Há empresas que preferem profissionais com estilo arrojado, os visionários,
inovadores e, principalmente, críticos. Mas elas são poucas, segundo o consultor
sênior de Human Capital e Remuneração da Mercer, consultoria global de Recursos
Humanos, Fabiano Cardoso. "Acho que é o discurso que a maioria delas adota, de
ênfase aos profissionais inovadores, que agregam. Mas isso é só na teoria. No
dia-a-dia, a gente percebe que não é bem assim".
Ele conta que as pessoas que têm muita vontade de mudar as coisas para melhor e,
por isso, fazem críticas, são isoladas pela própria equipe ou podadas pelo
líder. "No longo prazo, cria-se uma situação que não se sustenta. Tem chefe que
é assim, que até usa o discurso da inovação, da importância de trazer pessoas
com idéias novas. Mas, no final das contas, se não fizer tudo direitinho, do
jeito que ele quer, não dá certo".
Profissionais precisam aprender...
Mas se a tendência nas empresas é de ter procedimentos engessados, crenças
fortes, que não se alteram e chefes centralizadores, qual seria a solução? Saber
o que falar, com quem, quando e como. "Colocar as idéias para a pessoa certa e
na hora certa é importante, assim como a forma de se comunicar", diz Cardoso.
Além disso, não adianta fazer a crítica sem dar uma solução para o problema. "O
crítico com conteúdo acaba ganhando a confiança da equipe", garante.
O perigo do crítico sem conteúdo
Ser crítico com conteúdo significa de fato colaborar para a melhoria da
performance da empresa, da equipe, do atendimento ao cliente, dos resultados.
"No entanto, se o crítico é agressivo, tenderá a afastar as pessoas que lhe são
fundamentais para o trabalho em equipe", avisa o consultor da Mercer.
Para ele, existem dois tipos de críticos: o participativo e o destrutivo.
Explica-se: o segundo caso diz respeito aos profissionais competitivos, que
fazem críticas ao trabalho alheio para aparecer. Eles usam as pessoas ao seu
redor para se promover. Ao contrário do crítico com conteúdo, focam em problemas
pequenos e não acrescentam nada ao crescimento da empresa.
"O foco não deve ser o que o colega faz ou deixa de fazer, mas entender por que
a falha ocorre. Em outras palavras, não é uma questão de apontar nomes,
verificar quem é o culpado. O crítico com conteúdo se interessa pela solução do
problema, apenas, e o líder é muito importante nesse processo".
E o condescendente?
Existem dois tipos de condescendentes. O primeiro tem estilo tranqüilo. Esse
tipo de profissional é assim mesmo, sempre levado pela onda, ele nunca a cria.
Geralmente, pessoas assim têm carreiras mais restritas, mas ninguém pode dizer
que elas não são vitais para a manutenção das atividades diárias. "O
condescendente é necessário. É ele que põe a mão na massa, faz acontecer sem
questionar as regras do jogo. Com perfil mais operacional do que estratégico,
ele agrega menos à empresa", diz o especialista.
O outro tipo é aquele que precisa contornar uma liderança autoritária e
centralizadora. "Ele até tem muitas idéias, mas, na primeira vez que fala, leva
patada. Na segunda, ninguém lhe dá ouvidos. Na terceira, ele simplesmente não
fala nada. Nesse caso é melhor não desafiar nem criticar. Apenas obedecer.
Conheço pessoas que se dão muito bem com chefias autoritárias. Dizem que não têm
problema nenhum. Outros sofrem muito", conta Cardoso.
Quem sobrevive mais nas empresas?
Para saber quem sobrevive mais nas empresas, se é o crítico participativo, o
destrutivo ou o condescendente é preciso descobrir o tipo de empresa na qual se
trabalha e o valor que se dá àqueles que não se satisfazem com o que vêem.
Algumas companhias estimulam muito a competição e, por isso mesmo, acabam
valorizando o crítico destrutivo. "O ideal é que o profissional encontre a
empresa que seja adequada ao seu perfil". Logo, se você é cheio de idéias e
gosta de sugerir coisas novas, mas sua empresa não lhe dá ouvidos, a saída é
buscar um lugar que dê asas ao seu jeito de ser.