Dia das crianças e gastos caminham juntos, pois enquanto as crianças escolhem
os brinquedos, às vezes um pouco caros, os pais se preocupam em como agradar os
filhos sem comprometer o orçamento. Porém, o que muitos pais não sabem, é que se
trata de um dos melhores momentos para ensinar educação financeira para os
filhos.
De acordo com o educador financeiro e sócio-fundador da Mais Ativos, Álvaro
Modernell, a melhor maneira de ensinar educação financeira para os filhos é
utilizar o dia a dia, sem tentar puxar a criança para o mundo dos adultos.
“Aproveitar o interesse do filho, como comprar brinquedos, pode colaborar
bastante. Os pais devem estabelecer uma faixa de preços e estimular que os
filhos escolham o que couber naquele orçamento, mostrando que existe um limite”,
explica.
Segundo o educador financeiro e autor do Quero Ficar Rico, Rafael Seabra,
após os cinco anos de idade, a criança começa a ter um entendimento melhor sobre
o que é o dinheiro e para que ele serve. “Após esta idade, eles são capazes de
entender a função de troca do dinheiro, principalmente quando veem os pais
comprando coisas”, afirma.
Para Modernell, os pais devem fazer com que as crianças entendam o preço de
cada brinquedo que desejam ter. No caso dos brinquedos movidos à pilha, o custo
delas também deve ser incluído na conta, pois trata-se de um item fundamental
para o funcionamento do brinquedo. “É importante que os filhos estejam junto na
hora de comprar, pois na hora do pagamento os pais podem negociar descontos e
fazer com que a criança se sinta estimulada a fazer o mesmo”, aconselha.
Falando de dinheiro
Segundo Modernell, as crianças gostam de brincar, por isso, “o lúdico é
fundamental, além disso, as crianças gostam da atenção dos pais”, completa,
explicando que ao ter maior atenção dos pais, os filhos se interessam mais pelo
tema.
Jogos com o tema financeiro, que simulam gastos, podem ensinar as crianças a
lidar com o dinheiro, além disso, pode ser uma maneira de unir ainda mais pais e
filhos. “Livros também podem ser úteis, já que alguns pais têm dificuldades em
abordar os filhos para falar de dinheiro”, explica Modernell.
De acordo com Modernell, cada idade exige uma profundidade diferente na
abordagem. “Crianças precisam de uma abordagem mais superficial, e os pais devem
esperar e responder de acordo com a chegada das dúvidas, já com os
pré-adolescentes, os pais podem abordar o tema dinheiro de forma mais direta e
explicando cada detalhe”, explica.
Para Seabra, até os 12 anos as crianças não têm noção do valor financeiro das
coisas. “Quando ouvem os pais dizendo que uma coisa está cara ou barata, eles
interpretam simplesmente como 'nós temos ou não dinheiro suficiente para fazer
esta compra?'”, completa.
Segundo Seabra, alguns temas devem ser evitados. “Converse com a criança
sobre a situação financeira da família. Além disso, envolvê-los no planejamento
de férias ou coisas do tipo é uma atitude bastante saudável. Porém, envolver os
filhos em discussões quando se está no vermelho é terminantemente proibido”,
afirma.
Bom x mau exemplo
Certamente os pais são os espelhos dos filhos, por isso, todo exemplo dado
em casa faz a diferença, seja ele bom ou não. “Bons exemplos são fundamentais.
Esta é a principal dica. Por exercer um papel fundamental no processo de
educação financeira dos filhos, os pais precisam estar sempre se policiando”,
explica Seabra.
Segundo Seabra, se os pais forem consumistas, a chance dos filhos também
serem é grande. “Os filhos certamente seguirão muitos comportamentos dos pais,
então é necessário que eles estejam atentos também à própria educação
financeira”, alerta.
De acordo com Modernell, as crianças sempre observam os pais, e copiam ou
repudiam determinados comportamentos. Segundo ele, se os pais brigam muito na
frente dos filhos por causa de dinheiro, a criança poderá se tornar mesquinha,
pois entende que gastar não é uma coisa boa. “Já os pais que são controladores
demais poderão criar filhos gastões, pois um dia essa criança vai crescer e
querer extravasar tudo que foi reprimido”, completa.
Descontrolados
Segundo Modernell, pais que estão com problemas para colocar as contas em
dia e vivem em situação de descontrole financeiro devem, antes de tudo, mudar
seus hábitos.
Para Seabra, os pais devem se educar, para então poder educar. “Dificilmente
pais que não têm educação financeira conseguirão ensinar esse tema aos filhos. A
própria mudança de comportamento, por conta da educação financeira,
automaticamente ensinará lições aos filhos, já que eles aprendem sobretudo pelos
exemplos dos pais”, explica.
De acordo com Modernell, os pais também devem observar os filhos e aprender
com eles. “Se a criança passa a ter comportamentos corretos em relação ao
dinheiro, os pais devem incorporar esses hábitos no dia a dia”, afirma.
Dinheiro no bolso
A mesada também pode ser usada para ensinar as crianças a controlar o
dinheiro, mas de nada adianta se não houver orientação. “A mesada é um excelente
instrumento de educação financeira. Mas não basta dar dinheiro, tem que ensinar
os hábitos corretos, dizer o que pode ou não. Os pais devem sempre orientar”,
explica Modernell.
Seabra também concorda que a mesada seja importante na educação financeira
das crianças, desde que usada com cautela. “O recebimento da mesada não deve ser
condicionado a um bom desempenho escolar, ou às tarefas domésticas. Essas coisas
são naturalmente deveres da criança”, afirma.
De acordo com Seabra, os pais podem combinar aumentos, sem a necessidade de
condicioná-lo. “É possível combinar um aumento de acordo com a idade, ou com
algum outro critério, desde que não gere pressão sobre a educação da criança”,
completa.