quantias de dinheiro em quantias menores e menos
suspeitas. Nos Estados Unidos, esta quantia menor tem de ser de, no máximo,
US$10 mil, a partir da qual os bancos americanos devem declarar a transação
ao governo. No Brasil, o valor é de R$ 5 mil por depósito. O dinheiro é
então depositado em uma ou mais contas bancárias por várias pessoas (smurfs) ou
por uma única pessoa durante um determinado período.
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- bancos internacionais
Lavadores de dinheiro geralmente enviam valores através de várias "contas
offshore" em países protegidos pela lei de sigilo bancário, o que significa
que não importa qual o propósito, eles permitem movimentação bancária
anônima. Um esquema complexo pode envolver centenas de transferências
bancárias de e para bancos estrangeiros. De acordo com o FMI, os paraísos
fiscais incluem as Bahamas, Bahrain, as Ilhas Cayman, Hong Kong, Antilhas,
Panamá e Singapura.
- sistema bancário alternativo
Alguns países da Ásia têm sistemas bancários alternativos legais e bem
estabelecidos que permitem depósitos, saques e transferências sem
documentação. São sistemas baseados na confiança, geralmente com raízes na
antiguidade, que não deixam rastro em papel e operam fora do controle do
governo. É o caso do sistema hawala no Paquistão e na Índia, e do
fie chen na China.
- empresas de fachada
São empresas falsas que existem somente para lavar dinheiro. Elas recebem
dinheiro sujo como pagamento por supostos bens e serviços que nunca
existiram na prática; simplesmente criam a aparência de transações legítimas
através de notas fiscais e balanços falsos. Muito comum no Brasil em casos
de financiamentos públicos desviados como no milhões de reais desviados da
Superintendência da Amazônia (Sudam) descobertas entre 2000 e 2002.
- investimento em empresas legítimas
Os criminosos às vezes colocam dinheiro sujo em empresas legítimas para
limpá-lo. Eles podem usar empresas grandes, como corretoras de valores ou
cassinos que manipulam tanto dinheiro fazendo o dinheiro sujo se perder no
meio, ou usam negócios menores, que usam bastante dinheiro vivo, como bares,
lava-rápidos, casas noturnas ou lojas. Estas empresas são as "empresas de
frente" que fornecem bens e serviços de verdade, mas cujo real propósito é
limpar o dinheiro do criminoso. Este método geralmente funciona de dois
modos: o criminoso consegue mesclar seu dinheiro sujo com receita limpa da
empresa - neste caso, a empresa declara receitas maiores do que as reais
para seu negócio lícito; ou o lavador de dinheiro pode simplesmente esconder
o dinheiro sujo nas contas legítimas da empresa na esperança de que as
autoridades não vão comparar os extratos bancários com os relatórios
financeiros da empresa.
- compra de bilhetes sorteados
No Brasil, um tipo de lavagem de dinheiro diferente é a compra de
bilhetes sorteados da loteria. Com a ajuda de funcionários da Caixa
Econômica Federal (CEF), banco responsável pelo pagamento dos prêmios, os
golpistas conseguem limpar o dinheiro dizendo que ganharam na loteria. Nesse
caso, o funcionário paga o valor do bilhete para o verdadeiro ganhador, mas
na hora de registrar o vencedor registra no nome do criminoso.
A maioria dos esquemas de lavagem de dinheiro envolve a combinação desses
métodos, apesar de o mercado negro de câmbio colombiano ser um sistema de balcão
único quando alguém contrabandeia o dinheiro até o corretor. A variedade de
ferramentas disponíveis para os lavadores de dinheiro torna difícil coibir esta
prática, mas as autoridades pegam alguns bandidos de vez em quando para chegar
até o esquema. No próximo capítulo, falaremos sobre duas operações de lavagem de
dinheiro descobertas pela polícia nos Estados Unidos.
Descobertos pela polícia
Lavagem de colarinho branco: Eddie Antar
Nos anos 80, Eddie Antar, dono da Crazy Eddie's Electronics, encobriu
milhões de dólares da empresa para escondê-los da Receita Federal. Este era
o plano original, mas ele e seus comparsas resolveram que podiam fazer
melhor uso do dinheiro se o devolvessem para a empresa disfarçado de
receita. Assim, os ativos declarados da empresa seriam inflados durante o
processo de preparação para a abertura de capital. Em uma série de viagens a
Israel, Antar carregou milhões de dólares presos ao corpo e dentro da sua
pasta. Aqui vai uma breve descrição de como funcionava o esquema:
Colocação: Antar fez uma série de depósitos separados em um
banco em Israel. Em uma viagem, chegou a fazer 12 depósitos em um único dia.
Camuflagem: antes que as autoridades americanas ou
israelenses notassem o saldo subitamente gigantesco na conta, Antar
solicitou que o banco israelense transferisse tudo para o Panamá, onde há
leis de sigilo bancário vigentes. A partir daquela conta, Antar conseguia
fazer transferências anônimas para várias contas estrangeiras.
Integração: Antar então transferia aos poucos o dinheiro
dessas contas para a conta legítima da Crazy Eddie's Electronics, onde o
dinheiro se misturava aos dólares legítimos e era documentado como receita.
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No final, Crazy Eddie lavou mais de US$ 8 milhões (cerca de R$ 19 milhões).
Seu esquema aumentou o valor inicial das ações na oferta primária e a empresa
acabou valendo US$ 40 milhões (R$ 96 milhões) a mais do que valeria sem o
esquema de adição de receita. Antar vendeu suas ações e saiu com lucro de US$ 30
milhões (R$ 72 milhões). As autoridades o encontraram em Israel em 1992, foi
extraditado para os Estados Unidos para ser julgado e foi condenado a 8 anos de
prisão.
Lavagem de dinheiro de drogas: Franklin Jurado
No final dos anos 80 e início dos anos 90, o economista Franklin Jurado, formado
em Harvard, coordenou uma operação para lavar dinheiro para o traficante
colombiano Jose Santacruz-Londono. O esquema dele era bem complexo. Em termos
simples, a operação funcionou mais ou menos assim:
Colocação: Jurado depositou dinheiro de venda de drogas nos
Estados Unidos em contas no Panamá.
Camuflagem: ele então transferiu o dinheiro do Panamá
para mais de 100 contas em 68 bancos distribuídos em países na Europa,
sempre em transações menores do que US$ 10 mil (R$ 24 mil) para não levantar
suspeita. As contas estavam no nome de fantasmas e das amantes e membros da
família de Santacruz-Londono. Jurado então abriu empresas de fachada na
Europa para documentar o dinheiro como receita lícita.
Integração: o plano era enviar o dinheiro para a
Colômbia, onde Santacruz-Londono usaria para financiar seus vários negócios
lícitos. Mas Jurado foi pego.
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No total, Jurado lavou US$ 36 milhões (cerca de R$ 86 milhões) em dinheiro de
drogas através de instituições financeiras legítimas. O esquema de Jurado foi
descoberto quando um banco de Mônaco quebrou, e, em seguida, uma auditoria
revelou várias contas que quando rastreadas levavam a Jurado. Ao mesmo tempo, o
vizinho de Jurado em Luxemburgo prestou uma queixa de barulho, pois Jurado tinha
uma máquina de contar dinheiro que funcionava a noite toda. As autoridades
locais investigaram, e a corte de Luxemburgo por fim declarou-o culpado de
lavagem de dinheiro. Quando terminou de cumprir pena em Luxemburgo, uma corte
dos Estados Unidos também o declarou culpado e ele foi condenado a 7 anos e meio
de prisão.
Quando as autoridades conseguem interromper um esquema de lavagem, a
recompensa é enorme, levando a prisões, apreensão de dinheiro e propriedades
sujos, e às vezes ao desmantelamento de uma quadrilha. No entanto, a maioria dos
esquemas de lavagem de dinheiro passa despercebida e grandes operações causam
sérios danos à saúde econômica e social.
A moeda da vezHá décadas, o dólar americano é a
moeda mais usada entre os lavadores de dinheiro. Sua popularidade é
devido a sua grande aceitação e ao volume de transações globais que usam
esta moeda - alguns milhões de dólares mudando de mãos não chamam a
atenção. Porém, o euro tem ganhado espaço na indústria da lavagem de
dinheiro desde que começou a ser usado, em 2002. No que se refere à
lavagem de dinheiro, o euro poderia ser a moeda perfeita: é a moeda
oficial de mais de uma dúzia de países, o que significa que circula em
grande volume e cruza fronteiras regularmente sem aviso algum. |
Os efeitos e o combate
Os efeitos da lavagem de dinheiro
Dependendo a qual agência internacional que você pergunte, vai saber que os
criminosos lavam cerca de US$ 500 bilhões a US$1 trilhão (cerca de R$1 bilhão a
R$ 2,15 trilhões) no mundo todo por ano. O efeito global é desequilíbrio em
termos sociais, econômicos e de segurança.
No âmbito sócio-cultural, obter sucesso na lavagem de dinheiro significa que
a atividade criminosa compensa e isso acaba encorajando criminosos a manter seus
esquemas ilícitos, pois eles podem gastar seus lucros sem repercussão nenhuma.
Isto significa mais fraudes e mais administração fraudulenta (ou seja, mais
trabalhadores perdendo suas pensões quando a empresa quebra), mais drogas nas
ruas, mais crime relacionado a drogas, esgotamento dos recursos para a polícia e
um desânimo geral por parte de empresários que não violam a lei e cujas empresas
não chegam nem perto dos lucros dos criminosos.
Os danos econômicos acontecem em uma escala mais ampla. Países em
desenvolvimento geralmente têm muitos problemas com a lavagem de dinheiro
moderna porque os governos ainda estão no processo de estabelecer regras para
seus recentes setores financeiros privatizados. Isto faz com que se tornem alvos
perfeitos. Na década de 90, vários bancos nos estados bálticos em
desenvolvimento acabaram recebendo gigantescos depósitos de dinheiro sujo, fato
que foi muito comentado. Clientes dos bancos sacaram seu dinheiro limpo com medo
de perdê-lo caso os bancos fossem investigados e perdessem o seguro. Os bancos
quebraram. Outros problemas que as economias mundiais têm de enfrentar incluem
erros na política econômica resultantes de setores financeiros artificialmente
inflacionados. Grandes fluxos de dinheiro sujo que entram em determinados
setores da economia, favoráveis para os lavadores de dinheiro, criam falsa
demanda e o governo age nessa nova demanda ajustando a política econômica.
Quando o processo de lavagem atinge um certo ponto, ou quando a polícia começa a
mostrar interesse, o dinheiro some de repente sem nenhuma causa econômica
previsível, e aquele setor quebra.
Alguns problemas, em uma escala mais local, referem-se à taxação e competição
entre pequenas empresas. Dinheiro lavado geralmente não paga imposto, ou seja,
no final todos nós temos que compensar a perda em receita fiscal. Além disso,
pequenas empresas legítimas não conseguem competir com negócios baseados em
lavagem de dinheiro, que podem bancar a venda de produtos por um preço bem mais
barato porque seu principal objetivo é lavar dinheiro e não obter lucro. Eles
têm uma entrada tão grande de dinheiro que podem até mesmo vender um produto ou
serviço abaixo do preço de custo.
Além dessas conseqüências a lavagem de dinheiro desviado de órgãos públicos
cria a óbvia queda dos investimentos estatais em projetos relevantes para a
economia de um país como projetos sociais, educacionais, criação de
infra-estrutura adequada, aparelhamento de órgãos públicos.
A maioria das investigações globais concentra-se em duas principais
indústrias de lavagem de dinheiro: tráfico de drogas e as organizações
terroristas. O resultado da lavagem de dinheiro é simples: mais drogas,
criminalidade e violência. A conexão entre lavagem de dinheiro e terrorismo pode
ser um pouco complexa, mas ela tem papel fundamental na sustentabilidade das
organizações terroristas. A maioria das pessoas que financiam organizações
terroristas não assina cheques e simplesmente os entrega para um membro do grupo
terrorista. Eles enviam o dinheiro por caminhos complexos, permitindo o
patrocínio do terrorismo e permanecendo anônimos. E, por outro lado, os
terroristas não usam cartões de crédito nem cheques para comprar armas,
passagens de avião e a ajuda de civis necessárias para conduzir o plano. Eles
lavam o dinheiro para que as autoridades não consigam rastreá-lo de volta até
eles e coibir seu ataque planejado. Interromper o processo de lavagem pode
brecar o financiamento a grupos terroristas.
Então a próxima pergunta é: o que as autoridades estão fazendo para prevenir
a lavagem de dinheiro?
O combate à lavagem de dinheiro
Brecando o fluxo
de dinheiro lavado
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É uma tarefa intimidante rastrear a origem de qualquer depósito quando cerca de
700 mil transferências eletrônicas são feitas no mundo, todos os dias [ref - em
inglês]. Qual dinheiro é sujo e qual é limpo? Nos Estados Unidos há 2 métodos
principais usados pelo governo para detectar e combater a lavagem: lei e
polícia.
Os Estados Unidos tratam do crime da lavagem de dinheiro em inúmeras leis.
Algumas delas são:
Lei de sigilo bancário (1970) - basicamente elimina a
movimentação bancária anônima nos Estados Unidos. Ela autoriza o Departamento do
Tesouro a forçar os bancos a manter registros que tornam mais fácil localizar
uma operação de lavagem. Isto inclui a declaração de todas as transações únicas
acima de US$10 mil (R$ 4 mil) e múltiplas transações totalizando mais de US$10
mil de ou para uma única conta no mesmo dia. O banqueiro que violar esta regra
sistematicamente pode passar 10 anos na prisão.
Lei de controle da lavagem de dinheiro de 1986 - transforma
a lavagem de dinheiro em um crime por si só ao invés de apenas um elemento de
outro crime.
Lei de supressão da lavagem de dinheiro de 1994 - obriga os
bancos a estabelecerem suas próprias forças-tarefa para se livrarem de
atividades suspeitas em suas instituições. A US Patriot Act de 2001
estabelece a obrigatoriedade de cheques identificados para os clientes de bancos
americanos e fornece recursos para o rastreamento de transações nos sistemas
bancários alternativos freqüentados por agentes financeiros terroristas. Para
uma lista mais completa das leis americanas de combate à lavagem de dinheiro,
confira FDIC: lei do sigilo bancário e o combate à lavagem de dinheiro (site em
inglês).
No BrasilO Brasil a lei Lei Federal 9.613/98,
de março de 1998, regulamenta as punições para o crime de lavagem de
dinheiro, cuja a pena é de três a dez anos de prisão, mais multa.
O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica
Internacional (DRCI), vinculada à Secretaria Nacional de Justiça (SNJ),
do Ministério da Justiça, coordena ações integradas de mais de 50 órgãos
federais, estaduais e municipais, além de fechar parcerias
internacionais. |
Além das leis cujo propósito é detectar operações de lavagem de dinheiro,
infiltrar agentes disfarçados também faz parte do combate. A Operação
Juno da DEA, que terminou em 1999, é um bom exemplo. A DEA conduziu uma
operação de infiltração de agentes que forneceu recursos para traficantes de
drogas lavarem dinheiro. Os agentes disfarçados da DEA fecharam negócios com
traficantes para transformar dólares de drogas em pesos colombianos usando o
mercado negro de câmbio colombiano. A operação terminou em 40 prisões e a
apreensão de US$10 milhões (R$ 24 milhões) em dinheiro do tráfico e de 3.600
quilos de cocaína.
Apesar destas vitórias, a verdade é que nenhum país sequer tem o poder de pôr
fim à lavagem de dinheiro - se um país é hostil à lavagem, os criminosos
simplesmente procuram outro lugar. A cooperação global é essencial. A
organização internacional mais proeminente neste aspecto é provavelmente a
Força-Tarefa de Ação Financeira (FATF), que tinha 33 estados-membros e
organizações internacionais registradas em 2005, inclusive o Brasil. A FATF
publicou as "40 recomendações para bancos" (atualmente há 49, mas o título
continuou o mesmo) que acabaram se tornando padrões de combate à lavagem de
dinheiro. As recomendações incluem:
- identificar os depositantes e fazer um levantamento do histórico deles
- declarar qualquer atividade suspeita, como por exemplo, se o histórico
mostrou que o depositante trabalha em uma siderúrgica e deposita US$ 2 mil
(R$ 4.800) a cada 15 dias, uma série de 10 depósitos de US$ 9 mil no período
de 2 semanas deveria acender a luz vermelha
- criar uma força-tarefa interna para identificar pistas de lavagem
As "recomendações" são, na verdade, mais regras do que dicas. A FATF mantém uma
lista de "países que não cooperam" ou que não colocaram as recomendações em
prática. A FATF estimula seus membros a não tratarem de assuntos financeiros com
estes países.
Outras organizações mundiais que combatem a lavagem de dinheiro são as Nações
Unidas, o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial, e grupos menores, como
a FATF do Caribe e o Grupo de Lavagem de Dinheiro para Ásia/Pacífico.
Enquanto os esforços mundiais estão aos poucos fazendo a diferença na
indústria da lavagem de dinheiro, o problema é gigantesco e os lavadores de
dinheiro estão ganhando muito. Países com leis de sigilo bancário, que
indiscutivelmente fornecem benefícios legítimos ao depositante honesto, tornam o
rastreamento do dinheiro extremamente difícil quando ele é transferido para o
exterior. Ainda assim, a lista da FATF dos países que não cooperam caiu de 15
países, em 2000, para 2 (Myanmar e Nigéria), em 2005. De acordo com os padrões,
este é um importante sinal de progresso. Somente o aumento da consciência e da
cooperação globais é capaz de impedir o sucesso da indústria da lavagem de
dinheiro.
Para mais informações sobre lavagem de dinheiro e tópicos relacionados,
confira os links na próxima página.