Tinha uma ruiva no meio do caminho
Querida (nome),
ainda bem que a Idade Média já vai longe, pois naquele tempo as mulheres ruivas
chegavam a ser acusadas de bruxaria e eram condenadas à fogueira, porque o
cabelo vermelho seria um indício de práticas diabólicas.
Ainda bem que a Inquisição não foi bem sucedida em seu intento de
extingui-las pois, embora hoje se saiba que não há nada de diabólico nas
graciosas figuras de cabelos avermelhados, ao saber-te ruiva senti a "minha tez
tomar um tom fouveiro, indício da ebulição do sangue a ferver-me em bolhas no
coração." Desculpe, não resisti e parafraseei o romântico José Alencar, pois só
os imortais são capazes de descrever com precisão o que se passa no corpo de um
homem encantado pela doce visão dos teus rubros cabelos.
Ao pensar em você, sinto-me como se fosse um antigo Celta, respeitosa e
absolutamente apaixonado por uma das druidesas da aldeia. Você sabe, é claro,
que estas sacerdotisas eram mulheres ruivas, sagradas às deusas guerreiras por
simbolizarem o "sangue vital", "menstrual". Além disso, conheciam o poder das
palavras, pedras e ervas; elas faziam encantamentos, feitiços e profecias e,
assim, tinham o status de semi-divindades.
Mas, vamos deixar de lado os mistérios da história que me remetem aos seus
cabelos. Sejamos mais poéticos - ou botânicos!!! - porque, na verdade, a
expressão "ruiva" vem de uma singela plantinha mediterrânea chamada "Rubia", "rubia
tinctorum", que tem as folhinhas em forma de lança e produz flores bem delicadas
e pequeninas.
Serão as lanças impressas nas folhas ou será o vermelho o que te faz tão
especial? O vermelho do fogo, do risco, do perigo e das associações com o
mistério; ou a lança que sugere um comportamento decidido, forte, guerreiro?
Responda-me, querida: o que te faz tão encantadoramente doce e misteriosa? Será
que o teu coração é tão caloroso quanto as lendas que envolvem a cor dos seus
cabelos?
Eu, sinceramente, não sei... Só sei que tem uma ruiva no meio do caminho. No
meio do meu caminho tem uma ruiva. Acho que as minhas retinas fatigadas jamais
se esquecerão deste fato, por toda a minha vida. No meio do caminho tem uma
ruiva. Tem uma ruiva no meio do caminho... E penso que esta ruiva é a minha
pedra druida da sorte!!
Beijo carinhoso e caloroso do,
(assinatura)