A gestão contemplativa de processos não é um modelo de gestão em si, pois o
que configura a gestão é o ato de agir, de movimentar situações em benefício de
um objetivo. Já a palavra contemplação traz o sentido de observação demorada
sobre os aspectos do objeto observado. Gestão contemplativa de processos é uma
alusão irônica a uma governança desorganizada, ineficaz e ineficiente, onde os
processos são observados e, às vezes, até analisados racionalmente, mas pouca ou
nenhuma ação é empreendida para modificá-los. Esse tipo de governança oferece
contemplação e inação, além de consequências deteriorantes da organização.
A característica mais marcante de uma gestão contemplativa é a falta de
lideranças. Existem gerentes, coordenadores e outros níveis, mas nenhum líder. O
próprio sistema repele lideranças, pois líderes são, por natureza, dados à ação.
Segundo Robbins, "a liderança está ligada ao enfrentamento da complexidade". Já
a noção de gerente está relacionada ao posicionamento em um determinado nível
hierárquico. E como liderança é compromisso e gerência é status, posição, a
gestão contemplativa de processos trabalha apenas com a segunda hipótese.
Adotando uma estranha filosofia de que todos os problemas são maiores do que
parecem, e de que antes mesmo de analisá-los já se deve envolver todos os
empregados da área - e até de outras áreas - na resolução, a gestão
contemplativa é intrinsecamente ineficiente. O gerente percebe o problema, e
como não tem perfil de líder, tende a não ter segurança suficiente na análise do
processo problematizado. Isso se traduz na reação em cadeia, que segue
hierarquia abaixo, quando então todos são chamados a contemplar o problema em
uma reunião.
A reunião urgente, convocada às pressas, agrupa pessoas dos mais diversos
níveis e perfis. O gerente do processo problematizado começa a discorrer sobre o
histórico do tema, fala de tudo que fez até o dia em que o problema aconteceu.
Estende-se ao ponto de convencer os demais de que se trata realmente de um
monstro, e que não há recursos para combatê-lo. Com isso, os objetivos que
nasceriam da lógica ficam inibidos, e um ou outro analista que tenha a solução
na ponta da língua pode sentir-se inseguro em proferi-la. Essa é a "reunião de
contemplação do problema", o coração da gestão contemplativa de processos.
Da reunião sai um par de objetivos ridículos, quase sempre envolvendo
dinheiro como uma vultosa contratação de consultoria, ou a compra de uma máquina
nova. Não são produzidos objetivos concretos, onde exista movimentação de
inteligência orientada a resultados. A noção de estratégia não é sequer
mencionada, posto que não existe estratégia sem objetivo claro e definido. Em
decorrência disso, não existe mudança planejada, que segundo Mintzberg, seria o
procedimento a ser seguido, tendo o "desenvolvimento como um esforço planejado".
Se não há objetivos claros e estratégias definidas, não há sincronismo. As
pessoas trabalham por si, fazendo o que acham melhor. A responsabilidade não é
compartilhada quando não há definição de papeis. O resultado disso é que aquele
problema do referido gerente que convocou a reunião de contemplação é
simplesmente deixado em segundo plano. Note-se que a reunião de contemplação
alcança seu objetivo: contemplar o problema, e nada mais.
A gestão contemplativa de processos causa danos quando adotada por uma
determinada área isolada. Exemplos desses danos são a falta de procedimentos
específicos para os processos, a própria falta de mapeamento de processos,
assincronismo e desinformação generalizada sobre quais atividades são
empreendidas pela área. E isso tudo se reflete na desorganização estrutural e
física da área.
Entretanto, quando esse modelo de governança é adotado pelo alto escalão, a
cultura organizacional deteriora-se, e junto com ela, a empresa. Para Prahalad e
Hamel, a abordagem de cultura organizacional já vem com uma carga negativa, pois
"a cultura prende a empresa ao passado e deve sofrer transformações para
propiciar o desenvolvimento de competências para o futuro". Os autores ainda
afirmam que "a cultura e as competências da organização precisam estar alinhadas
para que o objetivo estratégico se realize". Ora, se a gestão contemplativa de
processo não oferece objetivo micro nem macro, confirma-se o assincronismo, com
a consequente desestruturação da organização. E isso é, sem dúvida, absorvido
pela cultura.
Não é exagero dizer que as organizações que concebem a gestão contemplativa de
processos - essa alusão irônica à inação de alguns gestores -, concebem também a
burrice organizacional. É uma burrice que traz sérios prejuízos à sociedade,
principalmente quando se trata do setor público. Gestores despreparados,
ausência de líderes, gasto desenfreado de recursos, desperdício de talentos.
Infelizmente, muitas organizações ainda adotam esse modelo. Eu conheço uma, e
você?