Jurandir Sell Macedo Junior é investidor há 22 anos. Período em que fez
centenas, milhares de apostas. Algumas guiadas pela razão e outras nem tanto. A
emoção, o impulso e o automatismo, reconhece, já lhe pregaram peças várias
vezes.
Discursando no primeiro dia da ExpoMoney SP, Jurandir foi um parênteses entre
linhas de tendência, bandas de Bollinger e múltiplos fundamentalistas. O
professor da Universidade Federal de Santa Catarina falou sobre finanças
comportamentais.
O tema é considerado de vanguarda dentro da teoria econômica. Desafia premissas
canônicas de que o indivíduo é sempre racional e maximiza sua utilidade de forma
deliberada.
Ao questionar o homo economicus, as finanças comportamentais baseiam-se na
psicologia cognitiva, investigando "como as pessoas realmente tomam suas
decisões", esclarece Jurandir.
Além da razão
Citando o modelo desenvolvido pelos psicólogos Amos Tversky e Daniel
Kahneman, o professor admite que os humanos tomam decisões racionais, mas
ressalva que elas concorrem continuamente com "atalhos mentais ou regras
baseadas na experiência".
Tais conceitos ilustram por que um motorista com prática não precisa pensar para
mudar marchas. Ou por que uma família cujo avô perdeu tudo com ações vê a renda
variável como uma grande armadilha.
São as ordens automáticas, empíricas e emocionais do cérebro humano que resultam
em erros de julgamento. Aqui está um dos principais conceitos das finanças
comportamentais: as ilusões cognitivas.
Compreendendo o conceito
Ilusões cognitivas funcionam mais ou menos como ilusões de ótica.
"Compreendê-las é relativamente fácil", afirma Jurandir, "mas eliminá-las é bem
difícil".
Por meio da didática do professor, o entendimento comprova-se sem problemas,
natural na verdade. É um simples reconhecimento de situações comuns a qualquer
pessoa, a qualquer investidor.
Sobram exemplos. "Liquidar ações cujo preço dispara e esquecer daquelas com
perdas é um caso clássico". Outro está em manter a crença em um ativo, mesmo
quando todos os dados estão questionando seu potencial de ganhos.
Quando Jurandir fala das pessoas que "se dispõem a investir somas enormes para
salvar um investimento mal sucedido", a platéia ri, talvez da própria culpa.
Demasiado humano
Cientes dos desvios teorizados pelas finanças comportamentais, os
investidores ganham referências para se prevenir contra condutas impensadas, que
lhes levarão a prejuízos.
A consciência do problema certamente ajuda. Mas não é o bastante para
resolvê-lo. Um dos principais especialistas brasileiros no tema, o professor
Jurandir Sell Macedo Junior é também investidor e, sobretudo, humano. Ele
aprendeu a desmistificar algumas ilusões. Mesmo assim, a emoção, o impulso e o
automatismo já lhe pregaram peças várias vezes.
Ao contrário do que possam dizer os críticos, essa capacidade limitada das
finanças pessoais só valoriza seu campo de estudos. Confirma que a razão
científica é insuficiente para responder questões demasiado humanas.