Seja franco consigo: você se acha uma pessoa talentosa? E os outros,
reconhecem os seus talentos? É interessante que, ao gerar esta reflexão nos
treinamentos e nos trabalhos de coaching, percebo um nítido desconforto
nas pessoas. São poucos aqueles que assertivamente reconhecem serem detentores
de talentos. Sendo assim, convido você a dedicar alguns preciosos minutos de
reflexão sobre a pessoa mais importante em sua vida: você! O reconhecimento e o
investimento no talento são fundamentais para a satisfação de vida, uma vez que
orientam o equilíbrio das vivências pessoais e profissionais.
Mas, afinal, o que é talento? É tudo aquilo que você faz bem, se sentindo bem
e os outros percebem que você se destaca em relação às outras pessoas. Diferente
de uma competência, que é um conjunto de conhecimentos, atitudes e habilidades
que podem ser desenvolvidos por qualquer ser humano, o talento tem origem em uma
aptidão inata, geralmente aquela "travessura" que você fazia quando era criança,
e que muitas vezes ficou adormecida. Entretanto, se convertermos nossas aptidões
em competências, aí sim teremos desenvolvido os nossos talentos. Sendo assim,
seriam todas as pessoas talentosas? Sim e não! Digamos que TODOS têm um talento
iminente, que são as próprias aptidões. Estas, ao serem desenvolvidas como
competências, estabelecem a forma correta de comunicação com o mundo, criando
uma rede harmônica que reconhece este talento. Parabéns! Você conquistou, então,
seu talento eminente.
Apesar de parecer recente, este debate perpassa a história, e nos conduz à
Antiguidade, onde os deuses e os heróis gregos recebiam epítetos a partir de
seus talentos, como foi o caso de Aquiles, dos pés ligeiros. O mesmo acontece em
muitas tribos indígenas, onde a sabedoria dos xamãs é usada para
identificar os talentos desde a infância, estimulando as crianças a
experimentarem diferentes atividades e estudarem diferentes habilidades. Uma vez
identificados os seus talentos, elas são colocadas sob a tutela de mestres, até
o dia em que tenham tornado-se também mestres em seus talentos, vindo a apoiar
as gerações futuras.
Mas e agora, como fazer para descobrir os talentos potenciais guardados
dentro de nós? O processo envolve um exercício de auto-análise, recorrendo ao
que gostávamos de brincar quando crianças, o que as pessoas reconhecem de
positivo em nós em termos de desempenho, o que fazemos com muito prazer, sem
sentir o tempo passar, e aprendendo mais rápido que as outras pessoas. Também
existem testes psicológicos que apresentam resultados bastante consistentes. O
ideal é que você possa fazer este trabalho com a orientação de um profissional
capacitado e reconhecido.
Desenvolver os seus talentos já não é mais um luxo, é uma necessidade. A
ascensão da economia do conhecimento e a escassez de gente qualificada têm
exigido que as empresas fiquem cada vez mais atentas ao tema. Com um aumento da
produção superior ao crescimento da população economicamente ativa, será
necessário um aumento de produtividade que somente será alcançado por pessoas
talentosas. Resultados surpreendentes só são obtidos por pessoas com
competências surpreendentes. Por sua vez, estas competências são desenvolvidas
por pessoas que se dedicam mais do que a média dos seres humanos em geral. É por
isso que estar no talento é fundamental para o seu equilíbrio, pois a separação
entre trabalho e diversão fica cada vez mais tênue, e desta forma conhecemos
pessoas que "trabalham" quinze horas mais equilibradas do que funcionários do
"esquema padrão" trabalhando entre 8 e 17 horas.
A questão dos talentos também afeta as políticas públicas de educação.
Enquanto convivermos com um sistema educacional que focaliza as deficiências dos
alunos e pune os erros, em vez de estimular a criatividade dos jovens, teremos
adultos "batendo cabeça". Se quisermos ser a quinta economia do mundo em alguns
anos, de forma sustentável, é urgente este debate para a estratégia nacional.
E agora, quando perguntarem quais são os seus talentos, o que você vai
responder?