Especialistas ouvidos pelo R7 avaliam que o uso de
brinquedos para introduzir as crianças no mundo das finanças pode ser positivo,
mas a tradicional mesada ainda é a forma mais eficiente de levar os conceitos
financeiros à realidade infantil.
Mas uma boa preparação contra impulsos consumistas e endividamento
desenfreado depende também de outros fatores, como o entendimento sobre o
funcionamento das finanças e o acompanhamento dos pais, segundo avaliação do
consultor e autor de best-sellers sobre finanças pessoais Gustavo Cerbasi.
- A mesada tem pouca utilidade, por exemplo, se os pais não acompanharem o
uso desse dinheiro, se a criança ficar achando que o dinheiro é apenas para o
consumo. Ela é boa quando os pais conversam, estimulam a criança usando exemplo
do cotidiano dos adultos.
A presidente da SOS Consumidores - entidade de defesa do consumidor em São
Paulo -, Marli Aparecida Sampaio, também considera que a tradicional mesada
ainda é a solução mais indicada.
- Ela ensina a criança a poupar e não só a gastar como nos jogos. Com uma
renda, seja ela quinzenal ou mensal, ela aprende a ter uma noção de valor, para
saber se pode gastar na cantina da escola e poupar, por exemplo.
Inspirado no jogo “Monopoly” da Hasbro - empresa americana que produz jogos e
brinquedo - a Estrela lançou no Brasil o Banco Imobiliário, que segue a mesma
estratégia: a de acumular dinheiro para comprar o máximo de imóveis. Neste mês,
o jogo ganhou uma nova versão, que substitui o dinheirinho por máquinas de
cartões e usa nomes de empresas de verdade no tabuleiro.
A exposição às marcas e a transações financeiras terão efeitos sobre como a
criança passará a lidar com o dinheiro e suas contas pessoais no futuro, segundo
Claudia Kodja, gestora de investimentos e doutora em história econômica pela USP
(Universidade de São Paulo).
Para Claudia, a introdução de marcas é uma tendência cada vez mais forte para
o desenvolvimento de produtos, mas a presença delas no jogo pode ser
“problemática”, pois inibe a possibilidade de escolha do consumidor.
- A possibilidade de escolher entre as marcas faz parte da educação da
criança para a economia, enquanto a exposição das marcas específicas
impossibilita essa escolha.
Para vencer nos jogos de tabuleiros, como o Banco Imobiliário e o Monopoly, o
jogador precisa adquirir mais propriedades que seus adversários. Ganha quem
consegue poupar mais e fazer negócios mais lucrativos - mas, eventualmente, um
ou outro jogador acaba "quebrando".
Crédito
A psicóloga Valéria Meirelles destaca que a apresentação para crianças de
instrumentos financeiros como cartões de crédito ou débito pode se um “pouco
precoce”.
- Apesar de a criançada hoje já ser precoce [em razão da bagagem
tecnológica], não se pode perder de vista que a origem do dinheiro é concreta.
Será que a criança entende que, quando ela gasta R$ 20 com o cartão, a conta
corrente no banco fica menor?
Mesmo que com oito anos a criança já esteja apta a lidar com tecnologia, o
dinheiro é uma noção abstrata: o cérebro vai evoluindo ao longo do tempo e a
pessoa vais se tornando cada vez mais apta a compreender conceitos abstratos.
Uma criança ainda não está pronta a entender conceitos mais sofisticados, como o
dinheiro, afirma.
- Trata-se de uma questão neurológica. O cérebro vai desenvolvendo ao longo
do tempo; no caso da criança, a evolução ainda não está no ponto.
Já Cerbasi diz que introduzir a criança ao universo do crédito é positivo,
mas se ela conseguir entender os riscos de um endividamento alto. Para ele, o
uso de cartões em brinquedos como o jogo de tabuleiro da Estrela ajuda a criança
a entender um recurso que é utilizado pelos pais no dia a dia.