Se as pessoas mudam com a idade,
também mudam suas necessidades financeiras. Quando analisada do ponto de vista
financeiro, a vida de cada indivíduo pode ser dividida em fases, onde as
necessidades e os objetivos são diferentes, mudando gradualmente ao longo do
tempo.
Um exemplo é o padrão de receitas e despesas. Existem fases em nossa vida, por
exemplo, quando as
despesas aumentam bastante: quem tem filhos sabe exatamente o que isso
significa para o orçamento. Também as receitas variam, pois saímos de uma
situação de salários mais baixos no início da carreira para uma situação muito
melhor na meia idade, quando a maioria atinge seu apogeu profissional.
No entanto, não somente as receitas e as despesas mudam ao longo do tempo.
Também a necessidade de poupança vai se alterando, permitindo que alguns
períodos de nossa vida possam ser ideais para acumulação de uma
reserva financeira. Outros, por sua vez, são aqueles onde precisamos usar
recursos poupados anteriormente para manter nosso padrão de vida.
Segmentando as receitas
Vale a pena analisar inicialmente o ciclo de receitas, buscando dividir as
receitas em dois grupos: receitas de trabalho e outras receitas. As receitas de
trabalho são aquelas obtidas de atividade profissional, incluindo salário,
benefícios, 13º, bônus e outros.
Já as outras receitas surgem como resultado da posse de ativos, sejam eles
financeiros ou não. Como exemplos aparecem juros de investimentos em renda fixa,
dividendos em aplicações em ações, aluguéis de imóveis residenciais ou
comerciais e qualquer outra receita que seja derivada de algum ativo.
O ciclo das receitas
De forma geral, a partir do momento onde as pessoas deixam de depender de seus
pais, ou seja, atingem um grau de independência financeira, as receitas de
trabalho são as mais importantes. O raciocínio é simples: você ainda não
conseguiu construir um patrimônio que gere renda.
Esta renda de trabalho tende a subir ao longo do tempo até o momento da
aposentadoria, refletindo o crescimento profissional. Portanto, é uma curva
crescente até o final da carreira profissional, quando cai de forma
significativa para um nível mais baixo, que corresponde ao recebimento dos
benefícios de aposentadoria.
Já o crescimento das outras receitas varia bastante. Em geral, as pessoas
começam acumular patrimônio a partir dos 30 anos, o que acaba gerando mais
recursos que, adicionados às receitas do trabalho, correspondem às receitas
totais. O ideal é que as outras receitas cresçam ao longo do tempo, evidenciando
um crescimento do patrimônio.
O gráfico abaixo ilustra melhor o ciclo de receitas.
Ciclo das despesas
As despesas, por sua vez, têm um ciclo mais previsível. Elas tendem a crescer
rapidamente a partir dos 25 anos, atingindo um patamar mais elevado na meia
idade, quando se combinam um padrão de vida mais elevado com a manutenção das
despesas com filhos.
Uma queda mais significativa é verificada somente quando da independência
econômica dos filhos. Isso não significa, porém, que o nível de despesas volta
aos níveis registrados anteriormente, já que as pessoas adquirem um padrão de
vida mais elevado e não querem reduzi-lo antes da aposentadoria.
Comparando os ciclos
Quem analisou em detalhe o gráfico acima percebeu que a renda após a
aposentadoria pode ser bem diferente de pessoa para pessoa, dependendo
principalmente de uma variável: as outras receitas. Como outras receitas
aparecem como uma conseqüência direta do patrimônio acumulado, quem não
conseguiu poupar pode estar em situação complicada.
Quem não acumulou um patrimônio terá poucas receitas extras, normalmente tendo
que depender dos benefícios da aposentadoria para viver. Já quem conseguiu
acumular um patrimônio pode complementar sua renda mensal com juros, aluguéis,
dividendos ou outros. Ter uma reserva ou não faz toda a diferença no momento em
que as receitas de trabalho caírem, ou seja, na aposentadoria.
Sem um patrimônio, é a renda que você irá receber na aposentadoria que
determinará o quando você poderá gastar: é fácil entender porque é fundamental
construir uma reserva. Quem conseguir compensar a perda de receitas de trabalho
por outras receitas irá conseguir manter o seu padrão de vida. Já quem não
conseguiu terá duas opções: ter uma forte queda no padrão de vida ou adiar a
aposentadoria, buscando renda para manter se padrão de vida.
Comece enquanto ainda é tempo
Analisar de perto o ciclo financeiro da vida pode trazer várias lições. A
principal é que, a não ser que você queira passar sua terceira idade trabalhando
ou dependendo de favores dos outros, é absolutamente necessário criar uma
reserva, ou seja, acumular um patrimônio que gere renda no futuro. Isso somente
é possível através da poupança.
Pouca gente percebe, mas a expectativa média de vida das pessoas tem aumentado
de forma significativa nas últimas décadas. A expectativa média de sobrevida de
um homem de 35 anos ano Brasil, segundo dados do IBGE de 2004, era de 38,4 anos,
ou seja na média, a expectativa é que os homens desta idade alcancem 73,4 anos.
Para as mulheres na mesma faixa etária, a expectativa é maior: 44,7 anos de
sobrevida, ou 79,7 anos de idade.
Os números, portanto, mostram que você deverá viver bastante. Porém, para que as
últimas décadas de sua vida não sejam marcadas por dificuldades, você deve
começar a se preparar o mais rapidamente possível. Poupar e construir uma
reserva financeira não é um luxo ou capricho, mas a única garantia para manter
um bom padrão de vida no futuro.