Na qualidade de consultor de finanças pessoais, posso afirmar que dezenas de
executivos e profissionais liberais com sérios problemas financeiros passaram
por meu escritório nestes últimos anos. Estou me referindo a engenheiros,
administradores de empresa, economistas, advogados e contadores e outras
categorias.
Indistintamente e independente do curso, pós graduação ou doutorado que
fizeram, todos eles, indistintamente, tinham dificuldades ou mesmo graves
problemas em administrar suas próprias finanças, chegando alguns poucos até à
fase derradeira que é a inadimplência em relação a compromissos financeiros
assumidos.
Ora, sabemos que executivos geralmente têm melhores salários que outras
categorias da população, além de receberem benefícios suplementares, imaginem
vocês então o que se passa com funcionários comuns que têm ganhos mais modestos
e devem fazer bem mais manobras para chegarem ao fim de cada mês com seus
limitados recursos.
Há três anos fui contratado para ajudar 40 funcionários de uma grande empresa
de expressão nacional. Ao cabo de seis meses de trabalho coletivo e individual
com cada um dos seus funcionários, aproximadamente 90% deles obtiveram alta ou
seja, daí em diante alteraram radicalmente o comportamento ante suas finanças
pessoais e melhor ainda, deixaram as dívidas para trás! Isso demonstra
cabalmente que é possível mudar a cabeça e a maneira de lidar com o dinheiro das
pessoas, basta educá-las financeiramente.
Existem inúmeros aspectos sociais e financeiros que envolvem o relacionamento
das pessoas com o dinheiro, tanto nas empresas onde trabalham, como em suas
vidas familiares, mas que aqui não cabem por limitação de espaço. Resolvi então
apenas comentar algumas implicações que as finanças pessoais, direta e
indiretamente tem em suas empresas e vidas privadas.
Não tenho dúvida alguma de que as finanças pessoais tem enorme importância no
desenvolvimento intelectual, social e econômico de uma família e por essa razão
deveriam ser tão importantes quanto o ensino de nossa língua, de matemática, de
geografia e de história, para citar apenas algumas disciplinas obrigatórias do
ensino básico e secundário.
O uso disciplinado de dinheiro cria responsabilidades e disciplina as
crianças desde tenra idade, que aprenderão a dar maior valor ao trabalho e
esforço desenvolvido por seus pais para dar-lhes o melhor possível.
Aqueles pais, – pelo menos os que já foram doutrinados a respeito da
administração racional dos seus orçamentos domésticos -- deveriam no dia a dia
exercer o controle sobre a disponibilidade e uso de seus próprios recursos.
Sabemos que a vida moderna tende a influenciar o indivíduo a desejar tudo que é
anunciado pela TV, por exemplo ( sonhos de consumo etc) mas principalmente ante
aquilo possuído por amigos, familiares e companheiros de trabalho (inveja, ciúme
etc.) e que isso praticamente nunca é possível devido a limitação dos ganhos e
do patrimônio possuído por cada um.
A pressão psicológica existente neste nosso meio capitalista para “consumir”
e
“se endividar além do razoável”, é enorme e por essa razão são bem poucos os
que conseguem resistir ao apelo de gastar mais do que ganham. É nessa hora que a
empresa, na qual o indivíduo endividado trabalha, passa a sofrer as
conseqüências.
O indivíduo trará consigo para o trabalho as angústias do seu lar. As 8 horas
que passa na empresa serão total e fortemente influenciados pelas 16 que passa
fora dela.
É sabido que enorme percentual de brigas familiares são ocasionados por
problemas em relação a dinheiro, tanto com parceiros como com os próprios
filhos.
Pensando na dívida não paga ou na angústia por não poder adquirir determinado
carro eletro doméstico etc, tão desejado por ele, a esposa ou seus filhos, o
executivo ou profissional liberal provocará mais acidentes de trabalho, baixará
sensivelmente sua própria produtividade e mesmo criatividade e utilizará mais os
departamentos médico, de assistência social, ou programas de empréstimos
pessoais da empresa. Enfim é o estresse e suas perigosas conseqüências, tão
presente nos dias atuais.
Não tenho nenhuma dúvida, como planejador financeiro, que os levantamentos
existentes a respeito do estresse, acidentes de trabalho, problemas com drogas e
alcoolismo, caso fossem investigados a fundo e tabulados convenientemente,
trariam como causa inicial e básica, problemas relacionados com dinheiro ou a
falta deste, no núcleo familiar.
Tenho constatado que grupos empresariais que deram maior ênfase àquilo que se
passa fora da empresa e se preocupam com seus funcionários, tem bem menos
problemas internos do que aquelas que não dão a mínima pelo bem estar de seus
funcionários, fora dos limites da empresa. Existem até empresas que fazem
questão absoluta de não se imiscuir com aquilo que se passa fora dos limites
dela. São teorias obsoletas, existentes em empresas retrógradas.
Como é muito difícil, quase impossível alterar currículos escolares, proponho
que as empresas que se dizem importar com seus funcionários, iniciem programas
de educação financeira para funcionários e familiares, incluindo os filhos
desses funcionários.
Tenho certeza que o próprio funcionário dará mais valor à empresa na qual
trabalha, pois sentirá que a direção se importa com ele e está verdadeiramente
interessado a ajudá-lo em conquistar melhor qualidade de vida.
Muitas vezes, não é questão de dar aumento de salário ao funcionário, mas
simplesmente ajudá-lo a se organizar melhor financeiramente em seu orçamento
doméstico.
Conheço uma excelente planejadora financeira especializada no assunto e que
já ensina esta disciplina para crianças em algumas das escolas de São Paulo.
Porque não fazer a mesma experiência nas empresas, ensinando funcionários e seus
familiares a melhor cuidar do dinheiro incluindo obviamente as crianças nos
programas?