O economista paulista Rodrigo Ramos, de 34 anos, começou a trabalhar na Eli
Lilly do Brasil em 1995 com uma idéia fixa: não ficar ali por mais de cinco
anos, já que acumular experiências em diferentes companhias era uma regra
informal no mercado. Hoje, prestes a completar 11 anos na multinacional
farmacêutica, o gerente de produto faz parte do time de veteranos. O que o fez
mudar de plano foi a valorização da 'prata da casa', uma das principais
características da companhia. 'Nossa política de emprego aposta em relações de
longo prazo e estimula a mobilidade interna', diz Flávia Darzé, gerente de
recursos humanos da Lilly.
Mobilidade é palavra-chave para quem pretende seguir o exemplo de Rodrigo. 'Se
você tem novos desafios e continua aprendendo, não há nada de errado em começar
e terminar a carreira numa mesma empresa', afirma Gutemberg de Macedo, diretor
da Gutemberg Consultores, em São Paulo. 'Você pode e deve ficar na companhia
enquanto a experiência agregar conhecimento', reforça Irene Azevedo, sócia na
consultoria Mariaca & Associates e professora da Brazilian Business School,
também na capital paulista.
É isso o que vem acontecendo na carreira de Rodrigo. Ele começou como trainee da
área de logística e passou para o RH, onde desempenhou várias funções até ser
contratado. Três anos depois, conquistou o cargo de coordenador e, em seguida,
assumiu a gerência da área, só que na subsidiária canadense, em Toronto. Um ano
mais tarde, voltou disposto a mudar de setor e aceitou fazer propaganda dos
produtos Lilly, para aprender as técnicas da área de vendas e marketing. Doze
meses à frente, tornou-se gerente de produtos e, nesse cargo, já mudou do
segmento de saúde da mulher para o grupo de diabetes, estratégico para a
companhia. 'É como se eu tivesse vários empregos em um só', afirma Rodrigo. Como
ele, vários outros profissionais da Lilly vêm construindo uma longa e
diversificada carreira na empresa. Na área de vendas, por exemplo, os
profissionais têm, em média, 11 anos de casa.
Outra organização que aposta na retenção de talentos é a Bosch Brasil, com sede
em Campinas, interior de São Paulo. A empresa atribui a essa característica uma
sólida cultura empresarial. Nada menos que 87% de seus gerentes e diretores
foram formados lá dentro. Um deles é o engenheiro paulista Luís Pereira, de 52
anos, há 27 na Bosch. Diretor-geral da fábrica de velas automotivas no distrito
industrial de Aratu, em Salvador, Luís começou a carreira na empresa como
engenheiro de produção. 'Ao longo de todos esses anos, estive na mesma
organização, mas em negócios bem diferentes.' Entre as diversas experiências do
executivo na mesma companhia está uma temporada de um ano e meio na matriz, na
Alemanha. Luís conta que a empresa sempre proporcionou condições para que ele se
preparasse para assumir os novos desafios - incluindo uma especialização em
administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas, em 2001. Segundo o RH da
companhia, é exatamente esse investimento no desenvolvimento dos profissionais
que faz com que a equipe seja tão fiel à Bosch. 'O tempo médio de permanência
dos executivos na casa é de 17,3 anos', diz Arlene Heiderich, gerente de
recursos humanos. 'E sabe quantos profissionais deixaram a empresa
voluntariamente nos últimos três anos? Apenas um.'
Fuja da zona de conforto
Até aí, tudo bem. O problema é que nem todo profissional é pró-ativo como
Rodrigo e Luís. E nem toda organização realmente oferece oportunidades de
desenvolvimento contínuo. Em alguns casos, uma longa carreira na mesma empresa é
sinônimo de acomodação. Por causa disso, alguns profissionais são vistos como
obsoletos e avessos a riscos. 'Se pego o currículo de um executivo qu e está há
dez anos na mesma empresa, sem diversificar sua atuação, fico desconfiado.
Parece que ele tem medo de enfrentar o mercado', diz Günter Keseberg, sócio da
consultoria de recursos humanos Kienbaum, em São Paulo. 'Ter 20 anos de
experiência é diferente de ter um ano que se repete 20 vezes. É preciso avaliar
as reais chances de crescimento para sua carreira.'
Tem mais. Mesmo que você construa uma história dinâmica na empresa, restringe
suas possibilidades de mudança ao ficar muito tempo num único endereço. 'Quanto
mais tempo na mesma empresa, menores as chances de ser chamado para uma nova
posição fora dali. A imagem que fica é a de que é muito difícil tirá-lo de onde
está', afirma Sergio Averbach, diretor regional da Korn/Ferry para a América do
Sul.
Vale a pena?
O que pesar antes de estabelecer uma longa relação com a empresa:
Vantagens |
Desvantagens |
- Acúmulo salarial
- Maior estabilidade
- Saber que o seu trabalho é valorizado
- Consolidar alianças internas
- Representar uma espécie de memória viva da organização
- Dominar a cultura da empresa
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