Os consumidores pensarão duas vezes antes de comprar um carro a partir de
agora. As novas regras para concessão de crédito a pessoas físicas estabeleceram
percentuais mínimos de entrada para compra de veículos a prazos maiores que 24
meses. A medida, na avaliação dos especialistas consultados pelo InfoMoney, pode
frear as compras por impulso, mas não fará os consumidores adotarem o
planejamento financeiro no orçamento familiar.
Para o coordenador do curso de Gestão Financeira da FGV Management, professor
Ricardo Teixeira, os consumidores de baixa renda serão os mais afetados pelas
regras e deveriam ser aqueles a adotar postura mais cautelosa. “Esse consumidor
tem que pensar duas vezes, porque ele vai ter uma despesa maior na compra do
veículo”, diz.
Como o crédito fácil e abundante levou muitos consumidores a se endividarem,
as regras vêm no sentido de impedir elevações nas taxas de inadimplência e
evitar uma “bolha” de consumo. “Pela ótica das finanças, essas medidas são
excelentes, chegaram tarde e foram até brandas”, avalia o educador financeiro
Álvaro Modernell.
Para ele, a população não está madura para compras a longo prazo. “Se eu não
consegui juntar 30% do valor de um veículo, significa que eu não estou pronto
para comprar um bem”, diz. “O acesso ao crédito fez as pessoas pensarem que
podem comprar um carro além do seu orçamento”, afirma Modernell. Teixeira vai
além: “essa facilidade de crédito é perigosa”.
Planejamento
As mudanças do Banco Central devem encarecer o crédito para pessoa física e
elevar os juros – o que exigirá um planejamento financeiro maior dos
consumidores. Isso é o que deveria ocorrer, mas a questão do planejamento
continuará na teoria, na avaliação de Teixeira. “Essas medidas levam o cidadão a
não consumir”.
Dessa decisão de deixar para depois até o planejamento financeiro existe uma
grande distância. E essa questão, diz o professor, é cultural. “No mundo
inteiro, as pessoas têm uma tendência ao consumismo. O que as pessoas deveriam
fazer é adotar um planejamento e ter uma poupança”. Ele ressalta que não existe
barganha melhor que ter dinheiro para pagar à vista.
Para Modernell, as medidas do Banco Central também não devem mudar o
comportamento do consumidor brasileiro com relação à falta de planejamento.
“Elas ajudam a frear compras impulsivas”, afirma.
Para uma compra saudável
Para quem quer comprar um carro, o educador financeiro reforça que é preciso
seguir cinco passos para não desequilibrar o orçamento, independentemente das
medidas do Banco Central:
Ir além da legislação e juntar, ao menos, 30% para dar de entrada. “O ideal
seria 50%”.
Ficar de olho nos prazos. Evite prazos maiores de 36 meses e, se não for
possível, nunca ultrapasse os 48 meses
Avalie os mercados. “Pesquisar ofertas de seminovos pode ser um passo para
encontrar boas oportunidades”
Além dos bancos. “Não se baseie apenas nos financiamentos dos bancos e
concessionárias. Verifique outras opções”
Nada de impulsividade. “Não se deixe levar pela emoção. Cuidado, o cheiro do
carro novo seduz”.