Com razão, o tema do momento é a sustentabilidade e seus desafios.
Interessante notar, porém, que a maioria dos cidadãos não tem consciência do que
representa o ato de tomar decisões sustentáveis, especialmente quando se trata
das finanças cotidianas e do que realmente faz diferença . Para muitos, pensar
de forma sustentável é apenas valorizar a reciclagem do lixo e materiais
tóxicos, bem como valorizar iniciativas que não se beneficiem da exploração de
áreas verdes e trabalho infantil.
Ser sustentável é muito mais que isso. Tomemos por exemplo a
questão do consumo. Você tem o hábito de pesquisar preços, condições comerciais
e características dos produtos e fornecedores? Estas atitudes podem oferecer a
você e sua família condições mais interessantes diante de uma negociação (bom
para o bolso) e também uma visão mais sistêmica da cadeia produtiva do bem
adquirido - se a empresa trata bem a natureza, se tem uma política de
investimento sustentável etc.
Em que condições o produto foi fabricado? Seus componentes contém material
tóxico e de difícil decomposição? A empresa oferece meios dignos de trabalho aos
seus funcionários e demais fornecedores? Repare como as questões extrapolam o
simples ato de comprar, que é apenas o ato final de toda uma relação entre
natureza, cidadania e economia. Porque soa hipócrita discutir sustentabilidade
quando pouco a praticamos. Quanto você está realmente engajado?
Isso significa que você deve procurar detalhes sobre as práticas que vão além
da negociação, valorizando empresas e prestadores de serviços que oferecem
atenção e recursos à comunidade onde se insere, bem como às iniciativas
relacionadas ao consumo consciente. A sustentabilidade tem que ser transformada
em ações e atitudes no dia a dia, não apenas uma prática usada como diferencial
e marketing por grandes corporações. Sugiro a leitura dos artigos "Inteligência
Ecológica: o impacto do que consumimos" e "Impactos sociais e ambientais do
consumo", de Elaine Costa.
Como posso mudar o quadro?
Pense agora como um agente de mudança, alguém afim de investir recursos
na luta por um mundo melhor. Ora, se você se preocupa de verdade com fatores
sustentáveis e pretende alocar seus esforços em empresas/produtos que sejam,
reconhecidamente, agentes de mudança ligados ao meio ambiente e aos meios de
vida eficientes, você precisa se certificar de que tais empresas mereçam sua
atenção. Como saber que iniciativas são mesmo sérias?
A primeira coisa a ter em mente é que um investimento sustentável normalmente
visa o longo prazo. Mudanças importantes, capazes de alterar pra valer nossa
realidade, tendem a surgir com o passar dos anos e depois de muita insistência.
Além disso, o retorno nem sempre será medido em termos financeiros, mas também
em satisfação pessoal e implementação de melhorias no dia a dia de comunidades e
países. O retorno é poder fazer a diferença.
Neste sentido, além do consumo consciente já mencionado, procure investir
tempo, energia, dinheiro e trabalho em ações tipo:
- Investimento em empresas que adotam práticas de
sustentabilidade: você pode optar por investir em ações de empresas
de capital aberto cujas ações sociais e ambientais sejam reconhecidas e
valorizadas. A BM&F Bovespa mantém uma referência às empresas com este tipo
de objetivo através do índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE);
- Investimento em movimentos sociais coordenados: você
pode fundar uma Organização Não Governamental (ONG), Organização da
Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) ou decidir apoiar aquelas que
já trabalham com os ideais que você valoriza. Você pode mobilizar vizinhos e
amigos com o objetivo de questionar empresas, comércio e indústrias,
cobrando-lhes comprometimento com a comunidade, a natureza e o futuro dos
cidadãos;
- Investimento em eficiência pessoal/familiar: você pode
começar em casa, economizando energia com pequenas ações, como desligar os
aparelhos que ficam em standby e/ou tomando banhos menos demorados. Você
também pode evitar o desperdício de alimentos e água.
Resulta que a sustentabilidade não pode ser apenas uma meta de governos ou
nações ou um assunto do noticiário. Como você percebeu, manter-se comprometido
com as melhorias sociais, econômicas e ambientais dá trabalho. Precisamos mudar
nossos hábitos, incorporando atitudes pregadas com tanto entusiasmo em nosso
cotidiano. Fazer mais, falar menos. Ser sustentável é agir, decidir mudar. E
mudar. Ou tudo continua uma simples demagogia.