Os desalentados são aqueles desempregados há mais de 12 meses e que
desistiram de buscar uma colocação no mercado de trabalho, não tendo participado
de nenhum processo seletivo nem enviado currículo nos últimos 30 dias.
A socióloga Fabiana Jardim decidiu pesquisar os motivos para as pessoas
simplesmente interromperem a busca por um emprego. O resultado foi um livro
intitulado "Entre desalento e invenção: experiências de desemprego em São
Paulo".
O trabalho de campo foi feito entre 2002 e 2004, no Centro de Solidariedade de
Osasco, em São Paulo. Concluiu-se que muitos dos desalentados desistem da busca
por um emprego porque não conseguem compreender a dinâmica do mercado de
trabalho.
Em um dos capítulos do livro, a autora se detém sobre a história de José, cujas
características tornam possível a discussão acerca dos aspectos mais típicos de
trajetórias de trabalho iniciadas em meados da década de 1970 e resultaram, no
início do século 21, em casos de desalento.
A história de José
"Como a maior parte dos homens que entrou para o mercado de trabalho nos anos
70, José sempre conseguiu circular no mercado de trabalho formal sem muita
dificuldade, mesmo não tendo profissão definida. Mas, desempregado em 2002, ele
toma a decisão de desistir de procurar emprego. O motivo é que não consegue
entender a nova dinâmica de busca pelo trabalho", explicou Fabiana.
Segundo ela, o desalentado não consegue mais entender como procurar um emprego.
"Em décadas anteriores, ele passava pelas fábricas, tinha contato direto com os
empregadores e conseguia uma vaga, ao mostrar disposição para trabalhar".
"Mas, atualmente, o funcionamento desse mercado é diferente. É preciso ir às
agências de emprego - o que, para homens desempregados e com mais de 40 anos, é
uma grande angústia. Vários entrevistados diziam ir à agência apenas porque era
preciso fazer algo. Mas, ao preencher a ficha, já percebiam que estavam fora do
perfil do trabalhador ideal", relatou a socióloga, para quem a mudança na lógica
do trabalho e do emprego ocorreu especificamente em meados da década de 90, com
a proliferação das agências de emprego.
Já entre os jovens, o desalento já tem outro significado: alguns desistem por
cansaço e revolta. "Eles reclamam que têm escolaridade, segundo grau completo,
cursos de qualificação. Mas manifestam desânimo ou raiva, porque, mesmo com esse
currículo, não conseguem trabalho. É como se seguissem à risca as regras do
jogo, mas fossem trapaceados por um sistema irracional, aleatório, dependente da
sorte".