Quando a fatura do cartão de crédito chega no final do mês e você verifica os
gastos do seu cônjuge, cujos hábitos de consumo são muito distintos dos seus,
certamente pensa que, do ponto de vista financeiro, estaria melhor se não
tivesse que compartilhar despesas e decisões financeiras.
Ainda que a gestão financeira seja um dos pontos mais difíceis de uma relação
conjugal, um estudo elaborado pelo pesquisador do Centro de Pesquisa de Recursos
Humanos , Jay Zagorsky, da Universidade do Estado de Ohio, constatou que, ao
contrário do que muitas pessoas imaginam, o casamento faz bem para as finanças
pessoais. É claro que nem sempre os casais possuem uma relação financeira
saudável, o que coloca em risco o relacionamento.
Grupo foi avaliado por 15 anos
O estudo do cientista acompanhou a situação financeira e o estado civil de 9.055
pessoas entre 1985 e 2000. Os entrevistados, com idade entre 41 e 49 anos,
compõem um grupo de pessoas que, desde 1979, fazem parte de uma pesquisa
nacional e vem sendo entrevistados sobre vários aspectos de suas vidas.
O cientista ressalta que as constatações podem ser outras para indivíduos mais
jovens ou mais velhos do que o da amostra, já que suas reações ao casamento,
separação e divórcio podem ser muito distintas. Em sua análise da situação
financeira destes indivíduos, o cientista definiu o total de ativos de uma
pessoa como sendo composto pela soma de imóveis, ações, contas bancárias, menos
dívidas, como, por exemplo, financiamento imobiliário.
Casados têm patrimônio duas vezes maior
Em seu estudo, Zagorsky separou os ativos do casal em duas partes, de forma que
pudessem ser comparados com os ativos de uma pessoa solteira. A constatação a
que chegou é que as pessoas que se casam (e se mantêm casadas) acumulam
individualmente um patrimônio quase duas vezes maior do que uma pessoa solteira
ou divorciada.
Economia de escala é a palavra-chave por trás da maior capacidade de acumular
riqueza dos casais, frente aos solteiros e divorciados. Afinal, é mais barato
manter uma casa do que duas. No divórcio, a situação é ainda mais grave, pois
essas economias de escala são revertidas.
Não é à toa, portanto, que o próprio Zagorsky afirme que o divórcio é uma das
formas mais rápidas de se destruir riqueza da nossa sociedade. Além disso, como
ressalta David Popenoe, co-diretor do Programa Nacional de Casamento da
Universidade de Rutgers nos EUA, as pessoas ficam economicamente mais produtivas
após o casamento.
Segundo Popenoe, os casados trabalham mais e avançam profissionalmente mais
rápido, assim como poupam mais e possivelmente investem com mais cautela.
Afinal, especula o pesquisador, ao se casar eles deixam de trabalhar apenas para
si e passam a trabalhar para algo maior: a família.
Perda é maior entre as mulheres
Enquanto as pessoas sozinhas acumulam riqueza mais lentamente, conseguindo
elevar seu patrimônio mediano de US$ 1,5 mil, no início, para cerca de US$ 10,9
mil no 15º ano, os casados acumulam 93% a mais do que uma pessoa solteira ou
separada.
Engana-se quem acredita que um casamento ruim não tenha impacto nas suas
finanças. Além do poder erosivo da separação, o estudo constata que, entre as
pessoas que se separaram, houve perda de patrimônio nos quatro anos que
antecederam a separação. O cientista acredita que isso possa ocorrer, porque
muitas vezes a separação acontece antes do divórcio, forçando as partes a
manterem duas residências.
Ao que tudo indica, as mulheres perdem mais que os homens com o divórcio.
Segundo o estudo, após a separação os homens conseguem acumular uma riqueza duas
vezes e meia maior. Porém, como lembra Zagorsky, ainda que os homens se saiam um
pouco melhor que as mulheres após o divórcio, a decisão acaba afetando de forma
dramática o patrimônio de ambos. Diante de tudo isso, vale a pena ficar atento
aos mitos de finanças que podem separar um casal.