"Cuidado para não cair e quebrar um braço". "Desça daí agora ou vou chamar
seus pais". Quem teve uma infância divertida, tem grandes chances de ter ouvido
essas frases várias vezes, ao tentar ou subir em uma árvore, seja apenas por
pura aventura para acompanhar os amigos ou, então, para provar o sabor de uma
fruta madura e doce. Com o passar dos anos, muitas pessoas deixam de desfrutar o
contato com a natureza como faziam e passam a ter a lamentável visão de que
subir em árvores, por exemplo, é apenas travessura de criança.
No entanto, nem todos os adultos pensam assim. Na Víqua, por exemplo, os
gestores não apenas têm a visão de liderar equipes é sinônimo de distribuir
atividades, mas também participar de atividades diferenciadas que os façam
refletirem sobre o amplo leque de competências que fica sob a responsabilidade
dos líderes. Eles vêem as alturas dos troncos das árvores, por exemplo, uma
oportunidade de aprendizado que pode muito bem ser aplicada no dia-a-dia
organizacional. Isso não é uma brincadeira, muito pelo contrário. Essa visão das
lideranças tomou-se uma alternativa de desenvolvimento a aproximadamente seis
meses - período em que o arvorismo foi introduzido em treinamentos vivenciais
voltados para os líderes.
Localizada em Joinville, no Estado de Santa Catarina, a Víqua foi fundada em
fevereiro de 1995 e atua no setor de plásticos. Atualmente conta com o
comprometimento de 270 colaboradores, oferece mais de 600 itens, sendo 92% deles
pioneiros em sua categoria. De acordo com Lidiane Radloff, coordenadora de
Recursos Humanos, para que a postura estratégica da companhia tenha sucesso é
imprescindível que os líderes estejam preparados para exercerem seus papéis
junto às suas respectivas equipes. "Sendo o patrimônio humano o pilar de
qualquer organização, as lideranças precisam ser preparadas para fazer a gestão
de suas equipes, alinhadas sempre à filosofia da empresa e para tanto é
essencial que os gestores sejam estimulados ao autodesenvolvimento", acrescenta.
Para trabalhar tanto as competências técnicas quanto comportamentais, a
empresa implantou o PDL - Programa de Desenvolvimento de Lideranças - coordenado
pela área de RH. Uma peculiaridade do programa voltado para os gestores é que em
cada encontro promovido, a coordenação procura trazer profissionais de outras
empresas que tenham em seu currículo experiência como líder e que contribuam
para o desenvolvimento das lideranças da Víqua. Por essa razão sempre é
trabalhado um tema específico que pode ser técnico ou comportamental. Essa foi a
melhor alternativa para estimular a troca de experiências entre os profissionais
e, dessa maneira, aumentar também o network dos participantes do
programa.
Dentre os principais objetivos do PDL, destacam-se: alinhar as ações das
lideranças com a filosofia da empresa; promover o autodesenvolvimento constante
dos gestores; implementar uma política de RH descentralizada; ter líderes
focados e alinhados aos mesmos objetivos da organização; propiciar um ambiente
de trabalho onde a comunicação nas equipes e, entre elas, seja clara e
transparente; bem como incentivar a cultura de resultados. "Além das
competências técnicas dos líderes, valorizamos as competências comportamentais
como comunicação transparente, espírito empreendedor, maturidade e diversidade",
complementa Lidiane Radloff.
Vale destacar que todos os líderes, coordenadores, gerentes e até a direção
da companhia são convidados para participarem do PDL. O interessante é que esses
encontros, além de promoverem o desenvolvimento dos líderes, estimulam ainda a
integração entre os gestores de toda a empresa, independentemente do nível
hierárquico. Participam ainda das atividades do PDL os profissionais de nível
operacional, tático e estratégico.
Atividades fora do ambiente de trabalho - Um fato
interessante é a Víqua levar seus líderes para treinamentos fora do ambiente de
trabalho. A coordenadora de RH da empresa explica que os dois principais
objetivos da organização tomar esse posicionamento são os seguintes:
- Lembrar que a liderança não é exercida única e exclusivamente no ambiente de
trabalho. Nesse sentido, Lidiane Radloff destaca que é fundamental lembrar que
os membros da equipes também exercem a liderança: no ambiente familiar, entre um
grupo de amigos, na escola, no bairro e que ser líder é um exercício constante
de aprendizado e reflexão.
- Fortalecer a integração entre o grupo, pois esses treinamentos propiciam
sempre uma troca de experiências e um diálogo muito aberto entre todos os
participantes.
Arvorismo e lideranças - Quando questionada o motivo de
introduzir a prática do arvorismo nos treinamento dos gestores, Lidiane Radloff
destaca que a escolha foi feita porque essa é uma atividade muito desafiadora e
que associa fatores físicos e emocionais. "Apesar dos nossos líderes serem
jovens e adorarem desafios, todos se depararam com algumas dificuldades no
decorrer da atividade: medo de altura, ausência de força física, ansiedade,
falta de conhecimento das ferramentas e até mesmo de comunicação", diz, ao
acrescentar que isso foi muito bom, pois todas essas dificuldades, no momento da
discussão da atividade são transcritas para o dia-a-dia dos líderes. Além disso,
todos os profissionais têm a oportunidade de conhecer as dificuldades de seus
pares e de fazerem uma reflexão de como é importante o trabalho em equipe, para
que os resultados finais sejam conquistados com êxito. É uma atividade de
autoconhecimento muito rica, que reflete na performance organizacional.
A coordenadora de RH da Víqua afirma que existe uma relação muito grande
entre liderança e a prática do arvorismo, pois muitas das competências exigidas
nessa atividade (que muitas pessoas praticam como esporte radical) são as mesmas
aplicadas no exercício da liderança como a comunicação transparente. No caso
específico do PDL, no arvorismo a comunicação entre os membros da equipe é
essencial para que todos possam enfrentar os desafios propostos e no dia-a-dia
do líder.
Outra ligação entre o arvorismo e o exercício da liderança está focada no
conhecimento dos recursos de trabalho. Ao subir em uma árvore alta, por exemplo,
saber utilizar as ferramentas é essencial para a segurança do indivíduo. No
cotidiano, trabalhar corretamente com os instrumentos oferecidos pela
organização é fundamental para a otimização das tarefas diárias e a devida
orientação da equipe. No arvorismo conhecer o objetivo de cada etapa é
indispensável para se saber o que fazer em determinada situação. Na liderança
acontece o mesmo, pois sempre surge a indagação: como levar a equipe a atingir
resultados, sem saber onde queremos chegar ou mesmo por que chegar?
"Através da prática do arvorismo, assim como no dia-a-dia da liderança, é
muito importante respeitar as diferenças. Cada um tem seu tempo, sua dificuldade
e seu ponto forte. Temos que tirar o máximo de cada potencialidade das pessoas.
Quando os gestores praticam a atividade ao ar livre, eles identificam como é
fundamental para qualquer trabalho em equipe saber incentivar os liderados. Além
disso, nesse tipo de atividade o gestor é conscientizado de como é relevante
saber quais são os limites dos profissionais e ter coragem para reconhecê-los e
até mesmo superá-los", resume Lidiane Radloff.
Benefícios - Depois que os gestores da Víqua passaram a
"subir em árvores", a organização observou que a prática trouxe benefícios
diretos e um dos mais destacados foi o fortalecimento no relacionamento entre os
próprios lideres. Isso ocorreu, porque eles tiveram a chance de se conheceram
melhor e a comunicação ficou mais clara entre os líderes e suas próprias
equipes.
Para Ivonette da Nova Cardozo, diretora da CC&G Gestão de Pessoas,
consultoria que atuou no PDL da Víqua, a atividade lúdica, ao ar livre, permite
que as pessoas que trabalham juntas se conheçam melhor, além de acelerar alguns
processos de transformação pessoal e de equipe. O contato com a natureza e o
fato de sair do ambiente de trabalho, defende a consultora, estimula a
integração da equipe e a mudança de comportamentos.
O que é o arvorismo? O arborismo ou arvorismo é uma
atividade desenvolvida originalmente por cientistas a exemplo dos botânicos,
biólogos, ornitólogos, entre outros, com o objetivo de estudar o ambiente da
copa das árvores. Para facilitar o acesso e a circulação nas árvores, os
estudiosos utilizavam cordas e montavam passarelas de observação nos troncos dos
vegetais de maior porte. Gradativamente foram desenvolvidos vários tipos de
travessias entre as árvores, sendo mais utilizadas as cordas e, posteriormente,
os cabos de aço quando se desejava montar estruturas para uso mais intenso. Essa
atividade dos cientistas estimulou que outras pessoas buscassem inspiração nessa
prática e a partir de, então, surgiu a utilização puramente recreativa desses
acessos e travessias, combinando a observação privilegiada do ambiente natural
das copas das árvores com uma atividade física moderada, ambas consideradas
atividades de grande prazer pelos seus simpatizantes.