Ainda pouco negociados no Brasil, os ETFs cobram taxas baixas em troca de
diversificação e transparência
Bovespa: fundos de índice são forma interessante de investir em ações
Comparações entre fundos de ações passivos e ativos sempre geram polêmica.
Diversos economistas defendem que os fundos que simplesmente buscam seguir um
índice de ações (os passivos) costumam apresentar uma rentabilidade média maior
do que aqueles que estabelecem como meta bater a média do mercado (os ativos).
Devido à cobrança de altas taxas de administração e performance e à inabilidade
de muitos gestores em prever o futuro, dizem esses teóricos, acaba sendo mais
vantajoso se manter longe dos fundos ativos. Outros estudos, no entanto,
demonstram que, principalmente no curto e no médio prazo, escolher um gestor com
habilidade para se antecipar às tendências do mercado pode gerar lucros
superiores.
Para quem prefere os fundos passivos, especialistas dizem que um jeito
bastante interessante de investir dinheiro é por meio dos chamados ETFs ("exchanged
traded funds", ou fundos negociados em bolsa). Apesar do nome complicado, os
ETFs são fundos passivos que seguem o desempenho de algum índice de ações - como
o Ibovespa, por exemplo. Ao mesmo tempo, possuem quotas negociadas em bolsa.
Isso significa que para entrar ou sair desse fundo, basta dar uma ordem de
compra ou venda do papel via home broker ou telefone da mesma forma que se
negocia qualquer ação por meio da plataforma de uma corretora.
No mercado brasileiro, há apenas sete ETFs. O primeiro deles foi o de Papéis
Índice Brasil Bovespa (PIBB), lançado pelo Itaú Unibanco em 2004. Esse fundo
segue o IBrX-50, índice que reúne as 50 empresas mais negociadas na Bovespa. Se
essas companhias apresentarem uma valorização média ponderada de 50% em um ano,
por exemplo, quem comprou o PIBB terá praticamente o mesmo ganho. Os outros seis
fundos de índices negociados atualmente na Bovespa foram desenvolvidos pelo
banco britânico Barclays e depois vendidos à americana BlackRock, que assumiu a
gestão do produto. O mais negociado é o Ibovespa Fundo de Índice (BOVA11), que
busca replicar o principal índice de ações da bolsa brasileira. Mas também há
fundos setoriais de consumo e imobiliário ou apenas de pequenas empresas (veja
como funciona cada um dos ETFS na tabela abaixo).
A quem são indicados
Para especialistas, todos os cuidados necessários na bolsa também valem para
o investimento em ETFs. O produto só é recomendado a pessoas que têm sangue frio
para ocasionalmente ver seu patrimônio encolher e devem ser utilizados apenas
visando retornos de longo prazo. Como a volatilidade de qualquer papel negociado
em bolsa é grande, o risco de perder dinheiro também é representativo. Nesse
caso, pode ser necessário tempo para recuperar o capital investido.
A grande diferença do ETF para uma ação é o fato de oferecer um portfólio
mais diversificado de papéis, impedindo que o investidor tenha uma grande perda
por ter colocado todos os ovos na mesma cesta. O risco é o de mercado, e não o
de determinada empresa. Por esse motivo, o professor Daniel de Morais, da
investeducar, acredita que o ETF é a porta de entrada ideal para quem quer
entrar na bolsa, mas conhece pouco sobre o mercado. "Recomendo para quem não tem
tempo de acompanhar a bolsa por ser uma forma barata de montar uma carteira
diversificada", diz.
Custo
As taxas de administração cobradas para o investimento nos ETFs chegam a até
0,69% ao ano. O investidor também precisará abrir uma conta em uma corretora e
terá de arcar com taxas de corretagem e custódia. Mesmo assim, se comparado ao
custo de investir em um fundo ativo de ações, trata-se de uma barganha. Os
fundos ativos costumam cobrar ao menos 2% de taxa de administração mais uma taxa
de performance equivalente a 20% do que o investidor ganhar acima do benchmark
(o Ibovespa, por exemplo).
O investimento em ETFs pode ter um custo interessante mesmo quando comparado
ao de fundos passivos de ações. "Esses fundos deveriam cobrar uma taxa máxima de
1% ao ano porque o gestor tem pouco trabalho para cuidar da carteira", diz o
professor William Eid Jr., do Centro de Estudos em Finanças da FGV. "Mas nem
sempre é isso que se vê no mercado." Já em relação a fazer a compra ponderada de
todas as ações de um índice como o Ibovespa, por exemplo, a economia de tempo e
de despesas proporcionada pelos ETFs é exorbitante.
Fim do incentivo tributário
Até abril de 2010, os fundos de índice negociados em bolsa também ofereciam
ao pequeno investidor um benefício extra. O lucro líquido mensal com ETFs era
isento desde que o investidor vendesse menos de 20.000 reais em papéis naquele
mês - a mesma regra que valia para as ações. No entanto, a Receita Federal
decidiu equiparar o tratamento tributário dos ETFs com o dos demais fundos de
ações. Dessa forma, os fundos de índice passaram a repassar 15% dos ganhos ao
governo a título de IR sempre.
Um último benefício dos ETFs é a transparência. "Alguém que comprou o BOVA11
sempre sabe quais ativos mexem com o valor de sua carteira", diz André Ribeiro
Turquetto, diretor-executivo de marketing da BlackRock para a América Latina. As
cotações dos ETFs podem ser obtidas em tempo real no site das corretoras.
Acompanhar a evolução da carteira é bastante fácil mesmo sem internet, já que
praticamente todos os grandes veículos de mídia informam a oscilação do Ibovespa
- a referência do BOVA11. Já quem entrega seu dinheiro ao gestor de um fundo de
renda variável não tem informações sobre o que acontece durante o dia e só obtém
os dados detalhados das operações a cada trimestre.
Não é à toa que os ETFs são um grande sucesso em pregões estrangeiros. No
mundo todo, há cerca de 6.000 fundos de índices. Somente na Bolsa de Nova York,
são negociados mais de mil ETFs, que respondem por cerca de 30% dos negócios em
Wall Street. Também há mais de uma centena de ETFs nas bolsas de Londres,
Frankfurt e até do México. Os fundos de índice representam cerca de 40% do
volume transacionado no pregão mexicano. De olho nesse filão, a BM&FBovespa
planeja ampliar o número de opções para os investidores brasileiros. A ideia é
começar a negociar em breve no pregão local ETFs estrangeiros, como o americano
S&P 500, um dos principais índices de ações do mundo. Para isso, entretanto,
ainda é necessária a autorização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Baixa liquidez
No Brasil, os ETFs ainda enfrentam os problemas comuns a papéis de baixa
liquidez. Os dois mais líquidos são o BOVA11 e o PIBB11. Os demais seguem uma
dinâmica de spreads parecida com a do mercado de câmbio. Para um mesmo ativo, há
um preço de compra levemente acima do de venda. Para garantir que haverá
liquidez caso algum grande investidor decida vender suas posições em ETFs, a
BlackRock contratou o Citibank como formador de mercado. Cabe ao banco americano
garantir um mínimo de negócios para cada papel e assegurar que haja oferta tanto
para compradores quanto para vendedores.
Um dos motivos para a baixa liquidez é a falta de interesse dos bancos em
divulgar o produto. As maiores instituições financeiras brasileiras ganham muito
mais dinheiro cobrando taxas de administração nos fundos de investimento
vendidos aos clientes do que poderiam obter com as taxas de corretagem cobradas
nas negociações com ETFs.
Outra característica do mercado local de investimentos é que os fundos
passivos de ações não são tão populares quanto os ativos. Ensina o professor
William Eid Jr., da FGV. "Assim como os motoristas brasileiros acham que dirigem
melhor do que a maioria, os investidores também acreditam sempre ter o
conhecimento necessário para obter um retorno acima da média do mercado." O mais
comum, entretanto, é que ocorra o contrário.