A palavra "chefe", em si, carrega um simbolismo muito forte. Em um passado
não muito distante, chefe era aquele que gritava, humilhava e rasgava cópias de
projetos. Fazia tudo isso em nome da ordem na casa. Eram os resquícios do
fordismo, segundo o qual os funcionários de uma empresa não precisavam "pensar",
apenas operar e produzir muito.
Os tempos mudaram. Hoje, com o acirramento da competitividade nas empresas, os
profissionais passaram a ser chamados de talentos e os empresários se deram
conta da importância do capital intelectual para sobreviverem. É o fim das
humilhações. Será? Não. Muitos ainda têm medo do chefe e líderes que não
nasceram para liderar preferem exercer o cargo à moda antiga.
O chefe durão
"Tem chefe que é durão porque teme que alguém venha a ocupar seu cargo, o que é
besteira. E pessoas assim fazem mal aos funcionários. Tudo que é simples toma
uma dimensão desproporcional", afirma o sócio da consultoria de processos
seletivos Steer Recursos Humanos, Ivan Witt. "Pode ser que alguns chefes tenham
essa postura porque obtiveram resultados positivos no passado, então tendem a
pensar que o sucesso está ligado a esse tipo de comportamento".
O resultado é negativo para o funcionário, que deixa de ser participativo. "Se o
chefe dá cinco tiros toda vez que alguém fala, então como alguém se
disponibilizaria para dar sua opinião?", questiona Witt. Além disso, o
profissional não consegue ser produtivo em ambientes nos quais se sente
hostilizado. "Em ambientes favoráveis, erros também acontecem, mas são vistos
como oportunidades para melhorias".
Se o profissional já tentou conversar com o chefe a respeito do problema, mas
não conseguiu, deve começar a procurar outro emprego antes que apareçam as
doenças psicossomáticas (causadas por sentimentos negativos como o estresse e a
tristeza). É o caso da gastrite e das alergias, por exemplo.
Quando medo não é real
O especialista em Carreiras alerta que é normal que os líderes façam observações
daquilo que não saiu a contento. "Afinal, ele é responsável pelo trabalho de
todos que reportam a ele e deve ser atendido da melhor maneira possível. Não
conheço chefe que não gosta de bons resultados".
"O que causa estranheza é a barreira do medo, a qual nem sempre é imposta pelo
chefe. Muitas vezes, as próprias pessoas criam uma percepção de medo. Pode ser
que tenham tido um histórico negativo no que se refere a chefes, mas não
significa que todos os líderes sejam injustos", pondera Witt. "Antes, os chefes
colocavam suas opiniões à força. Hoje, não tem mais espaço para isso. Pessoas
com esse estilo de liderança estão fadadas ao fracasso".
Então, fica o recado: antes de temer o chefe, achar que será demitido, ou ter
receio de dar suas opiniões, reflita sobre o fundamento desse sentimento, o
medo.