Daqui a menos de dez anos, eles estarão no mercado de trabalho. Seus
comportamentos ditarão tendências. Suas escolhas, o futuro de empresas. Quem são
os jovens que ingressam agora nas universidades?
Sua formação é bastante interessante: muitos deles são filhos daqueles jovens
que iam às ruas para brigar contra a ditadura militar. "Em 1960/70,
fundamentalmente o modelo de juventude era participativo, transformador da
sociedade e protagonista de movimentos culturais. Juventude era sinônimo de
estudante universitário", afirmou a antropóloga do Programa de Pós-Graduação em
Ciências Sociais da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica), Silvia Borelli.
A partir do final dos anos 1970 e começo dos 1980, o modelo de juventude muda.
Começam a dizer que os estudantes universitários não são mais participativos,
mas consumistas. "Chega-se à idéia do jovem alienado", afirmou ela.
As próximas gerações
Os jovens dos anos 1960 e 1970 crescem, se casam, têm filhos, e tendem a
protegê-los demais. "É aquele pai que leva o filho até a porta da faculdade de
carro", descreveu Silvia.
A criação passa a ser diferente. Os pais chegam a gerenciar a vida destes
jovens, que já estão na faculdade. Ainda existe uma tendência de os filhos de 30
anos morarem na casa dos pais. Enfim, adia-se a responsabilidade da vida adulta.
Por outro lado, esta geração tem uma característica que é só dela: "a
sensibilidade com a tecnologia, com imagens e a capacidade de criar. Produzir
outras formas de cultura. Essa é uma marca muito forte", disse a antropóloga.
Escolhas
Em relação à vida profissional, esses jovens têm uma dificuldade muito grande em
escolher a carreira a seguir. "Saber o que quer tem muito a ver com a
diversidade que o mundo está dando. Na década de 1960/70, tinha o bloco das
carreiras médicas, de direitos e as humanidades. A opção era muito mais restrita
até a década de 1970", conta Silvia.
Depois disso, passaram a aumentar as possibilidades, ainda mais com a chegada
das carreiras ligadas à tecnologia.
Apesar de a escolha estar mais difícil, o ingresso nas universidades continua na
mesma faixa etária. "Eles continuam entrando com 17 ou 18 anos na faculdade",
explicou a antropóloga.
Individualista?
Questionada sobre se estes jovens tendem a ser mais individualistas, estimulados
pela tecnologia, Silvia afirmou que não. "Desde o século XIX estamos sendo
impelidos ao individualismo, mas o chamado para o coletivo é muito forte", disse
ela.
"Quando você entra no quarto de um jovem, parece que ele é fechado do mundo: tem
seu próprio telefone, o celular, o Ipod, o MP3, mas essas tecnologias não
sobrevivem sem uma tendência coletiva. Para fazer sozinho, tem que estar plugado
no coletivo".