Quando falamos em orçamento, temos em mente entradas e saídas de dinheiro,
sendo que, em geral, considera-se bom tudo aquilo que for entrada (receita) e
ruim tudo o que for saída (gasto). Esta análise, contudo, não leva em
consideração o fato de que alguns gastos, mesmo que pressionando o seu
orçamento, na verdade são positivos, pois podem levar a ganhos futuros.
Essa é a grande diferença entre o que chamamos de gastos de consumo e gastos de
investimento. Na hora de rever seu orçamento para futuros cortes, busque se
concentrar nos chamados gastos de consumo, preservando, na medida do possível,
os gastos de investimento.
Não distorça a realidade
É preciso ser realista e não tentar distorcer a definição cada vez que seu
impulso consumista incomodar. Em outras palavras, nada de considerar como gasto
de investimento aquela roupa diferente que você tanto quer. Não adianta
argumentar que a compra da roupa pode ajudar a melhorar a sua imagem e, quem
sabe, até causar uma boa impressão naquela entrevista de trabalho.
Se usar este raciocínio, praticamente todos os gastos poderiam ser classificados
como de investimento. Afinal, o simples fato de você ficar feliz - e certamente
vai ficar, se comprar aquilo que tanto deseja - pode garantir um melhor
desempenho no seu trabalho, e daí a conseguir um aumento de salário é um pulo!
Você pode até pensar assim, mas isso de nada vai adiantar no gerenciamento das
suas finanças. Portanto, o melhor é tentar entender um pouco melhor o que pode e
o que não pode ser considerado como gasto de investimento. Aqui vale lembrar
que, não é porque um gasto é considerado de investimento, que se torna argumento
suficiente para você fazer a sua dívida no cartão crescer um pouco mais.
Mesmo quando for investimento, faça as contas
Mesmo os gastos de investimento precisam ser analisados do ponto de vista
financeiro, ou seja, é preciso avaliar se este é o melhor uso para o seu
dinheiro, naquele determinado momento.
Se você puder arcar com eles à vista, sem se endividar, ou atrasar outros
pagamentos, eles provavelmente valem a pena.
Porém, se optar pelo financiamento, não deixe de se planejar. Avalie se o
retorno que você vai receber, ao incorrer neste gasto, justifica os juros que
terá que pagar no financiamento. Se a resposta for negativa, não há outra saída
senão esperar um pouco mais, juntar algum dinheiro e, aí sim, efetuar o
investimento.
Assim, podem ser considerados gastos de investimento aqueles relacionados com
educação e formação profissional, o que pode incluir desde a compra de um livro
que você precisa para fazer a sua tese de graduação, até a inscrição do curso
livre que resolveu fazer sobre trabalho em equipe, que acredita ser importante
para a sua integração na empresa.
Meio a meio?
Comprar um computador é investimento, desde que você não gaste mais do que o
necessário na compra do equipamento. Lembre-se que, neste caso, trata-se de um
equipamento cuja depreciação é muito rápida, ou seja, em poucos anos seu
computador pode estar obsoleto.
Invista na compra de um equipamento bom e confiável, mas deixe para comprar a
tela plana com máxima resolução em um segundo momento. Outra opção é creditar
como investimento o valor de um equipamento padrão, e como consumo tudo aquilo a
mais que gastar com o computador, porque você simplesmente precisa ter o melhor.
O mesmo vale para a compra de softwares caros para usar no seu computador. Se
existe uma versão freeware que atenda às suas necessidades, a decisão de
comprar o software pago foi uma decisão de consumo, e não necessariamente
um investimento, ainda que você precise do software em questão para os
estudos ou para seu trabalho.
O que fazer com o carro e o celular?
De maneira geral, carro não deve ser considerado investimento, pelo simples fato
de que bastou você sair da concessionária que ele já começa a perder valor. Este
contexto certamente não se enquadra no conceito de investimento, que prevê que o
gasto venha a gerar um retorno futuro maior do que a despesa efetivamente
incorrida.
Porém, existem situações em que o carro efetivamente é um instrumento de
trabalho, e aqui temos em mente os profissionais de venda, corretores etc. Isso
não significa que todas as pessoas que vão de carro trabalhar devem considerar a
prestação do financiamento como despesa de investimento. O fato de ir de carro
reflete um conforto, uma decisão pessoal sua, de preferir este meio de
transporte a tomar ônibus ou metrô.
Este não é o caso de um corretor imobiliário, ou de um taxista, por exemplo.
Para eles, a própria execução do trabalho depende de se ter um carro; um
raciocínio semelhante deve ser usado ao celular. Porém, assim como no caso do
computador, uma coisa é comprar um carro ou celular básico que permita a
realização do seu trabalho, a outra é comprar um modelo de última geração, como
foto digital, ou um carro com rodas de liga leve. Aqui também o correto é
separar o gasto que é necessário daquele que é consumo, e contabilizar de forma
separada no orçamento.
Imóveis, investindo no futuro
Já no caso dos imóveis, não há dúvida que as despesas, tanto a prestação do
financiamento, quanto os gastos com manutenção, devem ser vistos como despesas
de investimento.
Ainda que não seja recomendável incluir o imóvel onde se mora na sua carteira de
investimentos (afinal, se você reside nele não pode realizar o investimento
quando bem entender), isso não significa que a prestação da casa própria deva
ser incluída como despesa de consumo.
Isso porque, se você pesquisou e escolheu um bom imóvel, bem localizado e com
boa infra-estrutura, certamente ele tende a valorizar com o tempo, sobretudo, se
você efetuar uma manutenção constante. Assim sendo, no futuro, caso queira ir
para um imóvel maior, você pode vender o imóvel que possui, com um ganho, e
efetuar a troca.
E essa é a diferença em relação ao carro. No imóvel, ainda que seja possível
perder dinheiro, pois isso faz parte da arte de investir, mas existe uma chance
de se ganhar. Com o carro isso não acontece. Por melhor que seja o carro, e por
mais bem mantido, a menos que se trate de uma antigüidade, então certamente a
venda será por um preço menor.
Nosso objetivo não é fazer com que você não consuma, até porque isso não é bom
para a economia, o que, em última instância acaba prejudicando a todos nós, mas
sim que tenha mais cautela na hora de gastar. Lembre-se que, quanto mais você
favorecer os gastos com investimento, maiores serão as chances de, em um futuro
próximo, sobrar mais espaço no seu orçamento para os gastos com consumo. É só
fazer as contas.