Ele ou ela entra no consultório com aparência mais saudável possível,
costumam ter entre 20 e 35 anos e quase sempre trazem uma pilha de exames
totalmente normais. Olham para mim como se eu fosse a sua última esperança.
Geralmente são adultos bem sucedidos. Tem uma autocrítica acima da média, e por
serem muito competentes atraem, naturalmente, muita responsabilidade. Eu diria
que este tipo de paciente “dá um passo maior do que a perna”. São devotos à
perfeição e, portanto, como assumem muitos compromissos, não conseguem
executa-los da maneira que gostariam.
Isto de maneira lenta e progressiva leva a um conflito interno. Este conflito
gera ansiedade que se persistir, pode culminar com o distúrbio da ansiedade*
mais conhecido do momento: “a síndrome do pânico” ou “ataque de pânico”.
*Os distúrbios da ansiedade não são considerados condições psiquiátricas e são
caracterizados por componentes psicológicos (tensão, medos, apreensão e
dificuldade de concentração) e somáticos (taquicardia, aumento da freqüência
respiratória com sensação de falta de ar, palpitação, tremores e transpiração).
Os distúrbios da ansiedade são: 1) transtorno obsessivo-compulsivo; 2) ansiedade
generalizada; 3) ansiedade fóbica; 4) transtornos dissociativos. 5) transtorno
do pânico (síndrome do pânico).
No ataque de pânico, os pacientes se queixam de uma crise de taquicardia,
formigamento ao redor da boca, lábios e nas extremidades (mãos), taquicardia
(aumento da freqüência dos batimentos cardíacos), falta de ar, transpiração
intensa e fria, principalmente nas mãos, e as vezes sensação de desmaio. Junto
com estas manifestações fisiológicas, o paciente se queixa de um medo intenso de
morrer.
Apesar de curta e imprevisível, a crise pode ser desencadeada por lugares muito
cheios (shopping, cinema, trânsito etc), caracterizando a agorafobia (medo de
lugares repletos de pessoas). Em trinta por cento dos casos, o ataque de pânico
acontece no meio da noite.
Todos os pacientes sentem uma ansiedade antecipatória da crise, gerando
insegurança que os limita para atividades rotineiras. Estes pacientes
freqüentemente acabam em um serviço de emergência queixando-se de ataque
cardíaco ou queda de açúcar.
No meu entender, o ataque de pânico nada mais é do que uma resposta de
adrenalina (adrenérgica) a um inimigo virtual e portanto, totalmente inadequada.
A resposta adrenérgica é muito conhecida no mundo animal. Ela é um mecanismo de
defesa primitivo, que prepara o animal para escapar do predador ou caçar a
presa.
A adrenalina promove algumas alterações como:
1) transporta o sangue superficial da pele para o músculo fazendo com que o
músculo fique mais irrigado e forte. Daí a palidez e o formigamento nas
extremidades e face (menos irrigação sanguínea nesta área).
2) dilata a pupila para melhorar a acuidade visual;
3) aumenta a intensidade e os batimentos cardíacos para melhorar a oxigenação
dos tecidos.
4) eleva a pressão arterial para, também, melhor irrigar as células.
Ora, o que temos que entender é que diante das pressões do mundo moderno, somos
cobrados intensamente (principalmente por nós mesmos) e nos agredimos tanto que
o nosso organismo libera a resposta de defesa pré-programada mais primitiva:
adrenalina no sangue. O paciente então apresenta todas as manifestações
somáticas, não entende o que está acontecendo, acha que vai morrer e entra em
pânico.
Como lidar com isso?
Primeiramente devemos pesquisar se o paciente esta dormindo bem, pois estes
ataques estão fortemente associados a noites mal dormidas. Sendo este o fator de
“stress” e ansiedade. Uma vez descartado o distúrbio do sono, devemos optar por
medicamentos e psicoterapia com o intuito de detectarmos e tratarmos o foco de
ansiedade. Estes medicamentos controlam rapidamente e facilmente a maioria dos
casos.
Na crise aguda os benzodiazepínicos são os preferidos (popular calmante). Para
manutenção do tratamento, dá-se preferência aos antidepressivos, não porque o
paciente está deprimido, mas sim porque estes medicamentos funcionam bem e não
causam dependência. Este tratamento dura de 1 a 2 anos. O acompanhamento com um
profissional especializado (psicólogo ou psiquiatra) é bom e sempre
recomendável.
Na realidade temos de conscientizar o paciente a não se envolver tanto, a
apertar o “botão dane-se”, a procurar mudar de hábitos, ter mais válvulas de
escape. A válvula de escape que mais recomendo é o esporte quando possível.
A leitura de assuntos agradáveis e diferentes do assunto de trabalho sempre
ajuda. A introspecção diária é importantíssima para localizar o foco da
ansiedade. Uma vez localizado, devemos enfrentar o problema de frente e
escolhermos a melhor solução, sem culpa.
Dicas para prevenir síndrome do pânico
1) Durma bem, se tiver dificuldade procure um profissional para pesquisar o
motivo;
2) evite comer durante o trabalho, pare e faça as refeições com calma;
3) coma uma fruta entre as refeições;
4) faça uma atividade física pelo menos 60 minutos, pelo menos, três vezes por
semana (comece devagar); 5) faça o que estiver a seu alcance, para aquilo que
estiver fora do seu alcance, aperte o “dane-se” e seja feliz.
6) faça mais vezes o que gosta;
7) seja menos rigoroso consigo mesmo.