Por falta de informação, as mulheres lidam mal com as finanças. E o
resultado: estão mais endividadas que os homens.
O estrago normalmente começa em casa. Durante o período em que estão
crescendo e sendo educadas, as crianças aprendem que gastar dinheiro é fácil e
rápido: são contas com supermercado, posto de gasolina, escola, salário de
empregados, IPTU, aluguel e outras despesas fixas de qualquer residência. O
dinheiro voa como vendaval, como diria a música Pecado capital, de Paulinho da
Viola.
E mais: como bem lembram as jornalistas Mara Luquet e Andrea Assef, no livro
Meninas normais vão ao shopping, meninas iradas vão à bolsa (Ed. Letras &
Lucros), crianças aprendem com as mães que dinheiro é uma coisa suja, pois passa
de mão em mão. “Para os intelectuais, o dinheiro sempre foi uma coisa menor.
Para os religiosos, é pecado.” Por tudo isso, dá para entender por que é melhor
se livrar dele.
Durante o período escolar, as coisas não melhoram. Educação financeira não
está na grade da maioria das escolas. E, desta forma, saber poupar ou investir
para garantir uma vida mais confortável e um futuro mais seguro não entra na
pauta do dia a dia até, muitas vezes, ser tarde demais. E essa situação é mais
grave entre o público feminino.
Ainda sob o efeito de uma sociedade machista, as meninas têm menos chances de
aprender cedo como montar uma carteira de investimentos ou como se cria uma
poupança eficiente, em que o dinheiro tenha um rendimento polpudo.
Mulher dificilmente fala de dinheiro com as amigas. Não discute taxas de
juros enquanto faz as unhas. Raramente navega nos sites especializados em busca
de notícias sobre quedas nos preços das ações. Por pura falta de informação, são
as maiores vítimas de gerentes de bancos que tentam empurrar produtos “micados”,
como títulos de capitalização.
O irônico é que são justamente as mulheres as que mais efetuam gastos com
supérfluos. São despesas com roupas, acessórios, cosméticos, esteticistas,
academia e por aí vai. Não é preciso ser um grande estudioso de economia para
saber que são elas as principais vítimas da sedução das vitrines.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos, o Brasil ocupa o
primeiro lugar, com 44%, em número de pessoas que declararam que se endividariam
para adquirir produtos de luxo. Não é à toa que esse mercado está em plena
expansão. Em 2010, ele deverá faturar cerca de US$ 6,5 bilhões, segundo a
Associação Brasileira das Empresas de Luxo (Abrael).
Arrisco dizer que isso é um resultado direto do consumo feminino. Para
comprovar, basta ver a quantidade de grifes importadas para elas versus a
quantidade de grifes para eles presentes no mercado brasileiro. O problema não
está somente em gastar demais, mas em fazê-lo sem planejamento, muitas vezes
apelando para o usual recurso do parcelamento. Recurso, aliás, típico do varejo
brasileiro.
Outro fator que comprova a pouca intimidade feminina com o quesito finanças
pessoais é a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores (Peic)
da Fecomercio. De acordo com ela, a proporção de mulheres endividadas é superior
à de homens. Cerca de 51% das mulheres possuem algum tipo de dívida, contra 48%
dos homens. O dinheiro está voando mais do bolso delas. E, se nada mudar, o
vendaval promete ser devastador.