Que o mercado de trabalho está competitivo muita gente sabe, e até "sente na
pele". Contudo, em muitas áreas, não são só vagas que estão escassas, mas também
talentos. Não raro, empresas “brigam” pelos melhores profissionais do mercado. E
receber propostas de empresas concorrentes está se tornando comum. Nessa
situação, o que fazer? Esperar uma contraproposta da empresa atual?
Na dúvida entre trocar ou não de emprego, a esperança de ver a empresa atual
“cobrir” a proposta da outra aflora em muitos profissionais. Afinal, ganhar mais
e se manter no mesmo cargo parece vantajoso. Contudo, esperar a contraproposta
pode ser um risco. “O profissional não deve esperar essa situação, porque ela
pode não vir, e ele ficará frustrado”, lembra a consultora em Recursos Humanos
do Grupo Soma Desenvolvimento Corporativo Jane Souza.
Para a gerente de Marketing da Monster Brasil, Andreza Santana, porém, a
negociação é parte dos processos de contratação. No entanto, isso não significa
que a cada proposta recebida o profissional deve falar com o líder e esperar um
aumento salarial atrás do outro. “É importante que ele esteja convicto de sua
decisão antes de conversar com seus gestores e colegas”, afirma Andreza.
Para Jane, analisar a proposta da outra empresa é parte do processo. Mas isso
deve ser feito somente pelo profissional. O líder só entra no cenário na hora
que o profissional vai informar o seu desligamento. “Esperar uma contraproposta
é chegar com uma expectativa que, se não suprida, pode gerar frustrações”,
acrescenta Jane.
Analisando a proposta
Antes de correr atrás do gestor para ver se ele quer pagar mais, o
profissional deve de fato ver essa proposta de trabalho com outros olhos e
tentar desviar um pouco a atenção da questão salarial. Uma remuneração
compatível com o mercado e com o trabalho exercido é um fator forte de
estimulação. Porém, não é o único.
Chances de ascensão dentro da empresa, um bom ambiente de trabalho e um plano
de carreira sólido também devem ser analisados. “Ele deve analisar e comparar
sua situação atual com a proposta”, afirma Andreza. “O profissional deve
analisar a proposta de plano de carreira e se a empresa passa por um processo de
expansão”, reforça.
Para a gerente, analisar perdas e ganhos é melhor que apenas ver cifras.
“Observar sua própria empregabilidade no mercado é fundamental para
posicionar-se no emprego atual ou nas empresas onde deseja trabalhar
futuramente”, comenta Andreza. Tudo isso faz parte do mundo corporativo. “O que
esse profissional quer e o que ele está buscando na carreira?”, para Jane, essa
é uma pergunta que deve ser feita a quem está nessa situação.
A empresa quer “cobrir”
Se, com tudo posto, o profissional decide pelo desligamento, então é hora da
conversa com o líder. Como reforçaram as especialistas, embora seja normal a
espera da contraproposta, o profissional não deve ter expectativas. Por isso, o
recomendável é apenas comunicar o desligamento, sem maiores detalhes, e saiba
que, quanto antes, melhor. “Manter o sigilo e expor a situação no momento certo,
para que a transição não prejudique projetos em andamento e trabalhos em equipe,
é de bom tom”, lembra Andreza.
Mas, se na hora da conversa, o gestor perguntar sobre a possibilidade de o
profissional ficar diante de um salário maior que o oferecido, o que fazer?
“Acredito que ele nem deve aceitar essa contraproposta”, enfatiza Jane. Para
ela, essa situação pode dar uma sensação de quebra. “Dá a impressão que ele
ficou pelo dinheiro. Fica uma sensação de ruptura”, diz Jane. Além disso, a
imagem desse profissional que aceitou a oferta pode ficar prejudicada diante do
líder e dos colegas.
A contraproposta, por que ela acontece?
Para as especialistas consultadas, é claro o fato de que as empresas devem
investir em retenção de talentos. “Ofertas de empresas concorrentes serão cada
vez mais frequentes”, lembra Andreza. “Com isso, as empresas deverão
preocupar-se de forma consistente com políticas de retenção de talentos.
Candidatos e colaboradores deverão ser tratados como clientes por suas
empresas”, reforça.
A falta de políticas dessa natureza, para Jane, é o fator que leva tantos
profissionais a esperarem por uma contraproposta. “Uma empresa que seja saudável
tem de trabalhar com as ferramentas disponíveis para que, mesmo tendo ofertas, o
funcionário não precise sair das empresas”, diz. “Se você tem um RH estratégico,
você faz com que a perda seja menor”, analisa.
Para ela, empresas que têm na contraproposta uma ferramenta de retenção não
tem uma política de manutenção dos profissionais forte. “A empresa tem de se
preocupar com isso”, completa.