Ficar cansado após um dia inteiro de trabalho é bem comum e natural,
principalmente em áreas e empresas nas quais a pressão faz parte da rotina. Mas
quando o cansaço começa a ser constante, ele pode indicar um sintoma de algo
maior e mais perigoso para o desenvolvimento do profissional: o
descontentamento.
Saber se a demora para se levantar de manhã, os atrasos, a perda de prazos, a
visão pessimista do ambiente do trabalho, dos colegas e dos líderes são reflexos
de um período de estafa ou se são fatores que indicam a insatisfação
profissional pode não ser fácil, pois as duas características ora se completam
ora caminham juntas, lado a lado.
Por isso, tentar fazer uma distinção entre o cansaço e o descontentamento
auxilia os profissionais a entenderem o que está acontecendo com a sua carreira
e a traçar estratégias para reverter o quadro. “O cansaço é mais sintomático,
porque é a energia que você gasta. Já a motivação é algo que nunca passa, porque
ela vem de dentro”, acredita o gerente de Projetos em Desenvolvimento de Pessoas
do Idort-SP, Danilo Afonso. Por mais que a rotina no trabalho seja cansativa,
suportá-la, mantendo o humor e o bom ritmo, fica mais fácil quando se gosta do
que faz, da empresa e do ambiente.
A diretora-presidente da Projeto RH, Eliane Figueiredo, afirma que os
profissionais devem ficar atentos às duas características, uma vez que tanto uma
quanto a outra afetam o rendimento no trabalho. “Eles geram uma mudança de
comportamento desse profissional”, afirma Eliane.
O que está acontecendo
E como saber se o que se tem é cansaço ou se o profissional está mesmo é
descontente? Para os especialistas consultados, o profissional deve olhar para
si mesmo antes de responder a pergunta. “Basta uma reflexão para ele perceber o
que está havendo”, ressalta Eliane. “Ele precisa tentar mapear as causas”,
ressalta. A partir das causas, é possível traçar um “diagnóstico” do problema. E
suas possíveis soluções.
Afonso explica que, de maneira geral, o cansaço é gerado por fatores
externos. Ele é consequência de diversas situações. Muitas vezes, a empresa
passa por um momento no qual são exigidos maiores esforços dos colaboradoras. Às
vezes, os projetos ficaram maiores e mais numerosos. Sem contar que existem
casos em que os próprios profissionais atraem para si mais trabalho.
“Quando o profissional quer ser o herói da equipe, ele vai ficar cansado”,
resume Afonso. Ele explica que o próprio mercado de trabalho, cada vez mais
competitivo, estimula esse tipo de comportamento. Mas essas situações devem ser
pontuais, ou se prolongar por períodos curtos. Caso contrário, o que poderia ser
resolvido com férias pode culminar em demissão, devido aos resultados fracos que
um profissional cansado pode gerar.
Diferente do cansaço, o descontentamento indica que os fatores externos não
estão alinhados com os fatores internos – com os objetivos de carreira e de vida
dos profissionais. Se situações de alto nível de estresse persistem na rotina de
trabalho, geram ainda mais estresse e mantêm os profissionais em um estado de
irritação por longos períodos pode ser que o cansaço tenha se transformado em
descontentamento. “É um ciclo que se retroalimenta”, afirma Afonso. “E é preciso
cortar esse ciclo”, diz.
Revertendo o quadro
Se, depois de refletir sobre as causas e o diagnóstico, ainda não estiver
muito claro para você, talvez seja o momento de se fazer uma pergunta mais
prática: você tem mais dias bons que ruins no trabalho? “Se a resposta for sim,
talvez o que o profissional sinta agora seja, de fato, um cansaço. Se a resposta
for não, ele pode estar descontente”, acredita Afonso.
Para o cansaço, existem uma série de possibilidades de reverter esse quadro.
De uma reorganização da rotina a ano sabático. “Se for um cansaço gerado por uma
situação pontual, a entrega de um relatório, por exemplo, é fácil de resolver”,
afirma Eliane, da Projeto RH. “Se ele é gerado pelo próprio perfil do
profissional, a mudança pode levar algum tempo”, diz a especialista.
“Agora se for um descontentamento, talvez esteja na hora de mudar”, ressalta
Eliane. Para saber o que é preciso fazer quando se está descontente, a resposta
dependerá de cada profissional. “Ele precisa pensar o que ele pode fazer para
mudar essa situação”, diz.
Ao buscar um caminho para tentar reverter os quadros, o profissional também
pode buscar auxílio no líder. “O líder não pode chegar interpretando o que está
havendo com o profissional. A posição mais correta é ele perguntar o que está
acontecendo”, completa Eliane.