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Negócios / Empreendedorismo - Como funcionam as cooperativas de catadores  

Data: 21/10/2008

 
 

No Brasil, é impensável falar em reciclagem sem citar os catadores de materiais e suas cooperativas. Não existem números fechados, mas calcula-se que existam de 300 mil a 1 milhão de catadores em atividade no país. Os dados são do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis (MNCR), que, no final de 2006, registrava 450 cooperativas formalizadas e aproximadamente 35 mil catadores em seus cadastros.

Imbróglio urbano

A regulamentação do uso das carroças é, ainda, uma questão mal resolvida na maioria dos municípios brasileiros.

É fato que cresceu o número de carroças em circulação nas cidades. No entanto, como a reciclagem feita por catadores é uma atividade  majoritariamente informal, sua regulamentação tornou-se insuficiente e sua fiscalização, de difícil execução.

No DF, por exemplo, o uso da carroça é permitido desde que as leis de trânsito sejam respeitadas. Em São Paulo, tenta-se ressachar a atividade exercida informalmente. Em outras cidades, apesar de pouco regulamentada, a atividade é bem vista e formentada pelos governos locais.

Não é para menos, a população brasileira gera diariamente cerca de 126 mil toneladas de lixo de consumo (excluindo dejetos industriais e empresariais). Não fossem os catadores, esta fábula de lixo acabaria integralmente em aterros sanitários e lixões. Na cidade de São Paulo, por exemplo, cerca de 20 mil catadores desviam dos lixões oito mil quilos de materiais diariamente, segundo dados de 2007.

A profissão, no entanto, não é tão glamorosa quanto o papel social e ambiental que os catadores exercem. Muito pelo contrário, a maioria deles perambula em média 30 quilômetros por dia, debaixo de chuva e sol, puxando até 400 quilos (o peso da carroça cheia), em busca de materiais que, muitas vezes, só são encontrados dentro de sacos de lixo.

Como a maioria não usa proteção (uns por falta de dinheiro, outros por falta de informação), freqüentemente ocorrem lesões ou infecções pelo manuseio o lixo. É muito comum também que sejam confundidos com mendigos ou marginais ou, o que é pior, simplesmente ignorados pela maioria das pessoas.

E como se não bastasse, alguns municípios proibiram as carroças de circular por vias e estacionar em locais públicos.

Tudo isso para ganhar de um a dois salários mínimos por mês e, com sorte, encontrar algum aparelho eletrônico que esteja funcionando.

Os atravessadores se aproveitam da frágil estrutura organizacional dos catadores e abocanham 75% do faturamento gerado pela reciclagem, segundo dados do Instituto Polis. Os catadores, por sua vez, ficam com apenas 25% da receita (e com todo o trabalho pesado).

Se vale a pena? Na maioria dos casos, não se trata de escolha, e sim de luta pela sobrevivência. Quem não consegue empregos melhores, mas tem família para criar, acaba virando catador. Apesar da insalubridade, do desprestígio social e da baixa remuneração, o dinheiro para atender necessidades latentes vêm no curto prazo.

É por isso que proliferam-se, pela maioria dos centros urbanos do País, as cooperativas de catadores de materiais reciclados. Organizados, os catadores têm obtido resultados expressivos no sentido de melhorar suas condições de trabalho e sua remuneração.

Benefícios e vantagens

As cooperativas normalmente oferecem uma série de benefícios aos associados, como estacionamento para carroças, banheiro, refeitório (em muitos casos com direito a almoço) e espaço para recebimento e separação de materiais.

Suporte
administrativo

­Para que as cooperativas não se transformem em um verdadeiro caos, é necessário que uma estrutura administrativa suporte suas operações. Estamos falando de elaboração de planilhas de controle, organização de sistemas e métodos, contas a pagar e receber e vendas. A figura do psicólogo e do assistente social também é comum nas cooperativas de catadores. O tamanho da estrutura varia de acordo com o volume de operações, e a estrutura é bancada pela contribuição dos associados que, em geral, varia entre 10 e 30% da receita de cada catador.

Por terem mais notoriedade do que os catadores, as cooperativas acabam conquistando a simpatia da vizinhança: “Oras, a cooperativa transforma potenciais marginais em trabalhadores comuns”. A vizinhança, por sua vez, tende a retribuir, firmando convênio para coleta de materiais ou simplesmente entregando os recicláveis em seus depósitos.

O grande volume de materiais coletados pela cooperativas permite que os preços sejam melhor negociados, seja com indústrias que utilizarão o material como matéria-prima, seja vendendo a atravessadores. Em última análise, a cooperativa dispensa a presença dos atravessadores, pois possui estrutura suficiente para negociar direto com o cliente final.

Por outro lado, não raro vemos cooperativas manufaturando uma parte do material coletado, no intuito de diversificar sua linha de produtos e incrementar seu faturamento. Produz-se peças de artesanato, objetos decorativos e mobiliário, entre outros. Estas atividades, em geral, envolvem a família dos cooperados e moradores de rua.

Estrutura interna

A cooperativa de catadores funciona como uma empresa: tem área administrativa, divisão de tarefas, distribuição de dividendos, etc. E para dar certo, seu mecanismo interno precisa estar muito bem “azeitado”.

Projetos sociais e ambientais

As atividades da cooperativa não (necessariamente) se limitam a venda de materiais para indústrias. É comum que sejam organizados projetos sociais e ambientais, envolvendo catadores associados, suas famílias e voluntários.

A cooperativa pode destinar uma parte dos materiais que seriam vendidos para a produção de artesanato, objetos decorativos e mobiliário, ampliando sua linha de produtos e agregando valor aos mesmos. A produção, em geral, fica por conta de familiares de catadores ou voluntários que, além de receber aulas e adquirir técnicas, podem obter algum rendimento com a atividade. Nesse sentido, a cooperativa pode formar multiplicadores e organizar cursos abertos de artesanato.

A cooperativa pode também organizar festas e confraternizações para promover a venda de produtos. Parte da arrecadação pode ser destinada a ações sociais e ambientais, como a distribuição de alimentos para moradores de rua e o plantio de árvores na cidade, estabelecendo uma relação de simbiose com a comunidade que está inserida.

A cooperativa pode, ainda, criar algumas exigências para o ingresso de cooperados, como por exemplo, estabelecer presença obrigatória em cursos de alfabetização e assistência social promovidos pela instituição.

Mais do que comercializadoras de materiais recicláveis, as cooperativas são centros de reabilitação social e promoção de cidadania, além de agentes de conservação do meio ambiente. São peça fundamental para o desenvolvimento sustentável das sociedades.



 
Referência: hsw.com.br
Autor: Celso Monteiro
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