Com o mercado aquecido, as empresas estão apostando alto para reter seus
talentos. E esses estão sempre a procura de melhores oportunidades. A junção
dessas duas situações faz com que muitas vezes as empresas façam uma
contrapoposta para manter em seu quadro de profissionais os melhores do mercado.
O que parece ser vantagem para o colaborador, contudo, pode se tornar
prejudicial, na avaliação do diretor de Operações da Robert Half – Rio de
Janeiro, William Monteath. “O profissional que aceita a contrapoposta perde
credibilidade”, afirma. Para ele, mesmo aceitando a contrapoposta, a empresa
sabe que o colaborador está de olho no mercado.
A consequência disso é que as empresas só retêm esse profissional por pouco
tempo, até que outro ocupe seu lugar. “É mais barato para a empresa segurar o
profissional para conseguir ganhar tempo para substituí-lo por outro”, avalia
Monteath.
De acordo com ele, somente no Rio de Janeiro, cerca de 80% das empresas têm
utilizado a contrapoposta quando seus colaboradores anunciam a saída. “O mais
recomendável é não aceitar e não se deixar receber a proposta”, avalia o
especialista.
Profissionais
Além de correrem o risco de serem substituídos no curto prazo, os
colaboradores que aceitam a contraproposta também perdem um pouco de espaço no
mercado, pois acabam não sendo bem vistos pela empresa que esperava contratá-lo.
“Há um prejuízo da imagem dele”, diz. “Uma vez que está tomada a decisão, fica
muito chato voltar atrás”.
Outro ponto levantado por Monteath é a questão da insatisfação. Se o
profissional aceitou uma proposta é porque está de alguma maneira insatisfeito
com o seu trabalho atual. Se ele aceita uma contrapoposta, pode ser que a
insatisfação não seja sanada. E a empresa que o está retendo sabe disso. “A
empresa passa a vê-lo como um profissional insatisfeito e ele pode acabar
ficando fora de projetos”, afirma.
Um outro fator que pode tornar a contrapoposta desvantajosa para o profissional
é o fato de que nessa hora ele é levado por promessas. “Na contrapoposta, a
empresa costuma fazer muitas promessas de melhorias e muito pouco é realizado,
frustrando o profissional”, avalia o especialista. “Se havia possibilidade de
aumentar salário, melhorar a qualidade de vida e oferecer melhores condições ao
trabalhador, por que fazer apenas quando ele está saindo?”, questiona Monteath.
Para evitar essa situação, o especialista recomenda que os profissionais, ainda
que insatisfeitos, esgotem todas as possibilidades que têm dentro da empresa e à
sua volta. Antes de aceitar outra proposta, verifique os motivos do
descontentamento, da insatisfação, e veja quais são as opções para saná-los na
empresa atual. Se, de fato, não houver mais saída, aceitar outras propostas é
saudável. Desde que não volte atrás da decisão.
Empresas
Tanto para as empresas que acabam perdendo muitos profissionais para a
contrapoposta como para aquelas que veem talentos saindo para outras
instituições, Monteath aconselha adotar uma série de ações a fim de evitar tais
situações. A começar por saber o que o profissional quer. “A empresa precisa
entender o que motiva o profissional para ter uma atitude mais estratégica”,
afirma.
Para ele, a falta de transparência entre a liderança e o colaborador é um dos
motivos para que profissionais busquem outras oportunidades. “Muitas empresas
não têm a percepção clara do nível de motivação do profissional”, diz.
Já as empresas que acabam perdendo profissionais antes mesmo que eles comecem a
atuar precisam ser mais agéis. “O mercado no Brasil está aquecido e a empresa
precisa ter essa agilidade na hora de contratar”, avalia.
Demorar meses para realizar um processo seletivo ou mesmo para chamar o
profissional é arriscado. “A lentidão do processo dá margem para que o candidato
possa receber novos desafios, projetos e até melhores condições na empresa em
que está”, diz.
Para Monteath, as empresas precisam investir na hora da contratação. “A proposta
salarial, dependendo do caso, deve ser agressiva. Ao menos alinhada com a
perspectiva do candidato”, conclui.