Existem dois motivos clássicos que costumam levar um executivo a pensar em
trocar de emprego. O primeiro é a falta de perspectiva de crescimento na
companhia. O segundo pode ser um chefe ruim. Pesquisa realizada pela Career
Center com 120 profissionais brasileiros mostrou que outros fatores agora estão
reforçando essa vontade de repensa a carreira. Entre eles destacam-se os
processos de reestruturação das empresas. É o momento em que as coisas mudam e o
diretor ou gerente fica sem encontrar seu lugar na nova organização.
"As pessoas hoje estão olhando mais para o mercado, o que acontece do lado de
fora. A mudança de departamento ou de chefe já não é tão relevante", diz Luciana
Sarkosy, sócia do Career Center, especializada em gestão de carreira. Segundo o
levantamento, que ouviu executivos na faixa dos 30 aos 49 anos de idade, sendo
54% com até 39 anos, 57% da área gerencial, 23% presidentes e diretores, 27%
pós-graduados, a dificuldade para subir na hierarquia da companhia ainda é o que
mais pesa na hora de tomar a decisão de procurar outro emprego. "Mas as pessoas
só se mexem quando sentem um desconforto como, por exemplo, no momento de uma
mudança interna", diz o consultor Sami Boulos, coordenador da pesquisa.
O executivo André Cunha, 42 anos, atual diretor de exportação da Enaex, segunda
maior empresa chilena da área química, com faturamento de US$ 150 milhões
anuais, só decidiu repensar sua trajetória profissional quando a empresa na qual
trabalhava alterou sua política interna de promoções. Até meados do ano passado,
ele trabalhava na Fosfertil como gerente comercial. Com 11 anos de casa,
acreditava que o caminho natural seria ser indicado em uma eventual mudança de
diretoria em sua área. "Apostava nisso", conta.
As coisas, entretanto, não caminharam como ele gostaria. Segundo Cunha, a
companhia mudou sua política de promoções e o conselho de administração passou a
ter um peso maior na indicação dos novos diretores. "Quando nomearam um novo na
minha área vi que minha chance de ser promovido tinha se reduzido", diz. "Achava
que tinha muito mais bala que ele". A falta de perspectiva fez Cunha procurar um
serviço de orientação de carreira e acionar seu "network". "Tinha vontade de
investir numa carreira internacional e passei a contar isso para algumas
pessoas", lembra.
O boca-a-boca deu certo. Cunha agora passa boa parte de seu tempo viajando pelo
mundo fechando contratos de exportação para a Enaex. "Estou muito feliz com o
que faço hoje", disse em entrevista, por telefone, no aeroporto de São
Petersburgo, na Rússia, antes de embarcar para mais uma viagem de negócios.
Atualmente, mora no Chile com a família. Cunha já havia morado no exterior antes
quando fez o MBA na Universidade de Toronto, no Canadá, financiado por seu
antigo empregador.
Quando o executivo investe do próprio bolso em sua formação, a expectativa em
relação ao reconhecimento na empresa aumenta proporcionalmente à ampliação de
seus conhecimentos. Foi o que aconteceu com Marcus Vinicius Cordeiro de Menezes,
33 anos, atual gerente nacional de vendas da área de home center da Deca,
empresa do grupo Itaúsa. Antes de ingressar na companhia, ele trabalhava na
Borsch, onde entrou em 2000 como gerente de vendas internacionais. Aos 27 anos,
chegou a gerente de exportações, mas sua ambição era maior. Ao concluir o MBA e
após cinco anos de empresa, chegou à conclusão que precisava dar uma acelerada
na carreira. "Quero ser presidente, ocupar altos cargos", diz.
Selecionado para iniciar um mestrado este ano, Menezes achava que no antigo
emprego sua ascensão demoraria mais. "Tinha medo de ficar velho demais, porque
quero chegar a um cargo de diretor até os 40 anos". Ele então acionou amigos,
colocou o currículo embaixo do braço e foi à luta. "Consegui fazer uma transição
horizontal", diz. Mudou do setor de autopeças para o de construção civil.
Conquistou um cargo semelhante ao anterior. "A diferença é que recebi uma
proposta para reestruturar uma área. Achei que a experiência seria muito boa
para minha carreira", diz. A questão financeira não foi decisiva, segundo ele. O
fato estar atuando num grupo nacional, para Menezes, ajuda a diminuir a
concorrência na hora das promoções internas. "Não tenho que disputar com
estrangeiros", explica.
A preocupação com o futuro é muitas vezes o que faz os profissionais repensarem
o presente. Eliane Bandeira, 43 anos, desde fevereiro ouviu cinco propostas de
headhunters para voltar ao mercado, mas isso está bem longe de seus planos no
momento. Em fevereiro, ela deixou a gerência de marketing da Cultura Inglesa
para estruturar sua própria consultoria de marketing educacional e cultural.
"Quanto mais velho e maduro o profissional fica, mais ele sente a necessidade de
ter independência", diz. "Não me vejo com o currículo na mão procurando emprego
depois dos 50 anos".
Eliane tem um currículo invejável. Começou a trabalhar cedo, aos 13 anos, na
área de vendas. Estudou administração na Inglaterra e seu primeiro emprego foi
como gerente em uma rede de cervejarias inglesa. Aos 26 anos, morava em Londres
e era responsável pelas vendas da companhia na Europa. Voltou para o Brasil para
trabalhar na Sonopress. Lá ficou por seis anos até ir para a Cultura Inglesa.
"Comecei na Sonopress como gerente de CD Rom e cheguei a gerente de marketing e
novos negócios", conta. "Sempre gostei de lançar produtos, fazer coisas novas".
Montando o próprio negócio, Eliane acredita que poderá dar vazão ao seu lado
empreendedor e garantir um emprego para o futuro. "Hoje sei que estamos em uma
empresa apenas por um tempo transitório. Antes, eu me preocupava em manter minha
identidade corporativa. Tinha uma falsa sensação de segurança", conta. Hoje, ela
mantém também uma sociedade em uma loja de roupas. "Está sendo uma experiência
muito diferente". O que mudou, na sua visão sobre a carreira, é que não agora
ela tem medo de arriscar a própria pele. "Veja os exemplos dos grandes
empreendedores, um dia eles enxergaram uma oportunidade e apostaram tudo nisso".