Carreira / Emprego - Seu semblante revela o que você pensa
Certa vez uma jornalista me entrevistou para falar sobre a mentira. Ela
queria saber como seria possível identificar um mentiroso novo. Isso porque,
dizia ela, os velhos mentirosos, principalmente os que atuam na política, já são
muito conhecidos, mas os novos, não. Estão chegando agora para nos enganar.
Não titubeei na resposta: pela fisionomia. Sim, é pela fisionomia que as pessoas
normalmente se traem. Podem até interpretar muito bem a personagem, mas em algum
momento serão traídas pela fisionomia.
Nem sempre percebemos conscientemente o detalhe do jogo fisionômico, mas algo lá
no nosso inconsciente, como disse Freud, identificará essa mensagem do
inconsciente do outro.
A fisionomia possui duas funções muito importantes na comunicação - a
expressividade e a coerência. Deve ser expressiva para auxiliar na condução da
mensagem e na complementação das informações. E precisa ser coerente para que a
mensagem transmitida pelas palavras tenha respaldo e legitimidade na comunicação
do semblante.
Se você falar de tristeza, a sua fisionomia deverá demonstrar esse sentimento.
Tanto assim que, em algumas circunstâncias, você precisará interpretar sua
própria verdade, pois, ao falar de um sentimento, mesmo que esteja sentindo o
que está dizendo, a fisionomia deverá mostrar de forma expressiva essa mensagem.
Você sente, diz que sente e interpreta o que efetivamente sente.
Na minha dissertação de mestrado, publicada em livro pela Editora Saraiva, com o
título de "A influência da emoção do orador no processo de conquista dos
ouvintes", recorri à teoria de Wilhelm Reich na obra "Análise do caráter", para
falar da maneira como percebemos a emoção do outro:
'A linguagem humana atua, interfere na linguagem da face e do corpo. Por isso, a
expressão total de um organismo deve ser literalmente idêntica à impressão total
que o organismo provoca em nós'.
Essa expressão total, que caracteriza a coerência da comunicação, é confirmada
ou negada especialmente pela fisionomia. Por isso, procure sempre sentir o que
está dizendo e analise se a sua fisionomia está sendo coerente com esse
sentimento.
Fazendo parte da fisionomia, os olhos também são um excelente indicador da
coerência entre a mensagem transmitida com as palavras e o sentimento. Durante
uma apresentação, os olhos cumprem dois objetivos: o de receber o retorno,
analisando como os ouvintes reagem e se comportam diante da mensagem, e o de
valorizar a presença das pessoas no ambiente.
Se, ao olhar para a platéia, você perceber que as pessoas estão desatentas,
movimentando a cabeça de um lado para outro, distraídas com objetos ou com
qualquer outro sinal de desinteresse, talvez haja tempo de trazê-las de volta à
realidade e estimulá-las a continuar prestando atenção.
Você poderá, por exemplo, mudar o ritmo da fala, alterar a gesticulação, incluir
novas informações, leves e interessantes, e quem sabe até resgatar uma
apresentação praticamente perdida.
Se você não olhar para os ouvintes, não terá condições de saber se eles estão ou
não gostando, se estão acompanhando o desenvolvimento do seu raciocínio, se
estão interessados e assimilando a mensagem.
Quando você olha para a platéia, mesmo que não consiga ver cada um dos ouvintes,
as pessoas se sentem olhadas, prestigiadas, incluídas no ambiente. Por isso,
distribua a comunicação visual para todos os lados do auditório, olhando ora
para quem está sentado à esquerda, ora para quem está sentado à direita.
Há dois tipos de ouvintes que atrapalham muito a apresentação - aquele que se
mostra hostil, balançando negativamente a cabeça e fazendo caretas de
desaprovação, e o bonzinho, que está sempre concordando com o orador acenando
com o sim de aprovação.
Não caia nessa armadilha. Evite olhar a maior parte do tempo para o ouvinte
hostil com a intenção de fazê-lo mudar de opinião, e também não olhe muito para
o ouvinte bonzinho só porque sentiu o conforto do seu consentimento.
Nas duas situações estaria se escravizando a esses ouvintes e deixando de olhar
a platéia toda, correndo o risco de que os demais dispersassem a atenção.
A fisionomia, incluindo aí a comunicação visual, é um aspecto de importância
fundamental para o sucesso da arte de falar em público ou nas conversas do dia a
dia. Por isso, observe bem como tem usado o semblante na sua comunicação para
melhorar ainda mais o resultado de suas apresentações.
Referência:
economia.uol.com
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