Muita gente pergunta como funciona o já famoso indicador de
risco país, que ganhou as manchetes antes da eleição presidencial de 2002,
quando atingiu patamares recordes, e agora segue em forte queda, evidenciando a
melhor percepção da comunidade financeira internacional em relação ao Brasil.
Antes de descrever como o indicador criado pelo banco norte-americano JP Morgan
é calculado, vale a pena entender como funciona o mercado internacional de renda
fixa, no qual o indicador se baseia.
Governos emitem papéis no exterior
Muitos países, principalmente aqueles como o Brasil, que não conseguem emitir
títulos de dívida pré-fixada de prazo mais longo no seu próprio mercado
doméstico, acabam recorrendo ao mercado internacional. Estes títulos nada mais
são do que obrigações do Governo, no qual ele toma emprestado a uma determinada
taxa junto aos investidores.
Além do Brasil, muitos outros países emitem estes títulos no mercado, tentando
atrair a atenção e os recursos dos investidores internacionais. A maioria destes
papéis é emitida em dólares, embora emissões em outras moedas como Euros,
francos suíços, libras, iene e outros também sejam comuns. No jargão do mercado,
estes títulos são chamados de bonds, ou bônus.
Remuneração depende do risco
Como todos estes governos "competem" pelos recursos dos investidores, a taxa de
remuneração destes papéis depende do risco do país. Ou seja, um país que tem um
histórico de pagamentos em dia e sem sobressaltos, como os EUA, por exemplo,
capta dinheiro a uma taxa muito inferior a países com histórico recente de
"problemas de crédito", como Argentina, Equador ou Nigéria.
Esta remuneração é definida por uma taxa anual, ou seja, o quanto o governo tem
que pagar por ano para "convencer" os investidores de que vale a pena investir.
No caso dos EUA, a remuneração para um prazo de 10 anos fica na faixa de 4,50%
ao ano, enquanto no caso do México, considerado um risco intermediário, os juros
ficam em torno de 5,70%. Já no Brasil, mesmo com a melhora na perspectiva
registrada nos últimos meses, a remuneração supera 6,80% ao ano.
Vale lembrar que esta taxa pode mudar em intervalos muito curtos, através da
mudança no preço dos títulos. Com isso, se a situação piorar, os investidores
buscam vender seus títulos, levando à queda nos preços e no aumento da
remuneração. Caso a situação melhore, o inverso ocorre.
Títulos dos EUA servem como referência
Para facilitar a análise comparativa entre os vários títulos, o mercado resolveu
adotar um conceito de desempenho relativo, ou seja, comparar a rentabilidade dos
títulos com um papel de referência. No caso das emissões em dólares, a
referência fica com os próprios títulos do Tesouro norte-americano, que
apresentam baixo risco e grande liquidez.
Assim, o conceito de diferencial ou spread, usando o jargão do mercado,
foi criado. No caso dos papéis do México, o diferencial de juros é de, neste
exemplo, de 1,20% (5,70% pagos pelo México menos 4,50% pagos pelos EUA). Já na
situação brasileira atual, o spread fica em torno de 2,30% ao ano.
Como nem todos os diferenciais são tão grandes como aqueles do México e do
Brasil, o mercado costuma classificar este diferencial em pontos base. Isso nada
mais é do que multiplicar o retorno por 100, obtendo, no caso do Brasil, um
diferencial de 230 pontos base.
JP Morgan combina diversos papéis
Como cada governo que emite papéis no mercado externo em geral tem mais do que
um título no mercado, o banco norte-americano decidiu criar um índice, que
pudesse combinar todos estes papéis e obter um índice único, que pudesse ser
usado como uma medida de risco global.
Com isso, o JP Morgan criou, no final de 1993, o Embi+ (Emerging Markets Bond
Index Plus), ou Índice de Bonds de Países Emergentes, que mede o desempenho de
uma vasta carteira de países, atualmente em 21. Dentre eles, podemos citar
latino-americanos como Brasil, Argentina, México, Colômbia e Venezuela; europeus
como Rússia, Bulgária e Polônia; e africanos como Nigéria. Todos os países
incluídos são os chamados "emergentes", excluindo aqueles de risco menor, como
muitos dos países da Europa Ocidental, Ásia e América do Norte.
Além deste índice genérico, o banco criou também um índice para cada país,
incluindo apenas títulos do país em questão. Com isso, o JP Morgan criou uma
medida de risco-país, que, no caso do Brasil, é medido pelo Embi+ Brasil. Esse é
o tal do indicador de risco-país que tanto temos ouvido!