Está ai uma situação interessante para discutirmos. Chegamos ao meio de mais
um mês. Como andam suas finanças até aqui? Seus compromissos estão em dia? Seus
investimentos foram devidamente alimentados? E os gastos do restante do mês?
Serão gerenciados sem que haja nenhum susto? Como já vimos anteriormente, o
saldo e a movimentação financeira de uma pessoa revelam muito de seu perfil e de
sua inteligência financeira.
Imagine que você fosse me apresentar agora sua situação financeira, bem no
meio do mês? Como seria minha reação? Será que as contas e o orçamento estão
mesmo sendo respeitados? Ou será que uma falha fez com que você aplicasse um
dinheiro já comprometido? Muita gente possui mecanismos e ferramentas poderosas
para o orçamento, mas ainda movimenta recursos pra lá e pra cá de forma
ineficiente e desnecessária. Será esse o seu caso? Quem é você nessa história
toda?
Durante minhas experiências e estudos com colaboradores, pude perceber que
existem quatro grupos facilmente identificáveis através do cruzamento entre
planejamento familiar e extrato bancário de meio de mês:
O pão-duro
Esse é clássico. O orçamento está extremamente enxuto, o planejamento em dia
e as finanças folgadas. O orçamento contempla poucas despesas, normalmente bem
categorizadas e o extrato demonstra fôlego suficiente para garantir
tranqüilidade ao restante do mês.
Problema do pão-duro: extremamente conservador, ele prefere
“tocar” seu dinheiro. Investe em imóveis, caderneta de poupança e renda fixa
porque é “mais seguro, mais palpável”. Ele é normalmente incapaz de investir em
ações (e de aceitar que isso seja uma boa idéia) e acredita que educação
financeira se resume ao que sua família lhe ensinou. Ele não sabe o que é renda
passiva (você sabe?).
Dicas para o pão-duro: Ele deve entender um pouco mais sobre
liquidez e parar de pensar que dinheiro só se ganha depois de muito suor.
Dinheiro fácil não existe, mas imprimir velocidade ao dinheiro pode fazer muita
diferença.
O sonhador sabe-tudo
Perfil típico de jovens e casais recém casados que têm boa renda mensal.
Para eles, a vida é agora e “amanhã a gente se preocupa com amanhã”. Mas não se
engane, eles já ouviram falar de tudo que você imagina. Pergunte algo sobre
ações e eles vão falar da Vale, Petrobrás e dos anos com boa rentabilidade.
Pergunte da inflação e eles vão afirmar que os preços estão mais controlados e
que a economia anda melhor por causa disso. Eles sempre têm uma resposta para
tudo, mas atitude para quase nada! E vá dizer que é esse o problema deles. Xii,
fazem um drama.
O problema do sabe-tudo: ele é um falso autodidata que, sem
saber o que fazer para executar uma boa manobra financeira, prefere viver tendo
o que pode com pouco ou nenhum planejamento para o futuro. Podem apresentar uma
boa situação financeira no meio do mês, mas dificilmente possuem um orçamento
bem definido. Podem ter dinheiro sobrando, mas não sabem quanto isso representa,
nem se a quantia é suficiente ou não para o que vem pela frente. Eles vivem
(será que eles é que estão certos?).
Dicas para o sabe-tudo: humildade para aprender mais sobre si
mesmo e entender que planejar é sinônimo de respeitar seu próprio patrimônio,
hoje e amanhã. Aproveitar a inteligência e motivação que possuem para pensar
mais no futuro de seu dinheiro.
O procastinador ou que espera por um milagre
Esse é um dos tipos mais comuns. Geralmente há orçamento formal, mas que muitas
vezes é mal feito por simples falta de atenção ou motivação. O sujeito se
prepara para as contas e mantém um certo controle sobre suas movimentações
financeiras. No entanto seus resgates, aplicações e retiradas são muito
inconstantes. Ele cai nas armadilhas mais banais. Há meses em que as contas
estouram, há meses em que os saques em dinheiro aumentam muito. Ah, algumas
vezes ele coloca o dinheiro na poupança e tira poucos dias depois porque
calculou “mal” suas despesas. Esse efeito se potencializa do dia 15 em diante.
Problemas: ele não acredita que com um pouco de esforço e
dedicação pode organizar sua agenda financeira. Culpa o baixo salário, a falta
de tempo e “as estrelas” por sua montanha russa monetária. Ele tenta provar que
é organizado, mostra diversas planilhas e livros de finanças, mas que sequer
foram usados ou lidos.
Dicas: Passar a fazer mais do que reclamar. Normalmente
responsável com as coisas dos outros, ele precisa trazer a motivação para dentro
de casa e fazer também sua lição. Já viu esse tipo por ai?
O preparado
Ele é muito coerente e inteligente. Normalmente não fica por ai demonstrando
seus conhecimentos ou fazendo negócios mirabolantes. Ele prefere entender e
respeitar seu dinheiro, aplicando naquilo que melhor representa sua
personalidade, permanecendo ciente dos riscos e problemas que pode enfrentar.
Ele acredita que é possível alcançar a independência financeira que deseja e que
isso não é luxo de quem tem muito dinheiro. Tranqüilo, ele tem fé em seu
potencial. Ele é capaz de chegar ao final do mês com o fôlego do pão-duro já
tendo investido parte de suas receitas. Mas ele não é perfeito, nem muito comum.
Problemas do preparado: ele costuma desconfiar das boas ofertas
do mercado e pode perder bons negócios. Além disso, se ele for conservador, seus
retornos tendem a ser mais baixos. Seu planejamento nem sempre é bem feito,
embora ele seja rigorosamente seguido. Ele é muito inflexível com a reavaliação
dos gastos e receitas e costuma não se dar muito bem com variações salariais
constantes e mudanças de padrão de vida.
Dicas: revisar, pelo menos trimestralmente, todo seu
planejamento financeiro, podendo dar folga para algumas despesas fixas ou
tratando de atualizar os montantes poupados todo mês.
Você pode não ter se identificado com nenhum dos perfis citados neste artigo
ou ter se visto como sendo parte de todos eles. Não se desespere. Como toda e
qualquer observação, existem muitos tipos que são compartilhados, sendo frutos
de uma mistura de características. Procure observar as qualidades e defeitos de
cada grupo e identifique-se honestamente.
Anote, leia em voz alta o que gostou nesse artigo, compare suas projeções com
o que você realmente quer. Pare de achar que um livro e(ou) um
blog resolverão sua vida e seus problemas. Vá atrás de uma calculadora e de um
bom canto para trabalhar.