Investimentos / Fundos - Renda fixa: como o investidor pode perder dinheiro com juros mais altos
Um dos erros mais comuns de quem
investe em renda fixa é acreditar que um aumento na taxa de juro fará com que
seu investimento renda mais. Embora isso possa ocorrer em aplicações
pós-fixadas, no caso de quem investe em papéis pré-fixados é exatamente o oposto
que ocorre: juros mais altos podem levar a perdas.
No caso dos pós-fixados, o raciocínio é simples: para um investidor que aplica,
por exemplo, em uma LFT (Letra Financeira do Tesouro) - que é corrigida pela
variação da Selic - o efeito de um aumento nos juros é positivo. Como a
aplicação é corrigida pela taxa básica de juro da economia, quanto maior a
Selic, maior o retorno.
Já quem aplica em títulos pré-fixados e resolve vendê-los antes do vencimento
pode passar por uma situação inversa: quanto maior a taxa de juro, maior pode
ser a perda. Vale a pena entender o porquê.
Tipo de título e momento de resgate
Isso ocorre pois existe uma relação inversa entre o preço de um título de renda
fixa e a taxa de juro. Antes de detalhar esta relação, vale a pena entender em
que situações ela afeta o investidor, já que isso varia de acordo com o tipo de
título e o prazo de aplicação. Como descrito acima, títulos pós-fixados reagem
de forma diferente, de modo que a análise fica focada nos papéis pré-fixados.
O momento da venda do título também faz a diferença. Caso o investidor espere o
vencimento, ele não será afetado pelas variações na taxa de juro. Isso ocorre
porque o valor que ele receberá no vencimento já é pré-determinado, não
dependendo das condições de mercado.
Como exemplo, imagine um investidor que comprou, a 100% do valor de face, um
título pré-fixado que paga cupom anual de 12%. No momento do resgate, ele
receberá o valor investido de volta, de forma que o resgate será equivalente a
100% do investido mais juros, ou seja, 112% do inicialmente aplicado, resultando
em um retorno de 12%.
Relação entre taxa de juro e preço do título
Porém, quando um investidor não vende o título no seu vencimento, o preço que
será obtido pelo papel não é conhecido por antecedência. Nestas condições, o
preço de venda será determinado pelo mercado, com o investidor correndo risco de
ganhar ou perder dinheiro.
E o que acontece com o preço de um título quando sobe a taxa de juro? Para
entender a relação inversa que existe entre preço e taxa de juro, nada melhor
que um exemplo prático. Vamos partir do exemplo anterior, com um título público
que rende 12% ao ano. Imagine agora que, dez dias após a compra do título, um
evento desfavorável movimente o mercado.
Este evento levou a um aumento na percepção de risco do governo, de forma que os
investidores acreditam agora que é mais arriscado investir nestes títulos do que
era 10 dias atrás. Para compensar este risco maior, o mercado demanda agora uma
taxa de juro mais elevada, já que, quanto maior o risco, maior a taxa demandada
pelo mercado.
Em vez dos 12% ao ano demandados anteriormente, agora o mercado acredita que o
nível de taxa que compensa o risco mais alto é 15%. Ou seja, qualquer novo
título de um ano será agora emitido pagando juro de 15% ao ano.
Queda no preço dos títulos
Porém, o que acontece com os títulos que já foram emitidos e que estão agora
sendo negociados no mercado secundário? Se você pudesse optar entre um título de
365 dias que paga 15% ou um de 355 dias que paga 12%, qual escolheria? A
resposta é simples: você e todo o resto do mercado escolheriam o que paga mais.
Porém, esta não é uma situação sustentável, já que títulos de prazo tão próximo
não podem ser negociados em um mercado eficiente com taxas tão diferentes.
Portanto, a taxa do primeiro título, aquele emitido com cupom de 12%, tem que
mudar, refletindo a nova percepção de risco do mercado.
E a variável que muda é o preço, já que os outros componentes (preço de compra e
cupom), já foram definidos. Em vez de valer 100% do valor de face, o título
agora tem que valer menos. A conta é simples: para que este papel também renda
15%, o preço tem que cair, de forma que um novo investidor possa obter os 12% de
juros mais cerca de 3% em ganho de capital para que a rentabilidade atinja 15%
ao ano.
Assim, o preço do título tem que cair para cerca de 97% do valor de face, para
que o novo investidor obtenha um ganho de capital de 3% (100% do valor no
vencimento menos os 97% do valor de face na compra). Portanto, quem estava de
posse do título e decide vender, somente encontrará compradores neste preço.
Princípio básico da renda fixa
A relação inversa entre a taxa de juro e o preço de um título é um dos
princípios básicos da renda fixa. Ela serve para explicar por que, ao contrário
do que muita gente pensa, é possível perder dinheiro em renda fixa, mesmo em
casos em que o emissor do título honra suas obrigações no vencimento.
Vale sempre lembrar que a relação funciona também quando as taxas de juros estão
em queda, de forma que, neste cenário, o investidor pode ganhar mais do que
esperava inicialmente. Taxas em queda implicam em preços mais altos, o que
permite que o investidor obtenha, além da remuneração com juros, um ganho de
capital.
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