Carreira / Emprego - O nome disso é inveja! Conheça suas causas e conseqüências para carreira
Inveja é o pesar pelo bem ou pela felicidade do outro. É um desejo violento de
possuir o bem alheio. "Parece inadmissível o despertar de um sentimento
considerado tão deplorável no ambiente corporativo. Mas, quando ele aparece,
surge com uma sutileza inigualável, em comportamentos até considerados
inadequados, mas muitas vezes fomentados pelas próprias lideranças", explica a
diretora de educação corporativa da Leme Consultoria, Marcia Vespa.
Não se trata de um sentimento raro na vida profissional. Inclusive, há lugares
propícios a ele. "Quando a confiança e a credibilidade entre líderes e liderados
não estão instauradas; quando o discurso não condiz com a prática; quando não há
alinhamento entre objetivos pessoais e organizacionais; quando as metas não são
claras; e o potencial humano não é despertado, reconhecido e recompensado, o
ambiente está fértil para o nascimento da inveja", avisa ela.
Inveja positiva
Porém, a inveja não é de todo negativa. "Se pensarmos na inveja como o desejo de
possuir o bem alheio, entendendo esse bem como conhecimento, crescimento e
evolução, o que até então era visto como pejorativo, pode se transformar em
inveja positiva. Se é que podemos chamar de inveja", diz Marcia.
Para ela, querer ser ou ter algo que alguém próximo possui pode denotar inveja,
somente se a conquista implicar necessariamente perdas para o outro. "Agora, que
bom termos modelos que orientam os nossos sonhos de crescimento. Eu quero ser
você amanhã porque o admiro. Isso é extremamente saudável. Mas, se o seu querer
implicar no outro deixar de ter, aí você pode se denominar invejoso".
Para a consultora do IDORT/SP, Aparecida Bucater, primeiramente, é preciso
entender que é natural admirarmos o sucesso e as realizações do outro. "E
aceitar que é da natureza humana a necessidade de sentir-se reconhecido,
valorizado, de querer fazer melhor. Podemos chamar certo grau de inveja de
'inveja do bem', que funciona como um impulso para as realizações, para a
transformação".
Quando ela se torna um problema...
Da mesma forma que é preciso compreender por que sentimos a inveja, é preciso
perceber quando essa vontade de ser melhor torna-se negativa, de acordo com
Aparecida. "Quando esse desejo crônico de ter ou ser o que o outro é provoca
dor, angústia, desgosto e insatisfação, bem como leva a pessoa a estar
constantemente se comparando com os outros. Quando, num pensamento mesquinho e
destrutivo, nos consideramos muito mais dignos do que aquele que possui o que
não temos".
A consultora do IDORT/SP explica que a inveja nasce da auto-rejeição, diminuindo
a auto-estima e minando o crescimento pessoal. "Somos as grandes vítimas da
inveja que nutrimos do outro. Nos tornamos a causa e a conseqüência de nossas
dores e prazeres".
Aparecida diz que alguns sinais denunciam que a inveja se tornou destrutiva:
- Estar sempre "reparando", atento e vigilante ao que o outro faz, compra,
consegue obter na vida;
- Ter o hábito da crítica destrutiva;
- Ser maledicente;
- Estar sempre se comparando com os outros;
- Demonstrar pesar com o sofrimento do outro, mas no fundo achar "que ele
mereceu";
Segundo ela, a inveja é um vício e, como tal, deve ser combatido - não
reprimido. "Combater significa aprimorar as virtudes (auto-estima, compreensão,
tolerância, humildade), a partir do auconhecimento e da autoperceção".
Reconheça que sente inveja
É importante reconhecer o sentimento, no lugar de ignorá-lo. Segundo Marcia, é
muito difícil alguém se assumir como invejoso. "A sociedade repugna esse
sentimento, considerando-o fútil, infantil e inadequado. Isto é suficiente para
que ele seja camuflado ganhando aparências e roupagens do que é socialmente
aceito", alerta.
A questão é que todo sentimento negativo pode acarretar resultados desastrosos,
tanto para quem sente quanto para quem é o alvo. "Se eu não me conheço, não
tenho como medir o impacto do meu comportamento no outro, no ambiente e nos
resultados da equipe e empresa", revela a diretora da Leme Consultoria.
A inveja no ambiente corporativo impede que as pessoas enxerguem seus próprios
talentos e aspirações, porque elas perdem muito tempo se comparando com o
próximo e tentando imitar o modelo do profissional bem-sucedido. Isso trava o
crescimento profissional, segundo Aparecida. É bom se inspirar, mas nunca
copiar.
"É natural e saudável a competição no ambiente de trabalho. Todos queremos ser e
fazer melhor, obter reconhecimento, inclusive financeiro, mas ela se torna
negativa quando desperta rancor, maledicência, boicote e destrói, no lugar de
construir. Cabe a você estar atento para não se deixar envolver neste perigoso
jogo", diz Aparecida, que avisa: devemos buscar em nós mesmos o que nos faz
feliz. "Cada um, em sua individualidade, possui habilidades, virtudes,
limitações, vícios e, principalmente, a possibilidade de ser quem quiser".
O papel da empresa
Marcia conta que não enxerga a inveja negativa em ambientes em que a
transparência, a franqueza e a clareza se fazem presentes. "Em lugares nos quais
os valores empresariais são traduzidos em comportamentos observáveis, elogiados
publicamente e punidos quando negligenciados. Até porque não haverá espaço para
ela".
Entretanto, empresas que medem o desempenho humano tendo o resultado como foco
único podem desenvolver um ambiente fortemente competitivo, no qual o individual
sobressai o coletivo. Essas organizações ainda não perceberam que, hoje, não
existem vitórias solitárias. "Para chegar lá, alguém inegavelmente contribuiu",
diz a diretora de educação corporativa da Leme Consultoria.
"Cabe às organizações, representadas por suas lideranças, conduzir as equipe de
forma a estimular o crescimento, a corrida saudável pelo melhor, e não estimular
um clima de competição destrutiva que acabará por comprometer os próprios
resultados esperados pela organização. Isso sem falar do mal que faz à saúde
organizacional", diz Aparecida.
Luta contra a inveja
"Se o ambiente for de transparência, as pessoas têm liberdade para expressar as
suas opiniões e percepções", explica Marcia, que defende que os líderes devem
criar espaços para as pessoas esboçarem as suas percepções. "Toda observação
humana tem o seu viés de subjetividade, mas esta pode ser reduzida, se houver
homogeneidade nas percepções dos que integram uma equipe".
A diretora aconselha ao líder deixar claro que comportamentos que denotam inveja
são desnecessários, que, na sua empresa, toda pessoa é entendida, reconhecida e
recompensada como potencial.
"Faça as pessoas assumirem as rédeas da sua própria vida. Tire-as da condição de
vítimas. Agora, se as pessoas não são ainda percebidas como o ativo mais
importante, se você acredita que a competição interna é saudável, pois tira as
pessoas da zona de conforto e as coloca em estado de alerta, assuma as suas
responsabilidades sobre o ambiente que está criando".
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