Currículo é um documento em que se reúnem dados relativos à identificação,
formação, experiência profissional e atividades anteriores de um profissional ou
candidato a uma oportunidade, e por natureza, ao menos na maioria dos casos, ele
reflete com fidelidade algumas das principais realizações do histórico de uma
pessoa, no que tange à sua empregabilidade.
Fila do emprego…
O Efetividade tem uma série de artigos explicando como fazer seu currículo,
boa parte deles com modelos baseados na minha própria experiência da época em
que eu selecionava pessoas para estágios e vagas de emprego, via processos
seletivos que começavam pela coleta e análise de currículos.
Vi muitas barbaridades em currículos nessa época, e decidi fazer algo a
respeito escrevendo meus próprios artigos sobre currículos e disponibilizando
meus próprios modelos de currículo, que alcançaram certo grau de sucesso –
incluindo aí o uso pela revista Veja em texto sobre o tema.
De vez em quando também algum leitor aprovado em processos seletivos aparece
para agradecer, e é por aí que efetivamente meço o sucesso da iniciativa.
Tem outro lado
Mas há outro lado nessa história, como ilustra um recente comentário de um
leitor em um artigo que escrevi para ajudar o pessoal que quer um curriculum
para primeiro emprego.
O artigo apresenta o básico, com truques para evitar a aparência de folha
vazia, e para valorizar a experiência acadêmica extra-curricular, como
participação em eventos, envolvimento em empresa júnior e diretório, estágios e
atividades voluntárias, na hora de ir ao mercado e tentar se diferenciar de
outras pessoas batalhando as mesmas vagas. O mesmo artigo ainda apresenta um
exemplo de preenchimento do mesmo currículo por uma pessoa que está cursando o
segundo grau.
Note, entretanto, que o comentário a que me referi acima não desejava nada
disso. Ele queria algo mais, e acredito que seja uma orientação que eu não
acredito que alguém possa oferecer eticamente: um modelo de preenchimento que
possa fazer com que pareça bom o currículo de alguém que tenha apenas se formado
na área em que quer atuar, com pouca ou nenhuma experiência a relatar.
Existe algo que pode fazer um currículo destes parecer bom, e é simples de
exemplificar: basta que haja um processo seletivo em que o requisito principal
seja a formação na área, e não tenha aparecido número suficiente de outros
candidatos formados.
Fora isso, o que ocorre é da natureza do processo: o currículo de quem não
tem experiência ou formação complementar naturalmente parecerá mais vazio do que
o de seus concorrentes que possam agregar alguma informação sobre realizações
profissionais anteriores, ou mesmo sobre realizações acadêmicas complementares.
Fica a dicaO que mais me surpreendeu no comentário a que me referi foi a natureza da
indignação expressa pelo seu autor.
Este é o modelo em questão
Explico: ele não estava lamentando a sua própria situação de ausência do
diferencial profissional que desejava possuir. Na opinião dele, o problema é que
o modelo de currículo apresentado no artigo (e reproduzido na imagem acima) era
de “um profissional com uma vasta formação e grande experiência”.
Acredito mesmo que quando a pessoa descreve desse jeito alguém como o
personagem daquele currículo (a “vasta formação” era a graduação completa e a
“grande experiência” era ter feito 2 estágios), possa ser bem mais difícil
escrever um currículo sem ficar com a sensação de “folha vazia”.
Mas a solução pra isso é fazer a escolha de aproveitar oportunidades de
experiência complementar durante a formação, ou em paralelo a outras atividades
profissionais, mesmo que isso custe um alto preço em termos de horas dedicadas
ao lazer ou a outras atividades mais prazerosas a curto prazo.
Nada de mentir no currículo
Se a escolha for outra, ou se for impossível colocar isso em prática (e às
vezes é), não tem jeito: seu currículo precisa refletir a sua realidade.
As alternativas seriam o popular “encher linguiça” (que o recrutador logo
percebe e avalia negativamente), auto-elogio sem evidências (que levam à
pergunta: se este candidato é tão bom, como não consegue apontar nenhum exemplo
do uso dessas qualidades que diz ter?), ou o pior pecado: mentir no currículo
(como estas “top 5″ mentiras de currículos, elencadas pela revista Info. Nada
disso ajuda, e o melhor ainda será ficar com um currículo modesto e verdadeiro.
Como fazer para enriquecer um currículoSe você é estudante, não deixe passar em branco nenhuma oportunidade de ter
algo a inserir no seu currículo daqui a alguns anos para estar em posição de
vantagem em relação a quem se limita a assistir aulas e fazer provas. Saiba que
isso não garante vaga a ninguém, mas pode aumentar bastante a sua chance quando
o processo seletivo for razoavelmente equilibrado.
Algumas das oportunidades às quais você deve dar atenção já foram mencionadas
aqui: atuar em empresas-júnior ou empresas-modelo mantidas pela instituição de
ensino, participar ativamente na gestão do diretório acadêmico, ser o tesoureiro
da comissão de formatura, monitor/bolsista em laboratórios, participar de
eventos relacionados ao seu mercado de trabalho, publicar artigos, realizar
estágios e outras atividades que permitam que um futuro avaliador perceba que
você tem iniciativa, sabe se virar, é esforçado e já teve alguma experiência de
vida que permitiu aprender a trabalhar em equipe, comunicar-se e outros
atributos que muita gente menciona no currículo, mas não consegue convencer (e
nem chega a ser chamado a uma entrevista para poder demonstrar).
Um modelo de currículo do Efetividade.net
Outras alternativas (que valem também para quem não é estudante) foram
mencionadas no nosso artigo “Emprego sem experiência? Existe solução” e permitem
sair da situação paradoxal em que ninguém lhe dá oportunidade porque você não
tem experiência, e você não consegue ter experiência porque ninguém lhe dá
oportunidade. Todas elas exigem alguma dose de dedicação, portanto o melhor é
começar cedo.
Finalmente, para quem já está no mercado de trabalho e busca melhorar a sua
empregabilidade, mirando no avanço da carreira ou em uma possível recolocação
futura, vale aproveitar o ensejo e consultar as nossas 12 dicas rápidas de
estabilidade e empregabilidade – que também passam pela atenção ao que colocar
no currículo.
Afinal de contas, a conclusão é simples: nenhuma dica de formatação pode
ajudar a criar valor no currículo de quem não tem diferencial em relação a
outros concorrentes. Como geralmente o único diferencial que está ao nosso
alcance obter são a formação e a experiência, é nisso que podemos nos concentrar
para ter uma reação positiva.