Depois de 14 anos na presidência da Apple, Steve Jobs anunciou que deixará o
comando da empresa. No caso dele, foi a saúde que motivou a interrupção de sua
carreira, mas, em muitos casos, a perspectiva de uma vida mais tranquila, livre
das pressões inerentes aos cargos estratégicos, faz com que os profissionais
optem por encerrar suas atividades no mundo corporativo.
O problema é que nem sempre as expectativas são confirmadas, e o que era para
ser um momento feliz, acaba se tornado uma grande frustração. De acordo com o
presidente da Sociedade Brasileira de Coaching, Villela da Matta, o grande
desejo de se livrar das pressões e viver uma vida diferente faz os profissionais
não planejarem sua vida pós-carreira e, por conta disso, surgem as decepções.
“Quando o profissional está estressado, ele quer primeiro descansar e depois
pensar no que fazer”, afirma Matta. No entanto, essa atitude está longe de ser a
melhor, pois pouco tempo após ter encerrado sua vida profissional, e já
descansado, a pessoa notará que aquela vida não era exatamente o que ela
esperava.
Segundo Matta, a lógica é a seguinte: a pessoa deixa sua posição, vai pra
praia, para o sítio, curte a família e pronto, está descansada. No entanto, é aí
que ela fica triste e aborrecida, pois vai perceber que não está mais utilizando
os seus talentos, além de sentir que perdeu sua identidade, já que era um
presidente, um diretor e, agora, não é mais nada disso.
Ciclo de autodestruição
Os profissionais que não planejam sua aposentadoria estão sujeitos a dois
problemas principais: o choque psicológico e a deterioração financeira. O
primeiro caso é o que Matta classifica como ‘ciclo de autodestruição’, pois, ao
perceber que nas suas férias eternas seus talentos não serão mais utilizados, o
indivíduo vai achar que não serve mais para nada.
A deterioração financeira é outro caso clássico, no qual as pessoas, ao
optarem pela aposentadoria, acham que o dinheiro e os bens que possuem serão
suficientes para sustentá-los o resto da vida e, portanto, não fazem um plano de
previdência. Quando chegam nessa situação, o profissional acaba tendo que
pensar, sob pressão, em como resolver o problema e é aí que muitas decisões
equivocadas são tomadas.
Assim, para que a aposentadoria não seja tão impactante, a recomendação é o
planejamento prévio. Se a decisão for realmente encerrar a vida de alto
executivo, Matta aconselha que se pense já com 5 anos de antecedência como essa
transição deverá ser feita e o que o profissional pretende fazer
profissionalmente.
Esse prazo será importante, pois permite que o profissional faça uma escolha
mais assertiva e comece a desenvolver as competências que vão ajudá-lo nessa
nova fase da sua vida. Caso opte por administrar uma franquia ou se tornar um
coach, é preciso começar a se preparar para que não tenha que tomar decisões sob
pressão.
“Nós só somos felizes se nos sentimos úteis. Esse é um princípio que não deve
ser deixado de lado", afirma o coordenador da Comissão de RH do Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa, Josmar Bignotto. Parar de trabalhar não
vai resolver os problemas, o importante é reconhecer que chegou o momento de
iniciar uma nova etapa na vida profissional.
Nem tudo é o que parece...
Estar estressado e precisando de um descanso físico e mental é totalmente
justificável, ainda mais para aqueles profissionais que alcançaram posições
estratégicas e que concentram sobre si diversas responsabilidades e obrigações.
No entanto, isso não isenta o profissional de se planejar e, até mesmo, buscar
ajuda profissional para esse momento.
Bignotto diz que muitos profissionais perto da aposentadoria acham que, ao
deixar a profissão, vão poder curtir a família, os filhos, os amigos e viajar.
Mas poucos observam que os filhos já não são mais os mesmos, e não será mais
possível curti-los como deveria ter sido feito anos atrás.
Os amigos também mudaram e, sobretudo, perderam aquela disposição que tinham
quando eram jovens. O próprio profissional já não é mais o mesmo de anos antes e
não terá mais energia de fazer tudo que acredita ser capaz. Por isso, é
interessante olhar para a nova fase sem ilusões.