Carreira / Emprego - Empresas buscam gente de cabelo branco. Seria o fim da substituição de gerações?
"Pensávamos que o primeiro semestre de 2009 seria um período fraco de
contratações, por conta da crise. Mas as empresas começaram a nos procurar e nos
surpreendemos. Não apenas pelo fato de elas estarem contratando, e sim porque
estavam buscando profissionais mais experientes. O primeiro semestre do ano
passado foi uma loucura, com a garotada mudando de emprego a todo momento. Havia
muito espaço para os jovens. Agora, com a crise, o perfil procurado mudou".
O comentário é do sócio da empresa de recrutamento CTPartners Brasil, Arthur
Vasconcellos. Segundo ele, a opção que as organizações estão fazendo é pela
serenidade.
O custo do risco
O headhunter enfatiza que, no ano passado, o custo do risco era muito baixo -
embora após outubro tenha se mostrado muito caro -, por isso as empresas não se
preocuparam com a inexperiência de suas equipes.
Agora, com a crise, o pânico entre executivos e profissionais jovens é
exagerado, o que é compreensível. Muitos deles nunca passaram por uma crise e
cresceram profissionalmente nos anos de bonança da economia. "Um empregador
disse que queria alguém com seus 50 anos, que pudesse sentar com essa moçada e
explicar o que estava acontecendo", conta Vasconcellos.
"Ao menos para atravessar este primeiro semestre, as empresas optaram pela
maturidade, que será necessária na hora de tomar decisões difíceis. E não estou
falando da decisão de demitir, porque demitir é fácil. Eu vivi a crise no Brasil
da década de 80 e posso dizer que quem viveu aquela época está reagindo à
turbulência atual de outra forma. Sei do caso de um executivo de 62 anos que foi
contratado recentemente".
Fim da troca de gerações
Para o especialista, a crise pode marcar o fim de um modelo cruel de
substituição de gerações. Explica-se: nos últimos anos, muitas empresas estavam
preferindo os profissionais mais jovens, em detrimento dos mais maduros, por
conta do ímpeto, da capacidade inovadora e da sede pelos riscos dos novatos.
Com a crise, todavia, percebeu-se o valor da experiência, que, mesmo em um
momento crítico, é traduzida em serenidade e equilíbrio. Não significa que os
mais jovens deixarão de ser contratados. "O ideal é a soma", garante. É legal
alguém dizer: "vamos ganhar muito se investirmos em determinado projeto!",
mostrando que é bom se arriscar. Mas é mais legal ainda alguém responder: "Isso
pode dar errado", denotando que existe um outro lado, algo que a experiência
ensina.
A mescla de gerações construirá o alicerce das empresas, a solidez. "Às vezes, é
preciso ter um pouco de cabelo branco", finaliza.
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