A transparência da tua roupa
Meu amor,
Apesar do sol, caía uma chuva fina (ou uma forte garoa, se preferir) quando fui
te buscar ontem na escola. De dentro do carro observei-te, em meio a um
turbilhão de pessoas, esperando o sinal de pedestres abrir para vires ao meu
encontro.
O verde do sinal tardava e insistia em fazer com que tuas roupas ficassem
cada vez mais molhadas, mas tu parecias nem ligar. O frescor da água parecia
estar acariciando tua rosada pele e davam um ar mais silvestre aos teus cabelos,
contrastando com a paisagem exageradamente urbana que nos cercava.
Estavas linda naquele vestido curto e clarinho, estampado com pequeninas
flores que pareciam escorrer pelo teu formoso colo, por todo o teu atraente
corpinho. De longe eu te observava e sentia que não estavas a reclamar da
inconstância das nuvens, e quando me percebeste a te olhar, abriu-me o sorriso
mais gostoso de todo este chuvoso verão.
De repente, o sinal se abriu e tu atravessaste a rua como uma brisa que
pudesse dissipar todos os males do mundo. O vestido clarinho, clarinho - de tão
clarinho parecia branco! - grudava em seu peito e deixava transparecer dois
delicados pontinhos rosados, que eu imaginei serem as agulhas de uma nova e
personalíssima bússola a apontar-me o verdadeiro norte.
Tua beleza, aquela beleza sutil revelada pela água e pela tua contagiante
naturalidade me emocionou e, saiba, meu amor: hoje quero ferir-me novamente ao
tocar meus dedos e minha boca nessas tuas agulhinhas tão doces.
Beijos carinhosos do teu
(assinatura)