Quem quer investir em ações não pode esquecer que o
mercado é um espelho que reflete as condições das empresas.
Companhias que estão crescendo, gerando lucros e pagando bons
dividendos tendem a ter preços atraentes para seus papéis.
O desafio para o investidor é conseguir comprar essas ações antes
que elas atinjam o chamado preço-alvo, que no jargão do mercado
significa o preço-limite de um papel, já embutida a valorização
tecnicamente esperada.
O mercado de ações sempre vai reagir aos indicadores
macroeconômicos, mas isso não significa que o comportamento da Bolsa
é ditado por esses indicadores. Muitas vezes, um evento em
determinado setor ou empresa pode refletir no comportamento de uma
ação em particular.
Se esta ação tiver um peso relevante no Ibovespa, por
exemplo, esse evento específico pode causar um impacto no índice.
Dessa forma, o comportamento do índice é fortemente influenciado por
uma particularidade do setor ou da empresa. Veja o exemplo da
Telebrás em 1996. Naquele ano, o PIB brasileiro registrou uma
queda, mas ainda assim o Ibovespa teve alta (veja no gráfico I).
Ibovespa X PIB - 1996
Fontes: Bovespa e Ministério do Desenvolvimento
Isso ocorreu porque o índice foi influenciado pelo comportamento das
ações da extinta Telebrás (a holding estatal de telefonia). O
lucro da Telebrás naquele ano saltou de US$ 400 milhões para US$ 3
bilhões, devido ao reajuste das tarifas telefônicas. A alta do lucro
fez o preço das ações da Telebrás dar um enorme salto e como o papel
representava mais de 50% do índice, o Ibovespa também registrou
alta, mesmo com o PIB em queda.
O mesmo movimento aparentemente contraditório
acontece em 2000 (ver Gráfico II). Neste período, o PIB brasileiro
estava em alta. Isto é, a economia em crescimento, as empresas
investindo, mas ainda assim o Ibovespa está em queda.
Em 1999, a Bolsa subiu 150%, sendo que 70% nos
últimos três meses do ano. O mercado enxergava positivamente a
desvalorização do real e a inflação não teve súbito
crescimento. O ótimo comportamento de 1999 refletiu em uma
desaceleração em 2000. Especialistas citam que este caso é o chamado
"dois em um". Um ano cresce tanto que no seguinte há um ajuste nos
preços.
Ibovespa X PIB - 2000
Fontes: Bovespa e Ministério do Desenvolvimento
Em 2002 (ver gráfico III), O PIB estava em alta como reflexo do bom
andamento da economia no último ano, enquanto o Ibovespa está em
baixa pela crise eleitoral. Já em 2003, o apresentava queda, pela
desaceleração que a crise da eleição e o primeiro ano de governo
Lula provocaram. Neste mesmo período a bolsa seguia em alta pelo bom
comportamento do preço das commodities, gerando bons resultados em
empresas como do setor siderúrgico e de papel e celulose.
Ibovespa X PIB - 2002
Fontes: Bovespa e Ministério do Desenvolvimento
Alta dos juros
A Bolsa tende a reagir com queda à alta
de juros. Isso ocorre porque a alta da taxa de juro pode
provocar uma retração no consumo que, por sua vez, vai
provocar uma queda no lucro das empresas.
O preço de uma ação reflete a
expectativa de lucro da empresa, assim, neste cenário,
os investidores tendem a vender seus papéis, fazendo com
que o preço da ação caia.
IBOVESPA X JUROS
Fontes: Bovespa e Bacen
Crescimento
da economia
O mercado de ações, em
geral, reage com alta ao crescimento da
economia. Sempre que há uma alta do Produto
Interno Bruto (PIB), que é a soma de todas
as riquezas produzidas no país e um dos
principais indicadores da atividade
econômica, o preço das ações tende a reagir
com alta.
Isso ocorre porque, ao
contrário do efeito das altas da taxa de
juros, o crescimento econômico tende a
provocar um aumento na receita e nos lucros
por ações dessas empresas, o que provoca uma
alta no preço dos papéis.
IBOVESPA X PIB
Fontes: Bovespa e
Ministério do Desenvolvimento
Alta do dólar
Não há uma correlação
determinada entre a alta do
dólar e o Ibovespa. A
reação do mercado a alta da
moeda americana pode variar
muito ao longo do tempo.
O que ocorre é um impacto
significativo em alguns grupos
de ações. As ações de empresas
das exportadoras, por exemplo,
reagem com alta, pois essas
empresas têm uma receita em
dólar e são favorecidas com uma
valorização da moeda americana.
Já as empresas que têm dívida em
dólar sofrem o efeito contrário.
Como suas obrigações são em
dólar, os lucros dessas empresas
é pressionado para baixo por
conta do aumento dos seus gatos
com o pagamento de dívida.
IBOVESPA X US$
Fontes: IPEA Data e Bovespa
Alta da inflação
O
mercado de ações
pode apresentar dois
movimentos distintos
como reflexos à alta
gradual da inflação.
Se a
economia começar a
apresentar altas
gradativas das taxas
de inflação, a
tendência é de que o
mercado apresente
uma queda. Isso
ocorre porque os
investidores vão
esperar que o
governo responda a
alta gradual da
inflação
promovendo uma alta
nas taxas de juro.
No
entanto, se a
economia passar por
uma onda explosiva
de inflação, com os
índices totalmente
fora de controle, a
tendência é de que o
preço das ações
tenha uma alta. Isso
porque a ação
representa uma
fração de uma
empresa, ou seja, um
ativo real, e assim
tende a ser uma boa
proteção contra a
inflação.
IBOVESPA X
IGPM
Fontes: IPEA Data e
Bovespa
Crises
internacionais
O
mercado
de ações
tende a
reagir
com uma
forte
queda às
crises
internacionais.
Isso
ocorre
porque o
Brasil
ainda é
muito
dependente
do
capital
estrangeiro
para
financiar
seus
investimentos.
Como o
Brasil é
um país
emergente,
com as
crises
externas,
o
investidor
internacional
tende a
se
retrair
e
procurar
alternativas
mais
seguras,
como as
aplicações
em
títulos
do
Tesouro
dos
Estados
Unidos,
considerados
os mais
seguros
do
mundo.
Crises brasileiras
As crises brasileiras do passado recente mostram que
algumas oportunidades se potencializam em momentos de maior
nervosismo do mercado. Veja, por exemplo, o que aconteceu com quem
se atreveu a comprar ações num dos períodos mais críticos, em
janeiro de 1999, quando o governo foi obrigado a pôr fim à âncora
cambial com que segurava a inflação.
Um ano depois da crise, o ganho acumulado pelas
ações que compõem o índice da Bolsa de São Paulo, o Ibovespa,
foi de 100,6%. Muito mais do que rendeu no mesmo período o CDI (a
taxa de juro interbancária), 24,2%, e também mais do que o próprio
dólar americano, -9,1%.
Tome um outro momento de crise, setembro de 1998,
quando a Rússia ficou inadimplente e também derrubou o preço das
ações. Quem entrou na bolsa de valores naquele período obteve um
ganho generoso um ano depois. O Ibovespa acumulou uma valorização de
68,5% nesse período, enquanto o dólar teve um ganho de 62,1% e o CDI,
de 29,6%.