"Quem quer faz, quem não quer arruma uma desculpa". É com essa frase que o
consultor Christian Barbosa, especialista em gestão do tempo, define aqueles que
sempre encontram uma justificava para ações não realizadas. Seja adiar o projeto
de melhorar a fluência no inglês ou aquele antigo sonho de entrar na academia.
Será mesmo que o tempo é o grande vilão da vida moderna?
Para ele que foi vítima de seus próprios maus hábitos, chegando a ter um
tumor benigno resultado de uma rotina para lá de desgastante, o tempo pode
representar um grande aliado. Ter qualidade de vida, não significa abdicar de
promoções na carreira, mas de estabelecer prioridades.
Aos 30 anos, Barbosa trabalha dez horas por dia, vai à academia duas vezes
por semana, dá palestras pelo Brasil afora, atualiza seu blog e redes sociais e
ainda encontra tempo para cuidar dos dois filhos. Divide seu tempo entre São
Paulo, Santos e Nova York, onde mantêm as três unidades de sua consultoria, a
Triad do Tempo. Sua metodologia ficou tão conhecida que se transformou em livro,
a Tríade do Tempo (Editora Campus).
Veja abaixo trechos de entrevista que Christian Barbosa me concedeu:
As pessoas sempre reclamam que falta tempo. Como arrumar tempo em meio à
falta de tempo nesse mundo tão corrido?
As pessoas continuam com o discurso de que não sobra tempo. Costumo dizer que
quem quer faz, quem não quer arruma uma desculpa. Seria uma inverdade se
estivéssemos na época da escravidão. Como escravo, o tempo não é seu. O que não
acontece hoje. As pessoas costumam dizer: "Ah, meu chefe controla meu tempo".
Esquecem, no entanto, que o tempo é algo que elas mesmas precisam negociar. Vejo
isso também acontecer na vida pessoal.
Você pode citar alguns exemplos?
Sim. Costumo ver gente falando que não tem tempo para ir à academia ou fazer
inglês. Agora, se o médico dissesse que você vai morrer se não mudar, certamente
colocaria o tempo como prioridade. Minha própria história de vida é um retrato
do que quero dizer. Abri uma empresa muito cedo, aos 14 anos, que cresceu muito
rapidamente. Aos 18, confesso que vinha trabalhando demais e no limite do
estresse. Resultado fui parar no médico. Descobri que estava com uma úlcera,
além de um tumor benigno. O médico me disse que era questão de vida ou morte. Vi
que tinha chegado ao fim do poço. Aí, então, pensei: preciso mudar.
Tem muita gente que é expert em fazer várias coisas ao mesmo tempo. Essa
falta de foco não seria um grande vilão da produtividade?
Estudos mostram que profissionais multitarefa gastam de 30% a 40% mais de
tempo para fazer suas várias atividades. É uma ilusão achar que é possível tudo
ao mesmo tempo. A produtividade cai e há uma perda de desempenho. Ser
multitarefa não é algo que considero positivo. Por isso, defendo a importância
de se ter um planejamento. Mesmo quem trabalha 12 horas por dia pode ganhar, por
exemplo, duas horas e ficar com a família. Mas tudo vai depender de como você
planeja a rotina do seu dia a dia.
As empresas no Brasil já acordaram para a realidade de que é necessário os
funcionários administrarem melhor o seu tempo?
Sim, embora as ações ainda sejam incipientes. Alguns presidentes de empresa
me ligam querendo adotar uma estratégia mais eficaz, movimento que tem chegado
até nos conselhos. Agora, nos EUA essa preocupação é de fato latente. Os
problemas com produtividade começaram a aparecer diante do volume de urgência.
Reuniões mal feitas geram gastos de milhões de dólares. Para as empresas, tempo
é dinheiro.
O que você considera como um dos grandes vilões de tempo nas empresas e para
as pessoas?
Nas empresas, o excesso de reuniões, e-mails, senso de urgência e a falta de
método de produtividade. Para as pessoas, a internet, as interrupções (pessoas,
celular, etc), redes sociais e falta de método de produtividade.