Negócios / Empreendedorismo - Sustentabilidade: qual a importância de se investir em uma empresa responsável?
Em tempos de discussão sobre o aquecimento global e responsabilidade social,
investir em empresas que adotam o caminho da sustentabilidade é de vital
importância para aqueles que têm uma visão de longo prazo.
"Além da solidez no curto prazo, estas empresas oferecem perspectiva de
sobrevivência no longo prazo", explica Fernando Almeida, presidente do Conselho
Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
Visão integrada
Antigamente, a questão econômica se distanciava da questão ambiental, mas no
cenário atual, nota-se o contrário. "No passado, a economia era vista num curto
prazo, mas hoje, antes de se investir, buscam-se empresas economicamente
viáveis, socialmente viáveis e ecologicamente viáveis. É uma visão integrada de
investimento a longo prazo", explica Maluh Barciotte, consultora do Instituto
Akatu para o Consumo Consciente.
Essa visão integrada permite que empresas responsáveis tenham mais consciência,
sem ser especulativas ou oportunistas. De acordo com Ricardo Young, presidente
executivo do Instituto Ethos, essas empresas têm uma transparência e um grau de
governança maior que outras. "Quando necessitam fazer algum ajuste, levam em
consideração todas as partes interessadas, incluindo os investidores", afirma.
Rentabilidade x responsabilidade
De acordo com Maluh, atualmente os investidores, além de pensarem em retornos
financeiros, analisam a responsabilidade da empresa antes de investir. "É o
pensamento no longo prazo. Aquelas [empresas] que prometem maiores ganhos, mas
que não se preocupam com a sustentabilidade, perderão no futuro. É isso o que
conta hoje", analisa.
"Costumo citar como exemplo as empresas que conseguem estar no seleto grupo do
Índice Dow Jones de Sustentabilidade de Nova York. Os balanços indicam que a
rentabilidade destas empresas é pelo menos 20% superior em relação as que
permanecem mais presas ao modelo tradicional", exemplifica Almeida.
Além disso, segundo ele, em 2020, 75% das empresas que estarão relacionadas no
S&P 500 não são conhecidas hoje. As cerca de 100 sobreviventes certamente serão
muito diferentes de agora. "A revelação desse prognóstico é um indicativo
bastante objetivo da importância de investir em empresas que adotam o caminho da
sustentabilidade", conclui.
Na hora de investir, como escolher a empresa?
Segundo Almeida, o processo de avaliação de uma empresa deve basear-se no
produto ou no serviço que ela desenvolve e como ela atua, como relaciona a sua
atividade econômica - que precisa e deve ser lucrativa - com as vertentes
ambientais e sociais.
Para Young, alguns pontos devem ser analisados, como:
- Qualidade da governança;
- Quais os mecanismos de governança que a empresa tem;
- Existe um código de ética?;
- O código de estica explicita os valores e princípios?;
- A missão da empresa é clara?;
- Relação com o governo e sociedade.
Para ajudar na avaliação, a Bolsa de Valores de São Paulo criou, em dezembro de
2005, em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, a IFC (International Finance
Corporation) e mais oito entidades, o Índice de Sustentabilidade Empresarial
(ISE).
O ISE reúne uma carteira composta por ações de empresas altamente ranqueadas em
responsabilidade social. Segundo publicação do Instituto Ethos, "o índice reúne
em uma carteira as ações de empresas que tenham forte desempenho financeiro e
atuação em questões sociais, ambientais e corporativas que possam ser
consideradas sólidas a longo prazo".
Segundo Young, as empresas do ISE tem tido rentabilidade acima da média do
mercado. "A exceção foi no início do ano, com a Petrobras e os problemas na
Bolívia", lembra.
De olho no futuro: a escolha é sua
Ser responsável é ir além das imposições legais. Pelo menos é essa a resposta
dada por 65% dos participantes de pesquisa do Instituto Akatu que perguntou, em
2005, "o que era uma empresa responsável".
Segundo o Maluh, o resultado mostra que as pessoas, consumidores/investidores,
estão cada vez mais preocupadas com o assunto, priorizando a questão em suas
escolhas. "O investidor deixou de ser expectador para virar protagonista de sua
vida", define.
De olho no futuro, muitas empresas têm tomado decisões que vão além da lei. No
entanto, cabe ao investidor avaliar até que ponto determinada ação é realmente
responsável ou apenas uma jogada de marketing.
Para Maluh, o investidor está cada vez consciente e seletivo, "sabendo separar o
'joio do trigo'".
Ricardo Young aconselha que cabe aos consumidores, fornecedores e investidores
estarem de olho, mas afirma que essas empresas acabam, de uma hora ou outra,
sendo descobertas, principalmente em função do risco, que aumenta assim que elas
deixam de ser confiáveis. "Mentira tem perna curta", finaliza.
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