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Carreira / Emprego - Psicologia do senso-comum? 

Data: 19/12/2008

 
 

Todos nós no dia-a-dia ouvimos falar de psicologia e de psicólogos, mas na verdade ainda resta muita confusão entre a sua verdadeira conotação científica e o significado que muitas das pessoas lhes dá.

Pensa-se muitas vezes que psicólogo é aquele que abana com a cabeça e responde assertivamente às questões que se lhe colocam, trazendo milagrosamente a cura para os problemas do paciente (ou cliente, consolente, utente, como lhe queiram chamar). Espera-se dele tudo o que até então não foi conseguido, como que se ele tivesse um poder mágico ou sobrenatural.

No entanto, infelizmente ainda se encontram muitos charlatães, que sem aptidão profissional exercem a profissão de psicólogos, eludindo pessoas com falsas esperanças, só para poder angariar algum dinheiro, o que contribui para agravar ainda mais o estado do paciente que o procura.

Também há por aí muitos curandeiros, que procuram a “libertação da mente”, dos “problemas espirituais” dos homens, com métodos (se assim se podem chamar) que nem eu mesma sei designar.

Mas afinal qual é o papel do psicólogo, o que é que ele faz, qual o seu âmbito de actuação, e o que o distingue das outras artes?

Psicólogo é um profissional devidamente qualificado para o exercício profissional da psicologia, que usa métodos e técnicas científicas, devidamente estruturadas, que actua no sentido da prevenção, promoção e desenvolvimento psicológico, em situações normativas ou não-normativas. O seu principal foco é o comportamento humano. Estuda também situações que se desviam do normal, chamadas psicopatológicas, no sentido clínico. Não aborda somente a pessoa (como as outras abordagens), mas sim o indivíduo no seu contexto, que é alvo de múltiplas inter-ocorrências. Isto faz todo o sentido, pois o sujeito não vive isolado dos outros, sendo influenciado por todas as determinantes que ocorrem no seu meio. Por exemplo, uma criança pode manifestar problemas de aprendizagem na escola, sendo que por detrás disso estão problemas de sono, instabilidade do humor, problemas e conflitos familiares, desemprego dos pais, meio sócio-económico precário, marginalidade... Portanto, faz sentido analisar-se o sujeito como um todo, não como uma entidade isolada.

O que torna complexa a psicologia e os seus modos de intervenção são, tanto a complexidade de actuação em todos os contextos de inter-relação do sujeito, como a singularidade dos problemas individuais. O que quero dizer com isto é que não há dois sujeitos que tenham o mesmo problema, porque ele não pode ser visto da mesma forma. Assim, a intervenção tem de adaptada a cada pessoa. Há manuais que ajudam a identificar conjuntos de sintomas, mas apenas servem para fazer diagnósticos, não se constituem, obviamente, como instrumentos únicos, apenas como meios auxiliares. Por outro lado, julgo importante precisar que o poder de mudança não cabe somente ao terapeuta, sendo que o paciente exerce um importante papel. Trata-se de um “jogo de cooperação”, em que o terapeuta vai progressivamente concedendo o poder de mudança ao cliente, ajudando-o a alcançar sempre patamares mais elevados, funcionando a terapia como um local de experimentação de comportamentos difíceis de alcançar, e o técnico como uma base de segurança. Tal como as mães para os bebés. Os terapeutas também se preocupam com os doentes (ou deveriam realmente preocupar), e anseiam tanto pela cura como os mesmos. Não sugestionam as pessoas, nem condicionam o seu futuro com promessas irrisórias. Antes, definem objectivos realistas, que visam uma melhoria, ajustamento ou desenvolvimento psicológico dentro dos trâmites normativos. E a necessidade destes profissionais é tão premente, que todas as pessoas, em qualquer momento da sua vida já necessitaram dos seus serviços, mas que por escassez de recursos ou de informação, estiveram privadas deles. Isto deve-se não à falta de iniciativa dos psicólogos em promover os seus serviços, mas às barreiras burocráticas, legislativas e laborais que se lhes colocam. Entidades governamentais deviam antes pensar no bem-estar dos nossos cidadãos, ao invés de limitar o âmbito de actuação destes profissionais em que a precariedade laboral é cada vez mais visível.

Pense-se nisso.



 
Referência: psicologia.com.pt
Autor: Joana Patrícia Dias
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