Investir em títulos do Tesouro Direto é, reconhecidamente, uma estratégia
conservadora. Por se tratar de papéis públicos, é o próprio governo que garante
seu pagamento, no vencimento devido.
Porém, o investidor iniciante que entra no site do Tesouro Direto e vê os
vários títulos disponíveis, cujos nomes são siglas pouco intuitivas, pode ficar
confuso antes de fazer sua escolha.
O planejador financeiro pessoal Valter Police Junior simplifica dizendo que
os títulos do Tesouro são divididos, basicamente, em três tipos: os totalmente
pré-fixados, os parcialmente pré-fixados e os pós-fixados.
Qual o seu objetivo?
Antes de falar de cada um deles, no entanto, Police destaca que a escolha de
qualquer investimento exige uma análise de quais são os objetivos do investidor
que precisam daquele investimento para se concretizarem. Com isso em mente, ele
vai descobrir que algumas metas são de prazo mais curto e outras para mais longo
e outras ainda vão ficar no meio do caminho.
“Ele deve saber que os [investimentos] de longo prazo não vão exigir tanta
liquidez. E ele pode arriscar um pouco mais – pode ter uma desvalorização num
primeiro momento para que no longo prazo eles se demonstrem mais rentáveis”,
aconselhou. “Os mais arriscados são indicados quando se tem um prazo mais longo
para deixar os valores aplicados”, completou.
Apesar de “risco” ser um conceito bastante relativo – dado que o investimento
no Tesouro Direto é considerado seguro –, Police explica que existe o risco de
obter uma rentabilidade menor.
“O Tesouro Direto tem muitas opções para quem quer investir. Quem quer com um
prazo um pouco mais longo pode arriscar um pouco mais nos pré-fixados, que são
as LTNs (Letras do Tesouro Nacional)”, disse.
Como o pré-fixado pode ser mais arriscado?
Quando se aplica em um título LTN, cujos juros são pré-fixados, o investidor já
sabe desde o início qual será sua rentabilidade. “Como os juros hoje são altos,
os títulos ainda têm uma remuneração alta, mas há um fator de risco: imagine se
amanhã o governo precise subir a taxa básica de juro da economia: esse título
vai valer bem menos”, explicou o especialista.
Por outro lado, se a taxa de juro da economia brasileira cair, o título
estará preservado na taxa mais alta, previamente acordada com o governo.
Os outros dois tipos de títulos do Tesouro Direto são considerados mais
"seguros", porque acompanham as oscilações da economia.
É o caso das LFTs (Letras Financeiras do Tesouro), cuja rentabilidade
acompanha a taxa Selic. São os mais defensivos, na opinião do consultor, porque
neles se ganha exatamente o juro usado no mercado, com a inflação incluída.
“Quanto mais pós-fixado, mais defensivo”, alerta. “O investidor deve pensar:
quanto menor meu prazo, mais defensivo devo ser”.
Mais caro
É comum ver o valor de face dos títulos LFT bem maiores que os preços dos demais
títulos. Isso ocorre, segundo explica Police, porque todos sabem que no
vencimento desses papéis – 2013 ou 2015 – eles terão acumulado toda a Selic do
período. “Eles não são mais caros porque todos procuram, por serem mais
'legais'. O valor de face representa a projeção de lucro que os investidores têm
sobre o título”, acrescentou.
Já os títulos NTN-B são indexados ao IPCA (Índice de Preços ao Consumidor
Amplo). Em outras palavras, eles pagam uma taxa de juro pré-estabelecida mais a
variação da inflação oficial. “Seu título estará completamente assegurado contra
a variação da inflação”, afirma Police. Para ele, esses títulos que oferecem
maior prazo de vencimento são recomendados para o investidor que deseja manter o
patrimônio “a salvo”, tanto para a compra de algo quanto para sua aposentadoria.
Cupons semestrais
Um critério importante para ajudar na escolha do título do Tesouro Direto é o
pagamento do valor do papel. Algumas alternativas, como as LTN, NTN-B Principal
e LFT pagam o valor do título e a rentabilidade acumulada uma única vez: no
vencimento (ou caso o investidor venda o título antes de seu vencimento).
Já os NTN-C, NTN-B e NTN-F pagam o valor do título no vencimento e os juros,
em cupons semestrais. Esses papéis podem ser úteis, segundo Police, para aqueles
que querem ter mais liquidez. “Assim como você compra um imóvel para viver da
renda do aluguel, esse cupom semestral é parte de seu investimento. Você pode
usar esse dinheiro para o que quiser, seus gastos, ou mesmo reaplicá-lo”,
apontou. Os demais são para quem não liga em pegar o dinheiro só no final do
contrato. “Tem que ver qual é o objetivo do investidor”.
Carteira diversificada
Dadas as várias opções de títulos do Tesouro disponíveis para compra, Police não
descarta que o investidor pode fazer uma diversificação de seu portfólio. “Você
pode montar sua carteira tanto pensando no prazo do vencimento dos títulos
quanto na forma de rendimento”, salientou. Police lembra, inclusive, que nada
impede ao investidor vender seu título antes do vencimento. Neste caso, os juros
acordados inicialmente podem não render o previsto. Porém, pode-se obter lucro,
caso o valor de venda seja maior que o valor pago no momento da compra.
“O Tesouro Direto é uma opção bem bacana de investimento seguro. O investidor
deve estar sempre atento ao Imposto de Renda, pois essa é uma aplicação
tributável, mas é uma excelente alternativa e deve ser olhada com carinho pelo
investidor, sempre visando aos objetivos”, finalizou Police.