Diante do dinamismo do mercado de trabalho atual que estimula a mobilidade em
todos os níveis hierárquicos, é muito provável que você passe pela experiência
de trocar de emprego. Ao fazê-lo, é altamente recomendável adotar uma postura
que mantenha abertas as portas da companhia da qual está se retirando.
Os motivos são muitos. Primeiro por uma questão de marketing pessoal,
valorizando sua própria imagem como profissional dentro da empresa e perante o
mercado. Segundo porque o mundo é pequeno e dá voltas, como se diz por aí.
Empresas estão constantemente passando por fusões e incorporações e os
executivos estão sempre migrando de uma corporação para outra. Assim, é grande a
probabilidade de você voltar a atuar sob a tutela de um mesmo chefe ou
conglomerado. E terceiro porque você pode não ser bem sucedido no novo emprego e
tentar o retorno ao antigo posto.
Compreendido isso, reflita sobre as sugestões a seguir num eventual processo de
transição de emprego.
1. Seja transparente. Ao surgir uma nova oportunidade e após analisá-la,
na medida em que as negociações avançarem de forma consistente, reúna-se com o
empregador para informá-lo de sua decisão. Jogue aberto e não deixe para
comunicar seus passos na última hora - a informação pode chegar por outras
fontes e comprometer sua imagem e credibilidade. Lembre-se também de avisar sua
equipe de sua saída, procurando tranqüilizá-los.
2. Apresente seus motivos. Se a mudança estiver vinculada a uma grande
oportunidade de crescimento pessoal, explique que deseja aproveitá-la, mesmo
ciente dos riscos. Se o motivo for um melhor pacote de remuneração, comunique
isso com clareza, mas esteja preparado para receber uma eventual contraproposta,
podendo aceitá-la ou recusá-la, porém sem jamais entrar em um leilão com os
empregadores atuais e potenciais sob o risco de ficar sem nenhum dos dois
empregos. Agora, se a mudança deve-se a uma insatisfação com a estrutura da
empresa ou com a liderança a que está submetido, prefira argumentar que há uma
"incompatibilidade de idéias", ou seja, use de eufemismos para cair fora com
elegância.
3. Prepare a transição. Em verdade, o trabalho de preparar um sucessor é
atribuição de todo bom profissional e deve ser iniciado logo ao ingressar na
empresa. Afinal, você se torna insubstituível quando se torna substituível.
Todavia, se conduziu seu cargo com mão de ferro, num estilo centralizador,
deverá se desdobrar para selecionar em sua equipe a pessoa que julgar mais
qualificada e instruí-la para assumir suas responsabilidades. É uma questão
primordial e de respeito para com a companhia sair deixando-a em condições de
prosseguir com sua rotina.
4. Elabore um manual. Faça um manual de procedimentos gerenciais
contemplando aspectos tidos como fundamentais à luz de sua experiência diante da
organização. Encare o documento, de algumas páginas, como um último relatório de
suas atividades, procurando orientar seu substituto e aproveitando para
registrar as conquistas auferidas durante sua gestão.
5. Dê assistência. A rigor, a legislação brasileira pede um aviso prévio
de 30 dias. Se for possível, permaneça à frente dos negócios por este período
ou, no mínimo, por 15 dias, a fim de contribuir com o processo de transição.
Porém, se o início na outra empresa for imediato, coloque-se à disposição para
esclarecer dúvidas por telefone ou e-mail dentro do mesmo prazo em que cumpriria
o aviso prévio. Evidentemente, esta colaboração deve ser feita sem interferir em
sua nova atividade.
6. Negocie a rescisão. Suas verbas rescisórias são direitos adquiridos. Faça
uma negociação justa, evitando cair na armadilha de empresas que procuram se
esquivar de suas obrigações sob o pretexto de deixarem as portas abertas.
Considere até mesmo nomear um procurador para representá-lo.
As dicas acima foram postuladas sob a ótica do profissional que pede seu
desligamento da empresa. É óbvio que no caso de uma demissão sumária, inclusive
aquelas com aviso prévio indenizado, o quadro é outro. Entretanto, mesmo nesta
situação, vale o alerta de que demonstrar amargura ou reclamar não ajudará em
nada. Sempre, sempre demonstre apreço por ter trabalhado na companhia, mesmo que
tenha abominado a experiência. Inclusive esta deve ser sua conduta quando
entrevistado por outra organização.
No caso de a transição em curso ser para uma empresa concorrente, é evidente que
não haverá a possibilidade de cumprir aviso ou dar assistência nos moldes
propostos. Nesta circunstância, a transparência ganha relevância suprema,
estando associada à ética e ao profissionalismo no que tange ao respeito ao
sigilo dos dados estratégicos da companhia demissionária.
Por fim, lembre-se de que seu antigo empregador será uma referência permanente
em seu currículo, acompanhando-o por toda a vida. Cultive uma boa imagem. É um
patrimônio que vale preservar.