Todas as pessoas são criativas – ainda que não saibam disso. Para
comprovar, basta uma firme disposição para desaprender paradigmas ultrapassados
e reaprender novas percepções. De quebra, três perguntinhas completam a
estratégia para fazer desabrochar o pensamento criativo.
Alguém já disse e eu acredito: atualmente, sai ganhando não a empresa que faz
mais , mas a que faz primeiro . Essa premissa deveria levar as empresas a
investir mais no desenvolvimento da capacidade de iniciativa e de ousadia do seu
pessoal responsável tanto pela criação e realização de programas internos,
quanto pelo desenvolvimento e lançamento de novos produtos e serviços.
Na maioria das empresas, muitas coisas deixam de ser feitas por não se tentar
fazê-las. E assim, ótimos negócios abortam antes de serem propostos, produtos
deixam de ser fabricados, serviços deixam de ser oferecidos, projetos não saem
do papel, boas idéias se perdem em palavras entusiasmadas, mas logo esquecidas.
Por que isso acontece, quando sabemos da ferrenha competitividade do mercado e
da ânsia geral das empresas em lançar novidades?
A este respeito, gostaria de fazer alguns comentários.
Alguns profissionais – apesar de altamente competentes – têm como forte
característica de personalidade o excesso de cautela, de prudência – o que, não
raro, deixa-os a um passo do tradicionalismo e do convencionalismo. Tais
profissionais limitam-se a fazer o óbvio, o lógico e o convencional. Enquanto
isso, outros profissionais pecam pelo extremo oposto: são também competentes,
mas inconseqüentemente ousados, aventureiros e jogadores, correndo ou fazendo a
empresa correr riscos desnecessários.
Bom, nem tanto ao Céu, nem tanto à Terra. Bom senso e equilíbrio não fazem mal a
ninguém.
Claro que aquela primeira e tímida postura não favorece em nada nenhum tipo de
crescimento ou desenvolvimento. Nada teria sido inventado ou descoberto ao longo
de toda a história da Humanidade – em qualquer área e segmento da vida humana –
se arrojados pioneiros não tivessem tentado ações consideradas como “absurdas” e
“impossíveis”. Eu penso nisso toda vez que vou colocar minhas lentes de contato.
Já pensaram na reação da equipe daquele “louco” quando, pela primeira vez, teve
a “absurda” idéia de propor a fabricação de “pequenos círculos de vidro” para
serem aplicados diretamente sobre nossos sensíveis olhos?
Para dar um exemplo mais atual: até há pouco tempo, alguém pensaria ser
possível, viável ou lucrativo fabricar uma máquina fotográfica sem filme ? E, no
entanto, estão aí as câmeras digitais vendendo que nem água (a propósito, água
vende muito?).
É por essas e outras que a criatividade anda em alta nas empresas. O mercado
está apinhado de livros, consultores, cursos e palestras sobre o tema. E isso é
muito bom, porque ainda tem muita coisa para ser renovada, recriada, repensada e
mesmo criada nos processos administrativos e operacionais das empresas. E há
principalmente muita coisa para ser descoberta ou inventada e oferecida a um
mercado sempre receptivo a novidades interessantes ou úteis.
Nos meus tempos de consultor, eu me divertia muito falando sobre Criatividade .
Até porque criatividade é algo intimamente relacionado com alegria e bom humor.
Não existem pessoas mal humoradas que sejam criativas – e vice-versa. Pessoas
mal humoradas costumam ser formais; pessoais formais têm o pensamento
essencialmente linear. E a criatividade se movimenta através de caminhos
tortuosos e imprevisíveis. Looogo...
Como estava dizendo, desde que as aprendi, sempre usei e até hoje recomendo três
perguntas “mágicas” para ajudar no desabrochar da criatividade. Acho mesmo que
todo profissional que trabalha com propaganda, marketing, pesquisa, criação,
desenvolvimento de projetos, produtos e serviços, deveria imprimir estas três
perguntas em letras garrafais e afixá-las em sua sala de trabalho, em lugar bem
visível:
PRIMEIRA PERGUNTA: “E SE...?” – Tudo aquilo que um dia se criou e se
inventou começou por essa pergunta. E se ...fabricássemos um carro que voa? Veio
o primeiro e rudimentar avião. E se fabricássemos uma caixa através da qual a
gente pudesse ouvir e ver imagens? Veio a televisão. E se fossemos até Marte? E
se desintegrássemos o átomo? E se misturarmos “a” com “b”? E se adicionarmos...?
Faça uma experiência prática na sua casa: nestes dias chuvosos de inverno,
quando toda a família está sem poder sair, reúna o pessoal e convide todo mundo
a dar idéias a respeito de como preencher criativamente o tempo, começando a
sugestão sempre por “ E se ...?”.
SEGUNDA PERGUNTA: “E POR QUE NÃO?” – A melhor idéia do mundo não
resultará em nada se a reação interior de quem a propõe não for “ E por que não?
”. Ou seja, a própria pessoa precisa acreditar no seu taco. A mesma reação é
esperada da equipe de trabalho: “ E por que não? ”. Repito: num processo
criativo, após você expressar sua idéia, é absolutamente indispensável que a
reação da sua equipe seja: “ E POR QUE NÃO? ” Esta reação significa um voto de
confiança na sua idéia. Significa: “Sim, por que não tentar?” ou então “Ok,
vamos examinar melhor essa idéia e ver no que dá!”. Sem esta postura receptiva,
a boa idéia “morre” ali mesmo. É muito fácil “matar” uma boa idéia. Basta alguém
retrucar, secamente, com uma das frases abaixo:
1. Não dá.
2. Não pode.
3. Não funciona.
4. Não dá certo.
5. Não acredito nisso.
6. Não tem mercado.
7. Não é possível.
8. É muito difícil.
9. Não compensa.
10.Não faz sentido.
TERCEIRA PERGUNTA: “E QUE MAIS?” - Não basta apenas uma ótima idéia.
Precisamos de várias. Dezenas, centenas, um monte delas. Quanto mais, melhor .
Depois, que seja feita uma lista delas e sejam definidas prioridades.
O passo seguinte deste processo de resposta às três perguntas é a ação , o fazer
acontecer . Idéias maravilhosas que não resultam em ações, não passam de
brincadeira de “vamos ver quem é mais gênio?”.
Finalizando: quantas vezes você não já se surpreendeu diante do anúncio de um
produto ou serviço inovador e se perguntou: “ Caramba! Como ninguém pensou nisso
antes ?” Se isso acontece com relação a um produto ou serviço que não tem nada a
ver com o que se fabrica na sua empresa, menos mal. Chato mesmo é quando se
trata de um produto da concorrência.
Você não vai esperar que isso aconteça, vai?